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Campos Neto diz que Brasil tem processo de desinflação abrupto

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que a inflação cheia está caindo bastante no mundo, mas as taxas de juros tendem a se manter altas por mais tempo.

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07 de novembro de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto diz que Brasil tem processo de desinflação abrupto
O Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que a inflação cheia está caindo bastante no mundo, mas as taxas de juros tendem a se manter altas por mais tempo. Em países avançados, destacou, a Inglaterra está com queda menos acentuada. Nos países emergentes, o Brasil está com processo de desinflação “abrupto”.

“Existia um certo nível de convicção sobre a desinflação global”, disse Campos Neto logo no início de seu discurso. Ele ressaltou que existem desafios para essa desinflação, o que significa que as taxas de juros internacionais podem ficar mais altas por mais tempo.

Em diversos países os núcleos se encontram em patamares superiores às metas, o que reforça a visão de juro alto por mais tempo, reforçou o presidente do BC. “Vemos núcleos na inflação global caindo, mas ainda em níveis elevados.”

Campos Neto disse que o cenário global de inflação desacelerou um pouco, e ainda precisa ser monitorado de perto. Esse processo tende a ser lento e tem muitos desafios.

Havia uma tese de que a desinflação da economia mundial iria ser empurrada por diversos, mas esse movimento tem se mostrado desafiador, afirmou Campos Neto. No mercado imobiliário, por exemplo, os preços dos imóveis voltaram a subir na economia mundial. “Não parece que a desinflação virá daí.”

“Provavelmente vamos ter taxas de juros mais altas (no mundo) por mais tempo”, disse o presidente do BC. Campos Neto falou também da reorganização das cadeias mundiais, e de fenômenos como o “nearshoring”, em que países desenvolvidos tendem a fazer mais comércio com vizinhos politicamente alinhados. “México e Vietnã são países beneficiados pela fragmentação das cadeias. O Brasil é candidato.”

O presidente do Banco Central disse ainda que é apropriado o ritmo de cortes de 0,5 ponto porcentual (pp) da Selic nas próximas reuniões, como sinalizou o Comitê de Política Monetária (Copom). Ele salientou ainda que o Copom tem visibilidade para as próximas duas reuniões.

Nesse tempo, emendou, será possível avaliar o desenrolar do cenário global, como a desaceleração ou não da economia dos Estados Unidos no ritmo esperado e impactos da perda de tração da China no Brasil.

Será também monitorado o andamento de agendas importantes no Congresso, em especial o pacote tributário encaminhado ao Legislativo para equilibrar as finanças públicas.

Por enquanto, Campos Neto avalia que o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos segue favorável, contribuindo para um desempenho do câmbio relativamente estável na comparação com outros mercados emergentes.

Ele ponderou, porém, que se o prêmio de risco fiscal aumentar no Brasil, em paralelo à elevação do prêmio de risco nas curvas de juros dos países desenvolvidos, a situação afetará, embora não mecanicamente, o processo de decisão do Copom.

O presidente do Banco Central disse que o pior cenário para os países emergentes será se o prêmio fiscal ganhar importância na estrutura dos juros dos Estados Unidos. “É um cenário onde o prêmio de risco do mundo desenvolvido começa a afetar o prêmio de risco do mundo emergente.” Se, ao mesmo tempo, houver piora fiscal no Brasil, o cenário pode ficar mais complicado, alertou Campos Neto.

Ele disse que os juros podem não subir mais na economia dos Estados Unidos, como parte do mercado espera. Ele destacou ainda que a dúvida é por quanto tempo as taxas vão ficar altas lá, bem como qual será o formato da curva de juros.

Segundo Campos Neto, olhando para trajetória da dívida dos Estados Unidos, bem como para o seu custo de rolagem, é possível dizer que o maior estrangulamento de liquidez global persistirá por pelo menos um ano e meio.

O presidente do Banco Central disse que os participantes do mercado não esperam déficit zero nas contas públicas primárias em 2024, mas é importante que o governo persiga essa meta fiscal Segundo ele, um afrouxamento da meta pioraria as expectativas para as contas públicas a partir de 2025, gerando assim um maior prêmio de risco.

Campos Neto manifestou que apoia o esforço do Ministério da Fazenda em reforçar “o máximo possível” a intenção de cumprir a meta.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o governo dificilmente vai conseguir cumprir a meta de déficit zero em 2024, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem dado declarações de que a intenção é cumpri-la.

O presidente do Banco Central disse que o Brasil diminuiu o diferencial com os juros dos Estados Unidos, mas a diferença ainda é alta. Por isso, esse fator não “limita muito nosso espaço” para a política monetária no Brasil.

“Temos expectativa de inflação que ainda é bastante alta frente à meta”, disse, ao começar a falar da economia brasileira em sua apresentação, que teve início com uma análise do cenário internacional. “O Brasil tem feito um bom trabalho na comparação com os pares emergentes. Tem um arcabouço fiscal, tem feito reformas”, disse Campos Neto em evento do Bradesco.

Ele afirmou que o consumo no Brasil está “bastante resiliente”, mesmo com recuperação de renda ainda baixa. “Temos visto uma desaceleração no crédito”, disse ele, citando que este cenário é compatível com convergência da inflação para a meta de inflação.