Economia
Cenário global incerto

Copom vê necessidade de manter política contracionista

Conforme o Copom, a extensão do ciclo ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária

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07 de novembro de 2023
Vinicius Palermo
Copom vê necessidade de manter política contracionista
Prédio do Banco Central em Brasília

A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada na terça-feira, 7, trouxe que o cenário global incerto foi tema de debate entre os membros sobre a extensão do ciclo de ajustes na política monetária. “O Comitê percebe a necessidade de se manter uma política monetária ainda contracionista pelo horizonte relevante para que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem das expectativas”, informou o documento.

Conforme o Copom, a extensão do ciclo ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos. “O Comitê mantém seu firme compromisso com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e reforça que a extensão do ciclo refletirá o mandato legal do Banco Central”, reforçou.

No parágrafo 23, a ata explica que o comitê analisou vários cenários prospectivos, caracterizados por diferentes trajetórias nos ambientes doméstico e internacional. Nesse momento do encontro de outubro, segundo o documento, debateu-se então a estratégia e a extensão de ciclo apropriados em cada um desses cenários. “Optou-se por manter a comunicação recente, que já embute a condicionalidade apropriada em um ambiente incerto, especificando o curso de ação caso se confirme o cenário esperado”, pontuou.

Com relação aos próximos passos, os membros do comitê informaram que concordaram de forma unânime com a expectativa de cortes de 0,50 ponto porcentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. “Tal ritmo conjuga, de um lado, o firme compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária e, de outro, o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência.”

A ata do último encontro do Copom do Banco Central indicou que a projeção para o IPCA de 2024, horizonte prioritário do BC para o cumprimento da meta de inflação, está em 3,6% no cenário de referência. A estimativa, que já havia sido informada no comunicado da semana passada, é levemente superior aos 3,5% estimados no Copom anterior, em setembro, e segue acima do centro da meta de 3,0%.

Para 2025, que tem peso minoritário nas decisões de política monetária, a projeção é de 3,2% – um pouco acima do alvo central de 3,0% para o ano -, contra 3,1% em setembro. Para 2023, a expectativa do BC no cenário de referência é de 4,7%, bem mais baixa do que a projeção do Copom anterior (5,0%), ficando abaixo do teto da meta de 4,75%, e evitando o terceiro ano consecutivo de rompimento do objetivo principal do BC.

Todas as projeções já constavam no comunicado da semana passada, quando o Copom continuou o ciclo de corte da Selic (a taxa básica de juros) com queda de 0,50 ponto porcentual, de 12,75% para 12,25% ao ano.

Em relação aos preços administrados, a ata repetiu as projeções já informadas no comunicado de 9,3% para 2023, 5,0% para 2024 e 3,6% para 2025. Em agosto, as projeções eram de 10,5%, 4,5% e 3,6%, respectivamente.

O cenário de referência pressupõe a taxa de juros variando de acordo com a pesquisa Focus e o câmbio partindo de R$ 5,00 (arredondado no documento, conforme explicação do Copom) e evoluindo conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC). Além disso, a premissa é de que o barril de petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado pelos próximos seis meses e sobe a 2% ao ano na sequência. O BC ainda considera a hipótese de bandeira tarifária “verde” na conta de luz para o fim de 2023, de 2024 e de 2025.

No comunicado e na ata, o Copom indicou que deve manter o mesmo ritmo de corte de juros nas próximas reuniões. “Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.”

O colegiado mais uma vez não determinou a duração do ciclo de afrouxamento dos juros básicos e repetiu que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução de alguns elementos. São eles: “a evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.