Economia
Serviços

Galípolo afirma que inflação se mostra mais resiliente do que o previsto

Galípolo lembrou que os juros futuros começaram a cair antes mesmo do ciclo de cortes da Selic, em decorrência tanto das medidas anunciadas no primeiro semestre

Compartilhe:
05 de outubro de 2023
Vinicius Palermo
Galípolo afirma que inflação se mostra mais resiliente do que o previsto
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, apresentou na quinta-feira, 5, durante fórum em São Paulo, um cenário no Brasil que se repete em outras economias do mundo, no qual tanto a atividade econômica quanto a inflação exibem resiliência.

Após falar das preocupações iniciais no mercado sobre a condução das pautas econômicas pelo governo, Galípolo lembrou que os juros futuros começaram a cair antes mesmo do ciclo de cortes da Selic, em decorrência tanto das medidas anunciadas no primeiro semestre, como o novo marco fiscal e a manutenção da meta de inflação, quanto de um cenário mais benigno da inflação doméstica.

Apesar disso, ele ponderou que a inflação se mostra mais persistente e resiliente do que era esperado inicialmente. Ele citou, em especial, a resiliência de indicadores como serviços subjacentes.

Durante fórum sobre fundos imobiliários realizado, em São Paulo, pelo GRI Club, Galípolo comentou que os economistas estão revendo variáveis não observáveis, como o hiato do produto, a taxa de juros neutra e o PIB potencial, na tentativa de entender as surpresas positivas com a atividade, que cresce acima do inicialmente previsto, e da inflação, cuja queda é maior do que se esperava.

Ele citou previsões de crescimento entre 2,8% e 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e a volta das captações de fundos, chamando a atenção para a notícia, publicada na quarta-feira sobre a fila nas corretoras para colocação de ofertas.

Ao elencar as possíveis explicações às surpresas tanto de PIB quanto de inflação, o diretor de política monetária do BC apontou o impulso da supersafra, assim como a leitura de que as reformas realizadas nos últimos anos podem ter elevado o PIB potencial.

Galípolo observou que vários países em situação similar – com o mercado de trabalho aquecido e a inflação cedendo, embora com resiliência – estão buscando explicações mais domésticas para resultados parecidos com os do Brasil.

O diretor de Política Monetária do Banco Central, ao explicar o porquê de a autarquia permanecer seguindo a meta de inflação de 3% para o ano que vem mesmo com todos os eventuais pontos contrários a essa decisão, como o elevado índice de indexação da economia brasileira, que contribui para o possível não cumprimento da meta, disse que enfrentar a indexação é uma agenda que deve ser considerada. Para ele, dado que entre economistas algo raro é se chegar a consensos, vale ressaltar que o enfrentamento da indexação da economia brasileira é um dos poucos temas que reúne em consenso estes profissionais.

“A agenda da indexação é um dos casos raros que se consegue um grau de consenso entre os economistas que é enfrentar o nível de indexação da economia brasileira. Este é um tema amplamente abordado na literatura e uma agenda que vale a pena ser colocada e debatida”, disse.
Sobre a meta, Galipolo disse que, na função atual, ele não discute a meta, apenas cumpre o que foi determinado ao BC perseguir e que a autoridade monetária vai continuar perseguindo a meta de inflação de 3%.

O diretor de Política Monetária disse ainda que as reservas internacionais robustas, o crescimento da economia e a trajetória mais benigna da inflação colocam o Brasil em posição privilegiada frente ao impacto da alta dos juros norte-americanos. Ele reconheceu, porém, que a remuneração mais alta dos títulos dos Estados Unidos, citando yields de 5% ao ano, não costuma ser um cenário tranquilo a países emergentes.

Galípolo atribuiu à elevação dos Treasuries, como são chamados os títulos emitidos pelo Tesouro dos Estados Unidos, e as previsões mais pessimistas do mercado, que apontam uma taxa de 10,5% para a Selic ao fim do ciclo de flexibilização monetária. “O que a gente escuta lá fora é: vocês fizeram a lição de casa, estão performando melhor do que seus pares, mas o diferencial de juros está estreitando. E, sendo o Brasil um país de carry trade, operação que visa ganhos com base na diferença entre as taxas, começa a discussão sobre o estreitamento do diferencial.”

Durante fórum sobre fundos imobiliários, realizado em São Paulo pelo GRI Club, Galípolo destacou as surpresas positivas da inflação, mas reconheceu que o BC ainda tem a “última milha” para reancorar as expectativas de inflação na meta central de 3% nos próximos anos. Hoje, as expectativas para 2025 adiante estão em 3,5%.

Ao elencar as explicações possíveis para a elevação e volatilidade dos Treasuries, o diretor de política monetária do BC citou a possibilidade de o Japão ter deixado de comprar os títulos americanos – hoje, uma explicação mais frágil -, a venda de reservas em dólares por países como a China, e a reversão da expansão monetária quantitativa nos Estados Unidos.

Ele também lembrou da necessidade de financiamento dos Estados Unidos – US$ 200 bilhões por mês -, o que leva o Tesouro do país a emitir mais títulos, pressionando as taxas para cima. Galípolo disse não perceber um risco de default na maior economia do mundo – ou seja, um calote da dívida -, mas, sim, uma maior pressão fiscal pela maior necessidade de financiamento.

Em paralelo à resiliência da atividade econômica nos Estados Unidos, a situação pode exigir que o Federal Reserve, o banco central do país, mantenha os juros em patamar alto por mais tempo, pontuou Galípolo.