Economia
Situação fiscal

Ministro admite que não saberia o que fazer, se o corte dos juros não viesse

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na segunda-feira, 14 que não sabe o que o governo faria se não houvesse o corte de 0,50 ponto porcentual na Selic em agosto.

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14 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Ministro admite que não saberia o que fazer, se o corte dos juros não viesse
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na segunda-feira, 14 que não sabe o que o governo faria se não houvesse o corte de 0,50 ponto porcentual na Selic em agosto.

“Se não viesse o corte de agosto, eu não sei o que nós iríamos fazer”, disse Haddad, mencionando reformas propostas pelo governo e uma preocupação com a situação fiscal do País.

Segundo Haddad, a demora no corte de juros surpreendeu e causou angústia no governo, que avaliava já haver razões para essa redução e que não era possível se iludir com o bom resultado do PIB no primeiro trimestre, que havia sido puxado pelo agronegócio.

“Veio a desaceleração e não veio o corte de juros. Esse período de abril, maio, julho foi o momento de maior tensão com o Banco Central”, afirmou o ministro da Fazenda.

Haddad disse também que a equipe do Ministério do Planejamento está fazendo um bom trabalho para analisar a eficiência das políticas públicas. Ele citou o trabalho desenvolvido por Sergio Firpo, secretário de monitoramento e avaliação de políticas públicas no Planejamento, que está fazendo um pente-fino nas grandes unidades de custo para saber o que está acontecendo em grandes programas, como o Bolsa Família, ou mesmo na Previdência.

Ele afirmou que os cadastros foram desorganizados no governo anterior e agora é o momento de botar ordem. “Há muito espaço e não vou te falar que é corte de gasto, é combate à fraude, ao desperdício, coisas óbvias para ser resolvidas”, disse.

O ministro ainda criticou economistas clássicos, que só veem as planilhas de custos, sem enxergar a equação política.

Haddad disse também que o País vive uma situação estranha em um tipo de parlamentarismo sem primeiro-ministro. “A gente saiu do presidencialismo de coalizão e hoje vive uma coisa estranhíssima, que é um parlamentarismo sem primeiro-ministro. Não tem primeiro-ministro, ninguém vai cair, quem vai pagar o pato político é o Executivo”, comentou.

Ele também pontuou que o volume de recursos do Orçamento em emendas parlamentares é muito elevado. “Eu não sei como resolver e não sei se tem solução. São R$ 40 bilhões em emendas, é 0,4% do PIB. Em que lugar do mundo você tem isso?”, pontuou Haddad.

O ministro disse que não teria votado pela autonomia do Banco Central por causa do presidente da República, Jair Bolsonaro. “Eu não votaria naquela circunstância jamais para a autonomia (do BC), por causa do Bolsonaro”, disse o ministro da Fazenda.

Ele justificou que o ex-presidente era um “lunático” e “psicopata” e que “não aprovaria nada com Bolsonaro no Poder”.

O ministro da Fazenda disse que poderia haver questionamentos sobre a autonomia do Banco Central se não tivesse havido redução na taxa Selic neste mês. “Esse corte de 0,5 (ponto porcentual), do ponto de vista técnico, se ele não viesse, teríamos um problema grave na economia, porque em julho a arrecadação despencou e já vinha desacelerando desde abril. Do ponto de vista político, você teria pessoas que votaram na autonomia (do BC) dizendo erramos. As instituições não são qualquer coisa, tem que saber construir para dar certo”, comentou.

Questionado sobre o patamar de juros neutros, lembrando que com uma inflação no patamar de 4%, e com a taxa neutra de juro real em 4,5%, quaisquer juros acima de 8,5% são recessivos, contracionistas. “Se cortar 0,5 por reunião, quanto tempo levaremos para chegar no juro neutro, contando que temos oito reuniões por ano?”, questionou, dizendo que o País ainda viverá longo processo contracionista.

O ministro ainda disse que o País tem um viés de pagar juros altos “impressionante”, e que mesmo quando havia superávit e a dívida estava em queda, o pagamento de juros no Brasil era maior do que em outros pares.

O ministro da Fazenda disse ainda que a Câmara dos Deputados tem um poder muito grande e é preciso construir moderação em relação a outros Poderes. “A Câmara está com um poder muito grande e não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo. Mas, de fato, ela está com um poder que eu nunca vi na minha vida. Tem que haver uma moderação que tem de ser construída”, comentou.

Sobre a boa relação com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ele lembrou que isso começou durante a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, com uma combinação para separar temas de governo dos de Estado, mas disse que os dois também têm pontos de divergência. “A gente só aparece sorrindo, mas às vezes temos debates acalorados”, disse.