Economia
Dividendos

Petrobras segue mantendo o controle da dívida

Há uma semana, a Petrobras informou ao mercado uma reformulação na regra que norteia o pagamento de dividendos

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04 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Petrobras segue mantendo o controle da dívida
O diretor financeiro e de Relacionamento com Investidores da Petrobras, Sergio Caetano Leite

O diretor financeiro e de Relacionamento com Investidores da Petrobras, Sergio Caetano Leite, disse na sexta-feira, 4, que a atual gestão da estatal segue mantendo o controle da dívida e mantém o compromisso com a distribuição de resultados em bom nível e trimestralmente aos acionistas.

“Nessa revisão da política de dividendos, entendemos por manter aspectos importantes que garantem solidez e controle da dívida. Mantivemos periodicidade, pagando trimestralmente, e as guias de endividamento”, disse Caetano Leite, em teleconferência com investidores sobre os resultados do segundo trimestre.

Há uma semana, a Petrobras informou ao mercado uma reformulação na regra que norteia o pagamento de dividendos, com uma redução do porcentual do fluxo de caixa livre de 60% para 45%. “Esse patamar está em linha com as “majors” mundiais, considerando tanto as independentes quanto as companhias detidas pelo estado”.

Caetano Leite disse que o lucro do segundo trimestre de 2023, R$ 28,7 bilhões, é um dos dez melhores da história da companhia. Ele acrescentou que 54% da geração do caixa “voltou” para a sociedade na forma de tributos, que totalizaram R$ 56,1 bilhões no período.

O executivo destacou que a dívida subiu puxada por afretamentos de navios-plataforma, sobretudo no pré-sal da Bacia de Santos, mas mantém uma trajetória de queda. “A dívida bruta permanece dentro da faixa definida no Plano Estratégico”, disse.

A dívida bruta da Petrobras alcançou US$ 57,9 bilhões no segundo trimestre de 2023, uma alta de 8,2% em relação a igual período do ano passado e 8,7% acima do registrado ao fim do primeiro trimestre do ano, em 31 de março.

Já a dívida líquida da empresa subiu para US$ 42,1 bilhões, valor 12,2% superior ao registrado no primeiro trimestre de 2023 Já os investimentos ficaram em US$ 3,2 bilhões, uma alta de 5,5% ante o mesmo período do ano passado e 30,5% na comparação com o primeiro trimestre.

Caetano Leite disse ainda que a reformulação da política de dividendos abarca a estratégia de recompra de ações, que vai começar com um programa piloto com duração de 12 meses. “Vamos recomprar 157,8 milhões de ações preferenciais, cerca de 3,5% do ‘free float'”, detalhou. Segundo ele, as ações serão canceladas após a compra, configurando remuneração aos acionistas. O foco, disse, serão ações preferenciais.

O diretor financeiro foi categórico ao dizer que a companhia descarta trabalhar com um caixa inferior a US$ 8 bilhões. Minutos depois, ao ser novamente questionado sobre o caixa da empresa, o executivo disse que “não há no horizonte nenhuma perspectiva de mudança radical na gestão do caixa da Petrobras”.

Ainda assim, ele admitiu que excessos de caixa poderão ser usados para o pagamento de dividendos adicionais. “Isso vai acontecer se a administração entender que essa é a melhor destinação para o capital”, disse.

Sobre a possibilidade de novas reservas estatutárias para pagamento adicional de dividendos, Caetano Leite disse que isso teria de ser aprovado em assembleia de acionistas.

O Conselho de Administração da Petrobras aprovou pagamento de dividendos a acionistas na ordem de R$ 14,8 bilhões relativos ao resultado do segundo trimestre do ano. O montante equivale a uma remuneração aos acionistas de R$ 1,14 por ação ordinária e preferencial. O colegiado se reuniu na quinta-feira para aprovar o balanço da companhia relativo ao período.

A data de corte será 21 de agosto de 2023 para os detentores de ações de emissão da Petrobras negociadas na B3 e o record date será dia 23 de agosto para os detentores de ADRs negociadas na New York Stock Exchange (NYSE). As ações da Petrobras serão negociadas “ex-direitos” na B3 e na NYSE a partir de 22 de agosto próximo.

A reportagem, apurou que houve impasse na discussão desse tema na reunião do conselho, tanto que ficou para votação no final e só foi divulgado meia hora após o balanço financeiro entrar no sistema da Comissão de valores Mobiliários (CVM). Normalmente, a divulgação sai minutos antes do balanço.

Frente às incertezas ligadas às intenções do governo, o montante agrada investidores, mas ainda é 83% inferior ao mega dividendo de R$ 87,8 bilhões anunciado na mesma altura de 2022. À época, a Petrobras e outras petroleiras ainda surfavam a disparada do preço do barril tipo Brent no contexto da guerra da Ucrânia.

No primeiro trimestre do ano, a Petrobras pagou R$ 24,7 bilhões em dividendos. Com isso, o montante total anunciado na primeira metade do ano chegou a R$ 39,5 bilhões em dividendos.

Até o primeiro trimestre, encerrado em março, o porcentual mínimo de dividendos era fixado em 60% no caso de dívida bruta menor ou igual a US$ 65 bilhões. Embora menor, o novo porcentual (45%) surpreendeu positivamente os investidores, o que ficou claro pela valorização das ações da companhia nos últimos dias. O anúncio da nova política de dividendos veio na sexta-feira, 28 de julho.

No início do ano, os operadores do mercado financeiro esperavam regra de dividendos mais próxima do mínimo legal, de 25% do lucro líquido. Depois, ante declarações de executivos da Petrobras de que aquela faixa ainda era considerada baixa, o mercado passou a projetar uma regra em torno de 40% do fluxo de caixa livre. Agradou, portanto, a definição de uma faixa de referência ainda maior.

Segundo fontes da estatal, o valor foi aprovado pelo governo previamente. A diretoria da Petrobras chegou a propor 50% do fluxo de caixa livre contra 40% defendido pela Casa Civil. Ao fim, a decisão pela faixa intermediária de 45% teria vindo para valorizar ações e, também, acomodar interesses de arrecadação do Ministério da Fazenda, de Fernando Haddad.