Economia
Melhoria insuficiente

Indústria não consegue suplantar nível de 14 anos atrás e perfil de junho preocupa

Este é o menor espalhamento do campo positivo desde outubro de 2022, quando somente seis atividades viram a produção crescer.

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01 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Indústria não consegue suplantar nível de 14 anos atrás e perfil de junho preocupa
Não bastasse, em junho, o crescimento da produção industrial ficou concentrado em indústria extrativa (+2,9%)

Embora tenha visto a produção crescer 0,1% em junho ante maio e esteja 0,5% acima do nível de dezembro, a indústria nacional segue presa em nível de produção semelhante ao que era visto entre janeiro e fevereiro de 2009. Além disso, o perfil do crescimento de junho é “preocupante”, afirma o gerente da Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), André Macedo.

Isso porque o avanço de 0,1% na margem foi pouco espalhado, chegando a apenas sete das 25 atividades industriais monitoradas. Este é o menor espalhamento do campo positivo desde outubro de 2022, quando somente seis atividades viram a produção crescer.

Não bastasse, em junho, o crescimento da produção industrial ficou concentrado em indústria extrativa (+2,9%), enquanto a indústria de transformação recuou 0,2% ante maio, no terceiro mês de queda seguido.

“A indústria não tem conseguido suplantar o patamar de 2009. E isso dá uma dimensão do espaço importante a ser recuperado”, resume Macedo.

Segundo o analista, o saldo positivo de 0,5%, na comparação com a produção do fim de ano, sobe para 2% se comparado aos últimos três meses de 2022. Essa melhora, no entanto, vem em ritmo “insuficiente”.

“Isso não reverte qualquer grau de perda passada. Mesmo com um saldo recente positivo, a indústria segue 1,4% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020”, diz Macedo.

Quando a base de comparação é o pico da série histórica, de maio de 2011, a distância é ainda maior: em junho, a produção ficou 18% abaixo do teto da indústria nacional.

O pacote de isenção de impostos na compra de carros 0km até R$ 120 mil anunciado pelo governo federal no fim de maio ajudou em vendas, mas ainda não teve impacto sobre a produção de veículos.

Isso fica claro no movimento da categoria de bens de consumo duráveis, na qual os veículos se encaixam, cuja produção caiu 4,6% em junho na comparação com maio e teve queda de 3,9% ante junho de 2022. Caso o pacote do governo tivesse estimulado a produção de carros, isso teria se refletido na variação da produção de bens duráveis na margem. No acumulado do ano, a categoria ainda tem alta de 5,7% e, em doze meses, de 5,9%.

Segundo Macedo, neste primeiro momento, o efeito das isenções recaiu mais sobre a diminuição de estoques do que, de fato, sobre a produção de veículos novos pela indústria automotiva. “O setor (automotivo) vinha se caracterizando por estoques muito acima no início do ano, com paralisações e férias coletivas por esse motivo”, lembra o analista.

Ele afirma que a taxa de juros em patamares elevados, o que atrapalha a indústria, e a dificuldade na concessão do crédito, ainda caro, além das altas taxas de inadimplência, têm forte efeito sobre o comportamento produtivo dos bens de consumo duráveis, caso dos carros.

Ainda assim, na comparação com o segundo trimestre do ano passado, informou o IBGE, a fabricação de automóveis especificamente avançou 1,1%.

Nessa base, outros itens duráveis avançaram bem mais: eletrodomésticos (10,2%), com a produção da linha branca avançando 0,3%, da linha marrom, 18,1%; equipamentos de transporte (11,8%). Nessa categoria, a única produção que caiu foi a de equipamentos de mobiliário (-6,0%).

A produção das indústrias extrativas foi o destaque do setor industrial no primeiro semestre do ano e repetiu a dose em junho. Na comparação com maio, as extrativas puxaram o crescimento da indústria (0,1%) para cima, com um crescimento individual de 2,9%.

Segundo Macedo, foram as produções de petróleo e minério de ferro que sustentaram essa alta das extrativas em junho. Em maio, as indústrias extrativas já tinham crescido 1,4% na margem. Também no ano a atividade acumula alta de 5,8% e, em 12 meses, um crescimento de 1,2% na produção.

“A melhora na produção da indústria no ano tem relação muito clara com o setor extrativo, que exerce uma liderança em termos de crescimento, com destaque para minério de ferro e petróleo”, disse Macedo.
Dentro dessa categoria, o analista ainda destacou os resultados dos setores de alimentos, mais especificamente os produtos açúcar e os itens derivados da soja; e dos derivados do petróleo “As demais categorias econômicas não fizeram esse movimento de melhora de ritmo durante o semestre, mesmo segmentos que fecharam com taxas positivas”, afirma.

De fato, no acumulado do ano, além de petróleo e minério de ferro, a produção industrial brasileira foi puxada por medicamentos (+11,1%), álcool e gasolina automotiva (4,3%) e carnes de suínos frescas ou refrigeradas, açúcar VHP e cristal e carnes de aves congeladas (2,5%).

O comportamento negativo da indústria de transformação em 2023 está diretamente associado ao elevado patamar de juros básico da economia, de 13,75% ao ano, disse nesta terça-feira, 1, o gerente da Pesquisa Industrial Mensal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), André Macedo.

A indústria de transformação, que reúne a produção de bens de capital, bens intermediários e bens de consumo, recuou 0,2% em junho na comparação com maio, informou o IBGE. Este foi o terceiro recuo mensal seguido. Macedo definiu o momento da indústria como “preocupante”. Apesar do avanço no ano e mesmo em junho (0,1%), essa alta na produção esteve muito concentrada no setor extrativo.

De fato, das 25 atividades industriais monitoradas pelo IBGE, somente sete registraram avanço em junho ante maio. Dezesseis delas ficaram no campo negativo, enquanto produtos químicos e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos registraram estabilidade na produção.

Segundo Macedo, a situação da indústria de transformação tem muito a ver com os juros altos. “De um lado isso traz um grau de diminuição da atividade produtiva e, do outro, também afeta as famílias. Há dificuldade de acesso ao crédito, encarecimento desse crédito e permanência das taxas de inadimplência em patamares altos”, afirmou.