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Dólar sobe a R$ 4,8029, em meio a alta global por Fed mais duro

O Ibovespa subiu 0,45%, aos 118.082,90 pontos, tendo oscilado pouco mais de 800 pontos entre a mínima (117.484,27) e a máxima (118.290,29) do dia

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21 de julho de 2023
Vinicius Palermo
Dólar sobe a R$ 4,8029, em meio a alta global por Fed mais duro
A cotação da moeda norte-americana frente ao real subiu

O dólar à vista avançou 0,36% em relação ao real nesta quinta-feira, 20, a R$ 4,8029, refletindo o aumento da chance de um aperto monetário maior por parte do Federal Reserve (Fed) após dados mais fortes do mercado de trabalho americano. Em contrapartida, altas dos preços do petróleo e relatos de fluxo estrangeiro mantiveram a elevação da divisa aqui abaixo da observada globalmente. o Ibovespa subiu 0,45%, aos 118.082,90 pontos.

Aqui, o dólar chegou a sustentar queda em relação ao real durante parte da etapa matutina, em meio a relatos de fluxo estrangeiro, que compensou a alta global da moeda após a divulgação de números mais fortes do mercado de trabalho dos EUA Mas, a partir do fim da manhã, passou a operar em alta ininterrupta. Entre a mínima, de R$ 4,7695 (-0,34%), e a máxima, de R$ 4,8116 (+0,54%), oscilou menos de cinco centavos.

O sinal para a alta global da divisa americana foi dado pela inesperada queda dos pedidos de auxílio desemprego nos EUA a 228 mil na semana encerrada em 15 de julho – um nível menor do que indicava o consenso de analistas consultados pela FactSet, de 241 mil solicitações. A leitura do mercado é que os números mostram um mercado de trabalho resiliente e fortalecem a chance de mais altas de juros pelo Fed.

“Os números do seguro-desemprego vieram menores do que o esperado, e a leitura do mercado é que isso pode influenciar a decisão do Fed da próxima semana”, explica o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. “Com a liquidez mais baixa devido às férias, esse tipo de acontecimento gera oscilações um pouco mais bruscas.”

Para o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, o desempenho do dólar em relação ao real seguiu o humor externo nesta quinta-feira, embora a alta da moeda americana tenha sido mais contida aqui do que em relação a outros pares emergentes devido à entrada de recursos no País. O especialista destaca que o Brasil mantém um carrego elevado de juros, que tende a manter o fluxo positivo de dólares.

“Temos visto uma boa entrada de fluxo investidor estrangeiro há alguns dias, porque o carrego do real ainda é muito bom. Enquanto o juro do Brasil não estiver em baixa, enquanto a Selic não estiver em um dígito, o que não deve acontecer tão cedo, tem uma janela boa para ficar apostado em real, e a cabeça do estrangeiro é essa”, afirma Jolig.

Ibovespa

Completado nesta quinta-feira, 20, o correspondente a dois terços de julho, o Ibovespa ensaiou igualar e superar, com algum esforço perto do fim da sessão, o ponto em que havia concluído junho, mês em que saltou 9%, no que foi seu melhor desempenho desde dezembro de 2020. No fechamento de 30 de junho, o índice de referência da B3 marcava 118.087,00 pontos, e chegou a tocar e reter o nível de 119 mil nas três sessões seguintes, na abertura de julho. De lá para cá, contudo, perdeu fôlego, especialmente depois do dia 13, quando ainda flertava com acúmulo de ganhos no mês.

Na virada da primeira para a segunda quinzena, passou a alternar avanços e recuos proporcionais, sem força para estender o ciclo de alta, tampouco inclinação por realizar lucros. Assim, nesta quinta-feira, 20, após duas leves perdas, o Ibovespa subiu 0,45%, aos 118.082,90 pontos, tendo oscilado pouco mais de 800 pontos entre a mínima (117.484,27) e a máxima (118.290,29) do dia, saindo de abertura aos 117.558,37. Na semana, o Ibovespa volta ao positivo (+0,32%) no intervalo, e praticamente zera as perdas do mês, faltando agora 4 pontos para igualar o encerramento de junho – no ano, o índice sobe 7,61%. O giro financeiro se manteve fraco na sessão, como nas anteriores na semana, hoje a R$ 20,5 bilhões.

Embora travado, o desempenho do Ibovespa, hoje, não deixa de ser motivo para comemoração, tendo em vista que o de Nova York foi misto, e especialmente negativo para o Nasdaq (-2,05%), com a má recepção aos resultados trimestrais de Tesla e Netflix. Por outro lado, também no front externo, a decisão do BC da China de manter a taxa de juros de longo prazo não impediu o dia favorável às ações de commodities na B3, de grande exposição à demanda do país asiático.

Ainda assim, o fôlego do Ibovespa tem se mostrado mais curto. Nas últimas cinco sessões, o índice permaneceu na linha dos 117 mil em três, e hoje, perto do encerramento, quando parecia endereçado a mais um dia no mesmo patamar, conseguiu retomar os 118 mil. “O mercado tem estado um pouco mais de lado, com o recesso parlamentar e a expectativa pelo início de cortes da Selic. Depois do rali de otimismo em junho, os ativos têm oscilado pouco”, diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos, destacando certo avanço, de março para cá, na agenda do governo, em pautas de interesse do mercado como o arcabouço fiscal e, mais recentemente, a aprovação da reforma tributária na Câmara.

“Outro ponto relevante para os ativos será o ritmo de redução da Selic, que deve se iniciar agora, em agosto”, acrescenta o analista, observando que o começo da temporada de balanços trimestrais no Brasil, à medida que deslanchar, tende a trazer também um pouco mais de oscilação de preços às ações listadas na B3.

Hoje, a leve alta do Ibovespa contou com o suporte de discretas variações, em geral positivas, nas ações de maior peso no índice, com destaque para Vale (ON +0,22%) e Petrobras (ON +0,77%, PN +0,10%), com avanço de quase 2% para o minério de ferro na China (Dalian) e ganho diário mais modesto para o petróleo em Londres e Nova York. Entre os grandes bancos, o sentido ao final foi positivo, com Bradesco (ON +0,62%, pico do dia no encerramento; PN +0,06%) se alinhando aos demais nomes de relevo, em alta, com destaque para Itaú (PN +1,86%, também na máxima da sessão no fechamento).

Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, as ações do setor financeiro ainda refletem, em geral, “resultados positivos dos bancos nos Estados Unidos” no segundo trimestre. Mas o ritmo de alta na sessão, menos significativo, espelha também a pouca disponibilidade de vetores globais – ou seja, catalisadores como indicadores econômicos – nesta aproximação do fim da semana.

Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, Natura (+4,96%), Ambev (+1,98%) e Itaú. No lado oposto, Locaweb (-3,70%), Gol (-3,60%) e Eneva (-2,56%).

Juros

Os juros futuros fecharam em alta, com a curva ganhando inclinação na medida em que as taxas longas subiram mais do que as curtas. O movimento esteve relacionado principalmente ao ambiente externo, onde dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos surpreenderam e desestimularam apostas na suavização do ciclo de aperto pelo Federal Reserve. Os rendimentos dos Treasuries tiveram forte avanço, assim como o dólar mostrou alta generalizada. O leilão de prefixados não contribuiu, com lotes e risco para o mercado maiores do que o anterior.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,745%, na mínima, de 12,754% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 passou de 10,78% para 10,79%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,28%, de 10,22%, e a do DI para janeiro de 2029, com taxa de 10,66%, de 10,57%.

Com a manutenção da agenda doméstica esvaziada, o mercado de juros continuou operando a partir de ajustes técnicos e do exterior, hoje marcado pela aversão ao risco. Os yields dos Treasuries exibiram forte alta, refletindo o aumento das apostas em novas alta de juros nos Estados Unidos além do já precificado aperto da próxima semana. O gatilho foi a queda inesperada dos pedidos de auxílio-desemprego na semana passada, reforçando a ideia de que a resiliência do emprego pode limitar o processo de alívio inflacionário no país. O Federal Reserve tem reunião de política monetária na próxima quarta-feira, 26.

“O mercado aqui acompanhou lá fora, onde a T-Note de dez anos abriu 10 pontos, trazendo impacto sobretudo para a ponta longa. A parte curta não tem muito como se mexer até o IPCA-15, a não ser que surja algum evento de cauda ou, por outro lado, algo muito positivo pelo lado das reformas”, avalia o economista da MAG Investimentos Felipe Rodrigo de Oliveira.

Mesmo com o Congresso em recesso, o noticiário sobre as reformas até se mantém abastecido, especialmente no caso da tributária, mas não chega a pesar sobre a curva. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a reforma do imposto de renda é complexa e demanda cautela, necessitando ainda de amadurecimento

O mercado colocou ainda no radar a recente escalada das commodities agrícolas, decorrente do fim do acordo do Mar Negro que permitia o escoamento de grãos pela Ucrânia. “É algo que merece ser monitorado porque justamente o que vinha pressionando a inflação para baixo eram os preços de alimentos”, alerta Oliveira, destacando ainda como fator de atenção potenciais impactos do El Niño sobre a produção de alimentos. Desse modo, serão acompanhados ainda mais de perto os preços no atacado, via IGPs.

Nos aspectos mais técnicos, o leilão de prefixados do Tesouro trouxe 10 milhões de LTN, ante 7 milhões na semana passada, enquanto o lote de NTN-F caiu de 3,5 milhões para 2,5 milhões. O risco para o mercado (em DV01) foi de US$ 634 mil, ante US$ 594 mil no anterior.