Economia
Déficit menor

Mercado reduz a previsão de inflação para 5,42% este ano

A expectativa para o IPCA – índice de inflação oficial – deste ano na Focus recuou de 5,69% para 5,42%. Um mês antes, a mediana era de 6,03%.

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12 de junho de 2023
Mercado reduz a previsão de inflação para 5,42% este ano
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom - Agência Brasil

Após a surpresa desinflacionária do IPCA de maio (0,23%), a projeção para a inflação oficial mostrou queda generalizada em todos os horizontes do Boletim Focus divulgado na segunda-feira, 12. A expectativa para o IPCA – índice de inflação oficial – deste ano na Focus tombou de 5,69% para 5,42%. Um mês antes, a mediana era de 6,03%. Para 2024, foco da política monetária, a projeção cedeu de 4,12% para 4,04%. Há um mês, era de 4,15%.

Considerando somente as 85 estimativas atualizadas nos últimos cinco dias úteis, a mediana para 2023 variou de 5,49% para 5,26% Para 2024, por sua vez, a projeção de alta caiu de 4,10% para 4,00%, considerando 84 atualizações no período.

Apesar da nova queda, a mediana na Focus para a inflação oficial em 2023 ainda está acima do teto da meta (4,75%), apontando para três anos de descumprimento do mandato principal do Banco Central, após 2021 e 2022. Para 2024, a mediana supera o centro da meta (3,00%), mas está dentro do intervalo de tolerância superior, que vai até 4,50%.

Nos horizontes mais longos, a mediana para o IPCA de 2025 também cedeu para 3,90% após 10 semanas de estabilidade em 4,00%. Da mesma forma, houve queda na estimativa para 2026, de 4,00% para 3,88%. A meta para 2025 é de 3,00% (margem de 1,50% a 4,50%). Ainda não há objetivo definido para 2026.

Na avaliação do BC, a desancoragem observada nos prazos mais longos nos últimos meses está ligada ao debate sobre mudança da meta de inflação, levantado pelo governo. Há também questões ligadas ao risco fiscal, que tem diminuído com o andamento do novo arcabouço fiscal, reconhecem BC e mercado.

Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio, o BC manteve suas projeções para a inflação no cenário de referência com estimativas de 5,8% em 2023 e 3,6% para 2024. Em um cenário alternativo, em que a Selic fica estável por todo o horizonte relevante, as projeções da autoridade são de 5,7% para 2023 e 2,9% para 2024.

Os economistas do mercado financeiro baixaram consideravelmente a projeção para a alta do IPCA de junho no Boletim Focus após a surpresa desinflacionária com o índice de maio. A mediana passou de 0,30% para 0,20%, de 0,50% há um mês.

Para o IPCA de julho, a estimativa cedeu de 0,34% para 0,32%, contra a mediana de 0,37% um mês antes. Para agosto, a previsão para o indicador continuou em 0,23%, de 0,24% há quatro semanas. Já a expectativa para a inflação suavizada para os próximos 12 meses cedeu de 4,60% para 4,42%, de 4,99% há um mês.

O cenário esperado para o câmbio brasileiro em 2023 mostrou estabilidade. A estimativa para o câmbio este ano ficou em R$ 5,10, de R$ 5,20 há um mês. Para 2024, a mediana passou de R$ 5,16 para R$ 5,17, contra R$ 5,20 quatro semanas antes.

A projeção anual de câmbio publicada no Focus é calculada com base na média para a taxa no mês de dezembro, e não mais no valor projetado para o último dia útil de cada ano, como era até 2020. Com isso, o Banco Central espera trazer maior precisão para as projeções cambiais do mercado financeiro.

O Boletim Focus continuou a apontar também melhora no cenário de crescimento econômico para este ano, ainda repercutindo a força surpreendente demonstrada no dado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre (1,9%).

A mediana para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 subiu de 1,68% para 1,84%, contra 1,02% há um mês. Considerando apenas as 57 respostas nos últimos cinco dias úteis, a estimativa para o PIB no fim de 2023 passou de 2,06% para 2,11%.

Já para 2024, o Relatório Focus mostrou redução marginal da estimativa de crescimento do PIB de 1,28% para 1,27%, contra 1,38% de um mês atrás. Considerando apenas as 52 respostas nos últimos cinco dias úteis, a estimativa para o PIB de 2024 cedeu de 1,22% para 1,20%.

Em relação a 2025, a mediana subiu de 1,70% para 1,80% ante 1,70% quatro semanas antes. O Boletim ainda trouxe a estimativa para 2026, que, por sua vez, subiu de 1,90% para 1,95%, contra 1,80% há um mês. No fim de maio, o Ministério da Fazenda aumentou sua projeção oficial para o PIB deste ano, de 1,61% para 1,91%. No Banco Central, a estimativa atual é de 1,2%, que poderá ser atualizada no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) deste mês.

O Boletim Focus mostrou cenário marginalmente mais favorável para as contas públicas este ano na edição publicada na segunda. A projeção para o indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB em 2023 cedeu levemente, de 60,70% para 60,60%, contra 60,70% há um mês.
Já a projeção para o déficit primário cedeu de 1,10% para 1,05% do PIB.

Quatro semanas antes, a expectativa era de 1,00%. No fim de maio, o governo alterou a expectativa deficitária para este ano de R$ 107,6 bilhões para R$ 136,2 bilhões, ou 1,3% do PIB. Para o déficit nominal em 2023, a mediana também mudou, de 7,93% para 7,85% do PIB, contra 7,80% há um mês. O resultado primário reflete o saldo entre receitas e despesas do governo, antes do pagamento dos juros da dívida pública. Já o resultado nominal reflete o saldo já após as despesas com juros.

A estimativa para a dívida líquida no ano que vem também caiu levemente, de 64,45% para 64,40%. Há quatro semanas, a expectativa era mais baixa, de 64,20% do PIB. Já o déficit primário esperado para 2024 continuou em 0,70% do PIB, distante da meta prevista pelo governo de resultado neutro (0% do PIB). O déficit nominal projetado na Focus também permaneceu em 7,00% do PIB. Há um mês, os porcentuais eram de 0,80% e 7,00% do PIB, nessa ordem.

Os economistas do mercado financeiro alteraram marginalmente a estimativa de déficit em conta corrente do balanço de pagamentos para 2023 no Boletim Focus desta semana. A projeção deficitária passou de US$ 47,53 bilhões para US$ 47,50 bilhões ante US$ 47,30 bilhões de um mês atrás. Para o próximo ano, a estimativa de déficit continuou em US$ 53,00 bilhões, de US$ 52,50 bilhões há quatro semanas.

Em relação ao superávit da balança comercial em 2023, a projeção avançou de US$ 58,75 bilhões para US$ 59,20 bilhões, contra US$ 60,00 bilhões há um mês. Para 2024, a mediana superavitária continuou em US$ 55,30 bilhões, de US$ 54,80 bilhões há quatro semanas.

Os analistas consultados semanalmente pelo BC avaliam que o ingresso de Investimento Direto no País (IDP) será mais do que suficiente para cobrir o rombo em transações correntes neste e no próximo ano. A mediana das previsões para o IDP em 2023 permaneceu em US$ 80,00 bilhões pela 24ª semana consecutiva.

Para 2024, a estimativa foi mantida em US$ 80,00 bilhões pela 19ª vez. Mesmo com a melhora apontada pelo IPCA de maio, a expectativa para a taxa básica de juros no fim de deste ano ficou estável no Boletim Focus. Em maio, o Copom decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano pela sexta reunião seguida.

A mediana para os juros básicos no fim de 2023 seguiu em 12,50% ao ano pela oitava semana consecutiva. Para o término de 2024, a expectativa também continuou em 10,00% pela 17ª vez. Há quatro semanas, as estimativas eram de 12,50% e 10,00%, nessa ordem.

Considerando apenas as 65 respostas dos últimos cinco dias úteis, a mediana para o fim de 2023 também permaneceu em 12,50%. Para o fim de 2024, por sua vez, houve queda de 10,00% para 9,75%, com 63 atualizações na última semana.

Na terceira reunião do Copom no novo governo Lula, o colegiado afirmou que a apresentação do arcabouço fiscal reduziu parte da incerteza, mas que a conjuntura é marcada por um processo de desinflação que tende a ser lento em meio às expectativas de inflação desancoradas. Segundo o colegiado, esse contexto demanda maior atenção na condução da política monetária.

O BC ainda repetiu que vai continuar vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa Selic por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação à meta. Mas acrescentou que o cenário de retomada da alta de juros é menos provável, embora garanta que não hesitará em tomar esse caminho caso o processo de desinflação não ocorra como o esperado.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, reconheceu que o cenário está melhor, considerando números mais favoráveis da inflação corrente e sinais positivos à frente. Também destacou a queda na curva de juros longos com a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara, mas ponderou que é preciso ver o efeito nas expectativas.

Na Focus, a projeção para a Selic no fim de 2025 continuou em 9,00%, mesma mediana de quatro semanas atrás. O boletim ainda trouxe a projeção para a Selic no fim de 2026, que cedeu de 9,00% para 8,75%, repetindo o porcentual de um mês antes.