Economia
Pior cenário

Haddad diz que despesa vai crescer menos de 50% do incremento da receita

Haddad rebateu avaliações de que mudanças introduzidas no relatório do arcabouço fiscal abririam espaço para o governo gastar mais em 2024.

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18 de maio de 2023
Vinicius Palermo
Haddad diz que despesa vai crescer menos de 50% do incremento da receita
Segundo Haddad, a mudança é uma regra de transição devido à dificuldade de estimar as receitas no primeiro ano da regra

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, rebateu avaliações de que mudanças introduzidas no relatório do arcabouço fiscal abririam espaço para o governo gastar mais em 2024. Segundo Haddad, no pior cenário projetado pela Receita Federal e pelo Tesouro Nacional, o crescimento do gasto no ano que vem ficaria abaixo de 50% do incremento da receita, com a reoneração de combustíveis e as vitórias judiciais em relação a receitas.

“Essa regra fiscal tem uma estratégia de recomposição do resultado primário, que é a receita crescer acima da despesa. O relator incluiu vários dispositivos de contingenciamento em caso de descumprimento da regra fiscal”, disse Haddad, avaliando que parte dos analistas só estão vendo uma “parte da história” do parecer.

Cálculos de especialistas em contas públicas apontam que duas alterações feitas no projeto pelo relator na Câmara, deputado Claudio Cajado (PP-BA), abririam espaço para o governo gastar cerca de R$ 80 bilhões a mais em 2024 do que sugeriria a proposta original. A primeira mudança é a permissão para que, em qualquer cenário de receita, as despesas cresçam, em 2024, no teto do intervalo previsto pelo arcabouço, de 2,5% em termos reais.

Conforme a proposta original elaborada pelo Ministério da Fazenda, esse crescimento seria limitado a 70% do aumento da receita em 12 meses até junho do ano anterior, respeitando o piso de 0,5% e o teto de 2,5%.

“Não tem nem como abrir espaço de R$ 80 bilhões para gasto em 2024. Porque o crescimento máximo de 2,5%, supondo despesa primária de 20% do PIB, estamos falando de 0,5%. Isso sem falar que o relator vetou várias exceções ao limite de despesa”, disse Haddad, acrescentando que o relator tem recebido estatais que querem manter de fora a capitalização de empresas estatais.

Segundo o ministro, a mudança é uma regra de transição devido à dificuldade de estimar as receitas no primeiro ano da regra, algo que o relator ficou confortável, após as projeções apresentadas pelo governo. Haddad também disse que o teto de gastos também teve regra de transição.

“Por exemplo, a reoneração dos combustíveis feita pelo governo, no primeiro semestre, não foi captado o incremento de receita. Várias medidas tomadas no primeiro ano de governo não foram captadas pela Receita Federal. Tudo que tem noventena perdemos 3 meses de anterioridade. Se perdeu a captura de muitas receitas que já foram contratadas e não foram efetivadas.”

Outra mudança foi em relação à correção do IPCA nas despesas. A regra original previa que seria considerado o IPCA efetivo até junho e a previsão para o restante do ano. Agora, será em 12 meses até junho, com a possibilidade de ajustes caso a inflação surpreenda até o fim do ano.

Segundo Haddad, a preferência da pasta era pela regra anterior, uma vez que a inflação do meio do ano deve ser menor do que a do fim de 2023, projetada pelo governo em 5,6%. Questionado sobre a possibilidade de mudanças em caso de surpresa, o ministro afirmou que a inflação vai surpreender para baixo, considerando as projeções da pasta, que são um pouco menores do que a do mercado.

O ministro disse ainda que sua equipe de economistas está revisando a expectativa de crescimento da economia neste ano para 1,9%. Antes a Fazenda estimava expansão de 1,6% para o Produto Interno Bruto (PIB). O boletim macrofiscal, que deve ser atualizado na segunda-feira, 22, também deverá elevar a projeção de inflação dos atuais 5,3% para 5,6%, segundo o ministro.

Essas afirmações de Haddad foram dadas no contexto de uma pergunta sobre a que ele atribuiria o aumento da taxa de desemprego no Brasil para 8,8%, segundo os parâmetros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Primeiro, o ministro ressaltou que o dado do desemprego é menor do que no ano passado. Em segundo lugar, de acordo com ele, há que se observar que temos um processo de desaceleração que já dura pelo terceiro ano por causa do aumento da taxa de juros.

“A taxa de juro subiu a 13,75% no Brasil e vamos completar quase um ano. A julgar que teremos um Copom só no final de junho, já temos quase um ano de uma taxa de juro real bastante expressiva. Então é natural que a economia sofra uma desaceleração. Ela cresceu 5%, 3% e deve crescer perto de 2% esse ano, segundo Projeções da Secretaria de Política Econômica”, disse Haddad.

Ele afirmou que o primeiro trimestre foi relativamente bom e que na Fazenda há um entendimento de que o PIB tem condições de fechar o ano com crescimento de entre 1,8% e 2%. O ministro fez também questão de ponderar que quem está dizendo que a economia vai desacelerar é o Banco Central nos seus documentos.

Após derrotas do governo no Congresso, como no decreto do marco do saneamento, o Haddad agradeceu aos deputados pela votação “expressiva” da urgência do arcabouço fiscal na quarta-feira, 17, na Câmara, especialmente o relator do projeto, deputado Claudio Cajado (PP-BA). Segundo o ministro, o governo vai “lutar” para superar o mínimo de aprovação demandado por um projeto constitucional, de 308 votos na Câmara e 49 no Senado, embora o arcabouço seja um projeto de lei complementar.

“É para dar garantia da vontade do Congresso de alterar a norma”, disse o ministro da Fazenda. “Queria manifestar o agradecimento do Ministério da Fazenda e do governo federal em relação aos deputados que aprovaram urgência de um tema muito caro para nós. E agradecer ao relator, deputado Cajado, que foi muito habilidoso em construir votação expressiva na Câmara dos Deputados.”

Haddad ainda afirmou que ligou para Cajado no período da manhã para agradecer a ele e reafirmou as projeções do governo de que as despesas devem crescer em 2024 menos de 50% do incremento das receitas.