Economia
Equilíbrio fiscal

Campos Neto admite que custo de combater a inflação é alto

Campos Neto defendeu que haja equilíbrio fiscal e social – como propõe o governo -, mas lembrou que o volume de recursos é limitado.

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25 de abril de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto admite que custo de combater a inflação é alto
Segundo Campos Neto, a autoridade monetária tem trabalhado em algumas causas estruturais do juro real alto no Brasil

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu na terça-feira, 25, que o custo de combater a inflação no curto prazo é alto, mas que o custo de não combater é maior e perene. “É muito difícil trazer a inflação para baixo sem gerar nenhuma desaceleração na economia. Mas tentamos trazer o mínimo de custo para sociedade. Temos que tentar otimizar isso com o menor custo”, afirmou, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Campos Neto defendeu que haja equilíbrio fiscal e social – como propõe o governo -, mas lembrou que o volume de recursos é limitado. Segundo ele, se o mercado passar a entender que haverá uma trajetória explosiva para a dívida, o governo passará a ter dificuldades em se financiar. “É preciso fazer social de forma responsável”, completou.

Questionado por parlamentares da base do governo sobre o alto patamar da Selic, o presidente do Banco Central repetiu também que a diferença para os juros de outros emergentes hoje é menor que no passado. “O juro real no Brasil foi muito mais alto e por muito mais tempo, inclusive quando ninguém no mundo praticava um juro tão alto. Agora estamos próximos de México, Colômbia e Chile”, rebateu.

Segundo o presidente do BC, a autoridade monetária tem trabalhado em algumas causas estruturais do juro real alto no Brasil, mas sinalizou que esse trabalho não cabe apenas à instituição. “Reformas e equilíbrio fiscal ajudam muito a reduzir o juro real. Há uma conexão grande entre contas públicas em ordem e expectativas de inflação”, reafirmou. “Em momento que tivemos choque de credibilidade positiva no fiscal, tivemos choque de melhora nas expectativas para o IPCA”, acrescentou.

Confrontado pela pequena quantidade de bancos no Brasil, Campos Neto avaliou a quebra de bancos médios nos Estados Unidos deve gerar concentração naquele mercado e lembrou das iniciativas do BC para fomentar novos entrantes do sistema financeiro brasileiro. “Aqui estamos desconcentrando o mercado”, completou.

O presidente do Banco Central disse que não tem a capacidade de dizer quando a Selic vai cair, já que tem apenas um dos nove votos do Comitê de Política Monetária (Copom). “Tomaremos uma decisão técnica, olhando todos os fatores, e as coisas estão caminhando no sentido certo”, afirmou.

Questionado pelos parlamentares sobre se a aprovação do novo arcabouço fiscal seria suficiente para garantir a queda dos juros, Campos Neto respondeu que a questão fiscal tem peso sim na avaliação do BC. “A parte fiscal faz com que as expectativas de inflação caiam, isso aconteceu quando foi aprovado o teto de gastos”, lembrou.

O presidente do BC lembrou que o Copom não usa apenas a Focus como parâmetro para as expectativas de inflação e apontou que o BC também usa projeções próprias. “Sempre tentamos filtrar questões específicas de mercado em projeções de inflação”, reafirmou.

Ele repetiu que nenhum presidente do BC gosta de elevar juro. “Eu brinco com meu antecessor – Ilan Goldfajn – que ele nunca precisou subir a Selic”, afirmou.

Mais uma vez, Campos Neto avaliou que parte dos economistas acha que expectativas longas estão maiores porque há risco de governo mudar a meta. “Nossa obrigação é com a meta de inflação. A meta é importante”, completou.

O presidente do BC citou estudos sobre o efeito da inflação na pobreza. “Não tem consumo estável e planejamento de empresa eficiente com inflação alta. O combate à inflação é uma missão muito social”, acrescentou.

O presidente do Banco Central voltou a sinalizar que o Copom ainda espera uma estabilização na curva de juros mais longa para iniciar o processo de redução da Selic.

“Agora já tivemos a apresentação do arcabouço fiscal, temos uma curva que precifica alguma queda de juros no segundo semestre, mas precisamos de uma estabilização na parte mais longa”, afirmou ele, na audiência pública realizada na CAE do Senado.

No início de sua apresentação na CAE, to Campos Neto, falou em transparência no processo de tomada de decisões sobre os juros. “É importante ficar transparente a tecnicidade do processo de tomada de decisão do BC”, afirmou.

Ele explicou como funciona o sistema de metas de inflação e citou os países que adotam esse regime. “Em todos esses países havia uma inflação alta e volátil, que caiu após a adoção do sistema de metas. O benefício é ancorar as expectativas, com flexibilidade para absorver choques e previsibilidade para os agentes se programarem”, destacou.

Ressaltou que o sistema de metas garantiu que a inflação de diversos países se mantivesse controlada durante as últimas décadas. “Após a pandemia e a guerra na Ucrânia, muitos países saíram do ‘corredor’ de inflação (baixa) que estávamos habituados”, acrescentou.

Explicou também que, para definir a taxa de juros, a autoridade monetária olha a inflação corrente e seu aspecto qualitativo, o hiato do produto e as expectativas de inflação.

Destacou ainda a importância da comunicação do BC para ancorar as expectativas. “As expectativas são importantes porque as pessoas reajustam os preços com base nas expectativas. Por isso precisamos garantir que as expectativas estejam dentro da meta”, afirmou.

O presidente do BC reforçou a separação entre a taxa de juros e outras medidas macroprudenciais para garantir a estabilidade financeira. “As intervenções no câmbio buscam apenas reduzir oscilações excessivas”, completou.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, rechaçou as críticas de que a autoridade monetária teria passado a mandar recados políticos por meio dos comunicados e atas do Copom. “As palavras da comunicação do Copom passaram a ser objeto político. Mas temos um padrão que não mudou, usado no mundo todo. O comunicado do Copom é muito técnico e cada palavra faz muita diferença”, argumentou.

Campos Neto também rebateu as críticas de que o BC “nunca cumpre” a meta de inflação. “Não é verdade que o Brasil estoure a meta mais que outros países. O Brasil estourou meta sete vezes. Na Colômbia e no Peru, por exemplo, foram oito”, acrescentou.

O presidente do BC lembrou ainda que grande parte dos países do mundo têm metas de inflação entre 2% e 3%, e destacou que pouquíssimos BCs do mundo entregaram suas metas no ano passado. “As desonerações de 2022 fizeram com que saíssemos de ‘corredor’ da meta em 2023”, completou Campos Neto.