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Zelenski diz que agressão na Rússia vai além da Ucrânia

No discurso, o primeiro presencial de Zelenski na reunião geral da ONU desde o início da guerra da Ucrânia

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19 de setembro de 2023
Vinicius Palermo
Zelenski diz que agressão na Rússia vai além da Ucrânia
O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, afirmou aos líderes presentes na 78ª Assembleia-Geral da ONU que a agressão da Rússia se expande para além da Ucrânia e atinge todo o mundo. No discurso, o primeiro presencial de Zelenski na reunião geral da ONU desde o início da guerra da Ucrânia, em fevereiro do ano passado, o líder ucraniano tratou de citar a Rússia como um país com histórico de agressão em diversas partes do mundo, não apenas na Ucrânia.

O discurso do presidente ucraniano, naturalmente, focou na guerra da Ucrânia, embora haja um esforço da ONU e dos líderes presentes de não deixar o tema dominar a Assembleia-Geral. Ele citou agressões russas na Moldávia, Geórgia e Síria como um alerta para o mundo de que a guerra na Ucrânia não é um fato isolado. “Nós temos de parar os russos. Toda guerra agora pode ser a última”, disse.

“O objetivo da atual guerra contra a Ucrânia é transformar a nossa terra, o nosso povo, as nossas vidas, os nossos recursos numa arma contra vocês, contra a ordem internacional baseada em regras”, acrescentou.
Na reunião geral anterior, Zelenski discursou por videoconferência de Kiev. Na ocasião, ele pediu punição contra a Rússia por causa da guerra. Desta vez, ele acusou a Rússia de genocídio pelo sequestro de crianças ucranianas. Ele afirmou ter o nome de dezenas de milhares de vítimas.

Antes de começar o discurso deste ano, Zelenski foi aplaudido por um tempo mais longo que o usual pelas autoridades presentes. Ele iniciou o discurso citando que embora o mundo se concentre nas ameaças de armas nucleares, a Rússia tem transformado alimento e energia em armas para prejudicar a Ucrânia e outras nações, referindo-se ao fim do acordo de grãos no Mar Negro.

Segundo Zelenski, a ameaça das armas nucleares gerou um medo excessivo de conflito nuclear entre grandes potências que permitiu durante anos à Rússia prosseguir uma política externa agressiva. Ele afirmou que essa estratégia é falha e lamentou que o fato da Ucrânia ter perdido o arsenal nuclear na década de 1990, com a dissolução da União Soviética.

O presidente ucraniano também resistiu a um plano de paz para a guerra que não seja a vitória militar sobre a Rússia e disse que há uma oportunidade de vencê-los sob os termos ucranianos, mesmo em um momento que a contraofensiva ucraniana tem ganhos pequenos. O país continua sofrendo ataques russos e, no início de terça-feira, foi atingido por mísseis e drones na cidade de Lviv, oeste da Ucrânia.

O discurso do ucraniano terminou com o lema “Slama Ukraini” (“Glória à Ucrânia”, em português) com aplausos prolongados. O vice-embaixador da Rússia na ONU, Dimitri Polyanski, acompanhou o discurso, enquanto tomava notas e observada o telefone.

Em Nova York, Zelenski também aproveita para se reunir com líderes mundiais acerca de ganhar apoio para a guerra na Ucrânia Ele se reunirá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira, 20.

O presidente da Ucrânia qualificou a Rússia como um Estado “terrorista” e que não deveria ter direito a armas nucleares, e acrescentou que o mundo precisa atuar unido para derrotar esse “agressor”. Para ele, a Rússia tem como objetivo “tomar terras ucranianas, em desrespeito à legislação internacional”.

Segundo o líder ucraniano, a promoção do desarmamento é uma boa estratégia, “mas não deve ser a única para proteger o mundo de uma guerra final”. Zelensky destacou o fato de que os russos usam os alimentos como uma potencial arma no confronto, bloqueando portos e os atacando e restringindo exportações de grãos da Ucrânia. Ele criticou ainda o fato de que Moscou mina um acordo que vinha permitindo essas vendas, com foco na proteção da segurança alimentar global.

O presidente ucraniano também enfatizou o uso pela Rússia do setor de energia, como petróleo e gás, para obter vantagens globais. E acusou a Rússia de usar igualmente a energia nuclear como arma para conseguir vantagem potencial, além de defender que os “crimes de guerra” russos devem ser punidos e os ocupantes do território ucraniano “devem retornar para sua própria terra”.

Ainda segundo Zelesnky, nunca o sequestro de crianças havia sido uma “política oficial” como a Rússia faz agora, retirando crianças ucranianas de suas famílias. Ele relatou que as crianças levadas “são ensinadas a odiar a Ucrânia” e considerou que “isso é claramente um genocídio”.

Zelensky ainda disse que “não podemos confiar no mal”, referindo-se novamente à Rússia. “Perguntem a Prigozhin”, comentou, referindo-se ao líder do grupo mercenário Wagner, Yevgeni Prigozhin, que chegou a liderar uma rebelião contra o Exército russo, depois voltou atrás. Prigozhin acabou morto na queda de um avião em agosto, em fato considerado suspeito por várias nações que acusaram Moscou de responsabilidade no episódio, entre elas os EUA e a própria Ucrânia. Ao final de seu discurso, Zelensky foi bastante aplaudido pelos presentes na Assembleia Geral da ONU.