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Vale produz pela primeira vez pelotas com fontes renováveis de energia

O teste da Vale começou substituindo 50% do carvão por biocarbono, antes de aumentar gradativamente até 100%.

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16 de março de 2023
Vinicius Palermo
Vale produz pela primeira vez pelotas com fontes renováveis de energia
A Vale está investindo entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões para reduzir suas emissões diretas e indiretas em 33% até 2030

A Vale anunciou na quinta-feira que pela primeira vez conseguiu produzir pelotas de qualidade comercial em escala industrial sem o uso de carvão antracito. Em um teste feito em uma usina de pelotização em Vargem Grande, Minas Gerais, a empresa substituiu 100% do combustível fóssil por biocarbono para queimar as pelotas (pequenas bolas de minério de ferro usadas na fabricação do aço). O biocarbono é um produto renovável e de emissão zero obtido pela carbonização da biomassa.

O carvão antracito responde por cerca de 50% das emissões de dióxido de carbono na produção de pelotas, que é o processo mais intensivo em carbono da Vale em termos de emissões diretas da empresa. Hoje, a pelotização responde por 30% das emissões totais de Escopo 1 da Vale. O teste começou substituindo 50% do carvão por biocarbono, antes de aumentar gradativamente até 100%. No total, foram produzidas aproximadamente 50.000 toneladas de pellets, das quais 15.000 toneladas foram produzidas com 100% de biocarbono certificado.

Segundo o engenheiro Rodrigo Boyer, que liderou a iniciativa, o uso de biocarbono apenas na usina de pelotização de Vargem Grande reduzirá as emissões anuais de dióxido de carbono em cerca de 350 mil toneladas, o equivalente à emissão anual de aproximadamente 75,4 mil carros pequenos de 1 litro.

“Mais testes serão realizados em 2023, de maior duração, para avaliar minuciosamente o processo. Somente após esta etapa poderemos gerar informações para o desenvolvimento das obras de engenharia necessárias visando a implantação definitiva deste projeto”, explica.

O gerente executivo de projetos de descarbonização da Vale, Rodrigo Araújo, afirma que o teste é mais um grande passo na jornada da empresa, em linha com o compromisso de atingir emissões líquidas zero de carbono escopo 1 e 2 até 2050. O escopo 2 refere-se às emissões indiretas da compra de energia elétrica . “No caso da pelotização, o uso do biocarbono é nossa principal iniciativa, devido ao grande potencial de produção de biomassa no Brasil”, afirma.

Não é por acaso que a Vale escolheu o Dia Nacional de Conscientização sobre Mudanças Climáticas para anunciar os resultados de seu teste de produção de pelotas à base de biocarbono. A data foi instituída pela Lei 12.533 de 2011, como forma de conscientizar e estimular o debate sobre os impactos das mudanças climáticas no planeta e estimular a adoção de medidas para mitigar esses impactos.

A Vale está investindo entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões para reduzir suas emissões diretas e indiretas em 33% até 2030, de acordo com o Acordo de Paris, e com o objetivo de atingir o zero líquido em 2050. Além disso, até 2035, a empresa está comprometido em reduzir suas emissões de Escopo 3, relacionadas à sua cadeia de valor (ou seja, fornecedores e clientes), em 15%.

“A agenda climática é uma prioridade para a Vale. Por exemplo, desde 2020 a empresa adota um preço interno de carbono de US$ 50 por tonelada métrica de CO2 equivalente ao avaliar a alocação de capital em novos projetos”, diz Rodrigo Lauria, gerente executivo de mudanças climáticas da Vale.

Para atingir essas metas, a empresa vem investindo em tecnologias de baixo carbono, como a utilização de caminhões elétricos de 72 toneladas, já em operação na Indonésia e Minas Gerais, e cerca de 50 equipamentos de mineração subterrânea no Canadá. Entre os avanços da Vale nas emissões de Escopo 2, destaca-se a entrada em operação da usina solar Sol do Cerrado, em Jaíba, em Minas Gerais. Trata-se de um dos maiores parques solares do Brasil, com capacidade para gerar energia suficiente para abastecer uma cidade de cerca de 30 mil habitantes.

Em relação às emissões de Escopo 3, a Vale já possui parceria com mais de 30 clientes siderúrgicos, representando cerca de 50% das emissões da empresa. Em 2021, a empresa lançou os “briquetes verdes”, um produto composto de minério de ferro e ligantes de alta tecnologia, permitindo que os clientes reduzam em até 10% as emissões de gases de efeito estufa na produção de aço. A Vale está convertendo duas usinas de pelotização em Vitória para produzir briquetes verdes. A capacidade inicial de produção é de aproximadamente 6 milhões de toneladas por ano. Ao todo, serão investidos US$ 182 milhões nessas duas usinas, que devem entrar em operação até o final deste ano.

A Vale também firmou acordos na Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Omã para a criação de “megahubs” de produção de ferro briquetado a quente (HBI) e produtos siderúrgicos de alta qualidade a partir de briquetes verdes. A produção de HBI a gás natural, prevista no projeto do mega-hub, emitirá cerca de 60% menos carbono em relação aos fornos siderúrgicos tradicionais que utilizam coque e carvão. No futuro, a substituição do gás natural pelo hidrogénio e a utilização de energias renováveis ​​poderão eliminar as emissões de CO2.

Na navegação, as emissões da Vale também são de Escopo 3, pois não possui frota própria. Os testes estão sendo realizados em navios equipados com velas de rotor e tecnologia de lubrificação a ar. A meta é reduzir as emissões em até 8% por meio da tecnologia de propulsão de baixo carbono, utilizando o vento como energia.