Um drone ucraniano atingiu a cidade russa de Kireievesk e feriu três pessoas, segundo a agência russa Tass. O ataque ocorreu a 300 quilômetros da divisa da Rússia com a Ucrânia e a 180 km de Moscou, e é o último de uma série de operações conduzidas pelas Forças Armadas ucranianas além da fronteira. O objetivo dessa missão é levar ao menos uma fração da guerra para o território inimigo.
Mais de um ano depois da invasão, a guerra agora também é combatida em território russo, e Moscou enfrenta dificuldades para proteger suas fronteiras. Com uma frequência cada vez maior – ainda que em escala menor se comparada ao que ocorre na Ucrânia – civis russos têm relatado incêndios, ataques de drones e bombardeios em cidades cada vez mais longe da fronteira.
Nos últimos meses, houve pelo menos 28 ataques de drones contra alvos importantes dentro da Rússia, principalmente bases militares, aeroportos e instalações de energia. Em alguns casos, drones caíram ou foram derrubados antes de alcançar seus alvos. Pelo menos três deles caíram na região de Astracã, no Mar Cáspio, próximo de onde a Rússia dispara mísseis contra a Ucrânia. Belgorod, perto da fronteira, é um alvo constante.
Autoridades ucranianas reconhecem privadamente a autoria de alguns dos ataques, entre eles a explosão de uma ponte na Crimeia, em outubro.
Nos meses iniciais da invasão, apenas locais muito próximos à fronteira eram alvo de drones. Os alvos mais comuns eram depósitos de munição e de combustível. Com o tempo, o alcance desses ataques se estendeu e chegou cada vez mais perto de Moscou.
Em fevereiro, um drone militar tentou atacar uma estação de compressão de gás natural em Kolomna, cerca de 80 quilômetros ao sul do Kremlin, de acordo com autoridades russas. Em dezembro, drones ucranianos realizaram um ataque duplo contra a Base Aérea Engels-2, em Saratov, que abriga bombardeiros nucleares estratégicos russos. O alvo de ontem, a 300 quilômetros da fronteira, é um a exemplo cada vez maior da audácia dos drones ucranianos.
Embora os ataques não tenham causado danos significativos em ativos militares, serviram para destroçar o moral das forças russas, de acordo com o analista militar russo Ian Matveev. “Quando você usa um drone que carrega pequenos explosivos, é improvável que ele cause muito dano físico, mas o golpe reputacional é enorme”, disse.
Ainda assim, esses ataques a armazéns militares e depósitos de munição próximos à fronteira ucraniana tem como objetivo dilapidar as linhas de abastecimento dos russos. Já alvos de infraestrutura e de energia são menos valiosos.
“A eficácia de mirar depósitos de petróleo é provavelmente mais baixa, mas ainda é possível ocasionar crises locais mirando instalações que armazenam combustível urgentemente necessário naquela região”, afirmou Matveev.
Em resposta, os russos fortificaram suas posições para se proteger dos drones. Desde dezembro, a Rússia acionou novas defesas antiaéreas para proteger Moscou.
Nos meses recentes, sistemas de defesa antiaérea, como Pantsir-S1 e S-400, foram erguidos por guindastes gigantescos e instalados no topo de edifícios e em parques da cidade. Analistas notaram que três sistemas instalados na região central de Moscou – nos telhados das sedes dos Ministérios da Defesa e do Interior e de um centro comercial – formam efetivamente um domo sobre o Kremlin.
“Moscou tem provavelmente a cobertura de defesa antiaérea mais densa do que qualquer outra cidade na Terra”, afirmou Dara Massicot, pesquisadora da Rand Corp.
A partir de meados de janeiro, sistemas similares foram detectados em outros pontos da capital. Antes da invasão, moradores de um complexo habitacional vizinho do Parque Nacional Losini Ostrov desfrutavam das vistas bucólicas de uma floresta que se estende por vários quilômetros para o leste. Mas em janeiro eles encontraram em suas paisagens vários sistemas de defesa antiaérea aninhados em uma clareira entre um parquinho para cães e um riacho.
Residentes alarmados reclamaram para as autoridades, que responderam citando questões de segurança, segundo noticiou o website russo Insider, especializado em jornalismo investigativo.
Instalar esses sistemas de mísseis tão próximo de áreas residenciais pode ser perigoso, afirmou Matveev, notando que os mísseis podem sair de curso ou detonar acidentalmente. “Cada um tem ogiva e combustível”, afirmou ele. “Imagine se há um incêndio o tipo de explosão que vai ocorrer dentro dos limites da cidade.”
Desde que a invasão começou, as autoridades russas relataram mais de 300 ataques envolvendo disparos de projéteis, fogo de artilharia ou mísseis em cidades e vilarejos russos próximos à fronteira e ao menos 40 baixas, de acordo com o Armed Conflict Location and Event Data Project (ACLED).
Alguns vilarejos foram esvaziados, várias escolas passaram a adotar aulas online e perfis do governo em redes sociais são com frequência inundados com apelos de moradores assustados, pedindo proteção das hostilidades.
Autoridades locais atribuíram a culpa desses ataques à Ucrânia, mas muitos deles ocorreram em regiões remotas e há pouco registro em vídeo, o que torna impossível verificar as alegações da Rússia.
Nas semanas recentes, a Rússia também tem instalado fortificações similares na Crimeia ocupada e em outros territórios que mantém no sul da Ucrânia, o que pode sugerir que Moscou teme perdê-los. “Eu tendo a considerar isso um indicativo de suas ânsias e preocupações”, afirmou Massicot, a analista da Rand Corp.
Imagens de satélite dos dois estreitos acessos entre a Ucrânia e a Península da Crimeia mostram defesas construídas recentemente em Armiansk e Medvedivka. “O Exército russo parece entender que pode ter de defender a Crimeia no futuro próximo”, afirmou Matveev.