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Turquia declara estado de emergência por três meses em áreas abaladas pelo terremoto

Sul da Turquia e Norte da Síria sofrem consequências do abalo sísmico. Neve, frio e estradas bloqueadas dificultaram os resgates.

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08 de fevereiro de 2023
Vinicius Palermo
Turquia declara estado de emergência por três meses em áreas abaladas pelo terremoto
O presidente da Turquia, Recep Erdogan, falou sobre ajuda para a região Sul do país.

Neve, frio e estradas bloqueadas dificultaram os esforços para responder a dois fortes terremotos ocorrido na segunda-feira, 6, que mataram mais de 5.150 pessoas no sul da Turquia e no norte da Síria, levando o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, a declarar estado de emergência por três meses nas áreas afetadas do país.

“A escala do terremoto, é claro, nos obriga a tomar certas medidas extraordinárias”, disse Erdogan na terça-feira, 7, em um discurso televisionado. “Estaremos completando todos os procedimentos e formalidades necessárias muito rapidamente.”

O sul da Turquia experimentou 285 tremores secundários, incluindo alguns fortes o suficiente para causar o desmoronamento de novos edifícios, disse Orhan Tatar, funcionário da agência de gerenciamento de desastres do país. “A cada minuto novos tremores estão acontecendo”, disse ele.

Na Síria, o desastre abalou uma região do país que abriga milhões de pessoas deslocadas pela guerra civil do país, muitas delas vivendo em acampamentos improvisados. Os terremotos na Síria mataram mais de 1.600 pessoas na região de Alepo e em várias outras áreas do país, segundo a organização de Defesa Civil da Síria e o Ministério da Saúde afiliado ao governo em Damasco.

Suspensão de sanções internacionais

O chefe do Crescente Vermelho Sírio pediu a suspensão das sanções internacionais impostas ao governo de Assad para permitir a entrada de ambulâncias, veículos de combate a incêndios e outros equipamentos pesados no país para operações de resgate.

Em toda a Turquia, a agência de emergência do país reuniu cerca de dez mil pessoas para um esforço de busca e resgate, disseram autoridades. O governo turco também mobilizou as forças armadas ao lado das autoridades de saúde para uma resposta nacional ao desastre.

Equipes de resgate e voluntários de diversas partes do mundo devem chegar à Turquia e Síria na terça-feira, 7, onde as buscas por sobreviventes soterrados continuam. Socorristas s trabalham de forma incessante, muitas vezes sem o equipamento necessário e enfrentando temperaturas negativas na tentativa de alcançar as vítimas soterradas antes que seja tarde demais.

O “período de ouro” para resgatar vítimas com vida é de um a três dias após um terremoto, disse Lody Korua, especialista em busca e resgate da Indonésia que se voluntaria para operações de resposta a terremotos a mais de 15 anos. Mesmo assim, segundo ele, a logística pode ser muito complicada.

“As pessoas que estamos resgatando estão feridas – elas estão sob os escombros e não sabemos a que profundidade”, explicou. “Eles estão presos, talvez com as pernas esmagadas pela estrutura desmoronada, com ossos quebrados, e não conseguem gritar por socorro”.

Presidente da Turquia fala sobre ajuda

Erdogan pretende enviar mais de 50 mil trabalhadores humanitários à região e liberar 100 bilhões de liras turcas (R$ 27,3 bilhões) em ajuda financeira. “Decidimos declarar estado de emergência para assegurar que nosso trabalho de resgate possa acontecer de maneira rápida”, afirmou Erdogan em um discurso exibido na televisão.

Mas nem mesmo todo o recurso pode ser suficiente para evitar o agravamento da catástrofe considerando os limites da resistência humana em suportar o período de confinamento. De acordo com David Lewis, coordenador de uma equipe internacional de busca e resgate urbano para a agência de bombeiros e resgate em New South Wales, na Austrália, alguns sobreviventes foram encontrados após quatro (e até mais) terremotos, mas a quantidade de tempo que uma pessoa pode sobreviver sob escombros depende de várias variáveis, incluindo a temperatura, o acesso a comida e água e a maneira como ficaram presos.

Na avaliação do especialista, o fato do terremoto ter acontecido durante a madrugada – o maior tremor, de 7,8 de magnitude foi registrado às 4h17 no horário local -, a maioria das pessoas que agora estão soterradas provavelmente estava dormindo quando as casas e apartamentos caíram. A única esperança seria que houvesse “um vazio e não um teto ou um andar superior caindo sobre você.”

Apesar da corrida contra o tempo das equipes de resgate, o rigoroso inverno na região da fronteira entre Turquia e Síria dificulta a situação. Ao mesmo tempo em que é um fator que aumenta a urgência de se resgatar os sobreviventes, as temperaturas negativas impõem um risco adicional aos socorristas, que em muitos locais não possuem equipamentos totalmente adequados.

Frio e chuva atrapalham resgates

De acordo com o Serviço Meteorológico turco, a temperatura deve cair para quase -3ºC na terça-feira, com previsão de neve ou chuva por pelo menos três dias durante a semana. As equipes de resgate devem “correr contra o tempo e contra a hipotermia” para encontrar qualquer um que permaneça preso sob os escombros, disse Mikdat Kadioglu, professor de meteorologia e gerenciamento de desastres na Universidade Técnica de Istambul.

Muitas das pessoas presas sob os escombros usavam apenas roupas de dormir quando o terremoto ocorreu. Muitos dos resgatados estavam descalços. Além disso, milhares de sobreviventes ficaram presos no escuro, em busca de abrigo e em temperaturas quase congelantes.

Durante a noite de segunda-feira, algumas pessoas que sobreviveram ao terremoto se abrigaram do frio e da chuva em seus carros, ou se aqueceram com fogueiras feitas com os escombros de prédios danificados.

Mesmo antes do desastre, grupos de ajuda já haviam sinalizado preocupações sobre como as temperaturas congelantes afetariam as pessoas no norte da Síria, para onde fugiram milhões de deslocados devido aos anos de guerra civil. É o único lugar no país que permanece fora do controle do governo. Muitas dessas pessoas deslocadas estão se abrigando em tendas, ruínas antigas e qualquer outro lugar que possam encontrar depois que suas antigas casas foram destruídas.

O colapso econômico causado pela guerra tornou impossível para muitos deles conseguir uma refeição decente. A crise de combustível deste inverno já fez muitos tremerem nas camas, sem aquecimento.

A eficácia das equipes de resgate que chegam para reforçar as operações na zona atingida pelo terremoto depende em parte de quão bem elas se coordenarão e da rapidez com que chegam. Mas a área é remota e relativamente difícil de acessar, disse Yosuke Okita, especialista em gerenciamento de emergências internacionais da Universidade Keio, no Japão.

Se pequenos aeroportos na área não tiverem capacidade para transportar equipes de busca e resgate e seus equipamentos pesados, as equipes precisarão voar para aeroportos maiores e viajar para a zona do terremoto de caminhão, disse Okita. Encontrar caminhões também pode ser difícil, acrescentou, e algumas estradas para a área atingida estão bloqueadas.