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Trump e Kamala não têm incentivos para enfrentar problema fiscal

A avaliação foi feita nesta segunda-feira, 14, pelo professor da Universidade de Chicago e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Raghuram Rajan

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15 de outubro de 2024
Vinicius Palermo
Trump e Kamala não têm incentivos para enfrentar problema fiscal
O professor da Universidade de Chicago e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Raghuram Rajan

Nem o republicano Donald Trump nem a democrata Kamala Harris, candidatos nas eleições norte-americanas, têm incentivos para atacar o problema fiscal dos Estados Unidos, que se agravou com a pandemia. A avaliação foi feita nesta segunda-feira, 14, pelo professor da Universidade de Chicago e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Raghuram Rajan, que participou do Macro Vision 2024, evento do Itaú BBA, em São Paulo.

“Não há incentivos em nenhum dos dois lados para atacar o problema fiscal nos Estados Unidos”, disse o economista, acrescentando que o impulso fiscal faz o país crescer acima do potencial.

Conforme o economista, uma vitória de Trump levaria a um cenário pior, já que o republicano não vai conseguir financiar totalmente os cortes de impostos com aumentos de tarifas comerciais.

Outro problema se Trump vencer, emendou, será a agenda climática, pois setores que até agora vem recebendo incentivos para a transição a uma economia verde vão perder os estímulos com o republicano de volta à Casa Branca.

Para Rajan, Trump tende a incentivar a economia marrom, termo utilizado ao se referir ao desenvolvimento econômico puxado por fontes de energia não renováveis. “Algumas das subvenções dadas aos consumidores para energia verde vão desaparecer”, projeta.

Conforme Rajan, que também já foi presidente do Banco Central da Índia entre 2013 e 2016, a expansão fiscal, que escalou na pandemia, coloca o mundo em posição pior para o enfrentamento da mudança climática, que requer uma reserva para gastos, assim como dificulta o trabalho da política monetária, dado o impacto dos estímulos na inflação.

“A política monetária tem uma tarefa muito mais difícil nos anos que virão. Um dos argumentos para taxas de juros reais mais altas daqui para frente é simplesmente o fiscal”, comentou o professor da Universidade de Chicago.

Também presente no evento, o chefe de pesquisa e diretor para os Estados Unidos (EUA) da Eurasia Group, o analista político Jon Lieber, discorreu nesta segunda-feira, 14, sobre a possibilidade crescente de o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, tentar confundir o resultado da eleição, caso venha sofrer derrota para a democrata Kamala Harris.

Para ele, o ambiente de uma campanha apertada, bastante parelha, abre espaço para o republicano voltar a contestar o resultado da eleição, em caso de vitória de Kamala Harris.

“A campanha eleitoral nos EUA está muito parelha, com Harris pouco à frente nas regiões mais indecisas. Mas Kamala não é tão boa na campanha. É uma disputa entre uma vice-presidente e um ex-presidente. Trump está um pouco há frente, com algo como 55%, mas a eleição está muito indefinida”, avalia Lieber.

De acordo com o analista da Eurasia Group, os dois candidatos começam agora a disputar os Estados pêndulos, mas na avaliação dele, tanto Trump quanto Harris pode vencer nestas localidades.
Em Estados como o Arizona, por exemplo, onde há problemas com imigração, as propostas de Trump são mais aceitas. Por outro lado, o discurso de Trump acaba por afastar os mais jovens.

Para Lieber, o resultado da eleição nos Estados Unidos deverá ser conhecido no meio da semana da eleição e não no mesmo dia da eleição. Ele lembrou que na eleição em que Trump disputou com Hilary Clinton, a democrata acabou reconhecendo a vitória do republicano no meio da noite do dia da votação.

O mesmo não ocorreu quando Trump foi derrotado por Joe Biden. “Até hoje Trump não reconheceu a vitória de Biden. Há muita chance de Trump confundir o resultado da eleição. Não acredito que Harris faria isso”, disse o diretor para os Estados Unidos da Eurasia Group.