Economia
CPI da Americanas

Trabalho do auditor não é preparado para verificar existência de fraudes

A KPMG e a PwC foram convidadas em junho, após o CEO da varejista, Leonardo Coelho Pereira, afirmar que as duas empresas poderiam ter contribuído para as irregularidades.

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01 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Trabalho do auditor não é preparado para verificar existência de fraudes
A responsabilidade das auditorias independentes é, a partir da demonstração financeira gerada pela diretoria da empresa, examinar os números e concluir se foram respeitadas as devidas normas contábeis.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados que investiga a fraude contábil na Americanas ouviu na terça-feira, 1º, os representantes das auditorias independentes que faziam a análise das contas da companhia.

A KPMG e a PwC foram convidadas em junho, após o CEO da varejista, Leonardo Coelho Pereira, afirmar que as duas empresas poderiam ter contribuído para as irregularidades. Nesse contexto, um material do Instituto de Auditoria Independente do Brasil (Ibracon) divulgado na segunda defende que as empresas do setor não têm profissionais preparados para identificar a existência de fraudes.

De acordo com o documento, o objetivo de uma auditoria independente é examinar números e documentos fornecidos pela companhia auditada, para dizer se as demonstrações contábeis foram elaboradas adequadamente pela administração, de acordo com as normas de contabilidade aplicáveis, e refletindo a realidade financeira e patrimonial em uma determinada data.

“No debate sobre fraudes contábeis de uma empresa, deve-se esclarecer os papéis de cada parte envolvida”, pontua a instituição. O material detalha as responsabilidades de cada parte da empresa e cita, por exemplo, que o conselho de administração deve atuar como elo para prestar contas aos acionistas. “Por lei, os conselheiros devem fiscalizar a gestão dos diretores, examinar livros e papéis da companhia, solicitar informações sobre contratos e quaisquer outros atos. Também escolhem ou destituem a auditoria independente”, diz a Ibracon.

Nesse contexto, a responsabilidade das auditorias independentes é, a partir da demonstração financeira gerada pela diretoria da empresa, examinar os números e concluir se foram respeitadas as devidas normas contábeis. “Nesse processo, a auditoria identifica riscos de distorções relevantes, analisando e testando, por amostragem, os mecanismos usados para minimizá-los”, acrescenta o material do instituto.

A Ibracon diz que, se for constatada a necessidade de ajustes relevantes, são feitas recomendações à administração da empresa auditada. “Considerando as funções de cada agente na estrutura de governança dentro das empresas, entende-se que a opinião do auditor externo não pode ser vista como uma garantia de que não existem distorções relevantes”, diz ainda.

O instituto alega ainda que a auditoria independente não possui mecanismos e poderes legais para obter informações, como e-mails e mensagens trocadas por empregados ou responsáveis pela gestão da empresa.

“O trabalho do auditor, portanto, não é preparado para verificar a existência de fraudes, mas certificar, com ceticismo profissional, que as demonstrações financeiras foram preparadas e apresentadas de acordo com as normas de contabilidade requeridas por órgãos competentes – como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Ainda assim, a atuação do auditor independente é confundida com a responsabilidade de zelo da administração (Diretoria e/ou Conselho de Administração)”, diz ainda o instituto.

A Americanas, em recuperação judicial, encerrou o mês de junho com caixa disponível final R$ 1,464 bilhão. O montante é 28% menor que o saldo de julho de 2022. As informações constam do relatório de atividades mensais da companhia divulgado pelos administradores judiciais.

Segundo o documento, a dívida da empresa em junho em reais era de R$ 20,613 bilhões. Na moeda americana, a dívida era de US$ 1,068 bilhão. Os dados não incluem o endividamento bancário associado ao risco sacado.

O prazo médio dos produtos em estoque foi de 122 dias em junho, o que representa uma redução de 22,2% em relação a janeiro de 2023, tendo um impacto positivo no ciclo de caixa.
O prazo de recebimento de clientes atingiu 37 dias em junho, representando redução de 17,23% em relação a janeiro.

O total investido pelo Grupo Americanas em junho de 2023 foi de R$ 9,076 milhões, valor 94% menor que a média de investimentos realizados entre junho e dezembro de 2022, de R$ 139,736 milhões Em junho, o canal digital não recebeu investimentos.

O documento informa ainda que a Americanas fechou 51 lojas nos últimos 12 meses. Houve aumento de uma loja entre julho e dezembro do ano passado e o encerramento de 52 lojas no período entre janeiro e junho deste ano. Ao final do período, a empresa contava com 1.830 unidades em funcionamento. O número de clientes ativos recuou 13,3% em junho de 2023 na comparação com julho do ano passado. No ano, a queda é de 11,1%