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Deterioração fiscal

Tesouro dos EUA amplia emissão de dívida, um dia após Fitch rebaixar rating do país

O Tesouro dos EUA informou que leiloará US$ 103 bilhões em títulos, divididos em T-notes de 3 anos e de 10 anos e T-bonds de 30 anos

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03 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Tesouro dos EUA amplia emissão de dívida, um dia após Fitch rebaixar rating do país
O corte da nota de crédito dos Estados Unidos pela Fitch foi recebido com estranheza por alguns economistas. É o caso de Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia em 2008, e Larry Summers, ex-secretário do Tesouro norte-americano, que classificaram o rebaixamento de "bizarro".

O Departamento do Tesouro do Estados Unidos anunciou na terça-feira, 2, que ampliará a emissão de dívida do país para arrecadar fundos de investidores privados, um dia após a Fitch rebaixar o rating soberano dos EUA alegando esperar deterioração fiscal nos próximos três anos.

Em comunicado, o Tesouro informou que leiloará US$ 103 bilhões em títulos, divididos em T-notes de 3 anos e de 10 anos e T-bonds de 30 anos, para reembolsar aproximadamente US$ 84 bilhões em notas e títulos privados com vencimento em 15 de agosto de 2023. O órgão estima arrecadar aproximadamente US$ 19 bilhões de investidores privados com a iniciativa.

A nova emissão representa um aumento de US$ 7 bilhões, em comparação ao total de emissão de US$ 96 bilhões dos mesmos títulos anunciados em maio.

O Tesouro também comunicou que, com base em projeções intermediárias de necessidades de empréstimo, pretende aumentar gradualmente os tamanhos dos leilões de cupons a partir do trimestre de agosto a outubro de 2023, confirmando projeção de analistas da Oxford Economics.

Segundo a nota, o tamanho dos leilões serão aumentados em: US$ 3 bilhões por mês para títulos de 2 anos e de 5 anos; US$ 2 bilhões por mês para títulos de 3 anos; e US$ 1 bilhão por mês para títulos de 7 anos. Além disso, o Tesouro deve aumentar tanto a quantidade de emissões quanto o tamanho dos leilões na ponta de longo prazo, elevando em: US$ 3 bilhões por mês para títulos de 10 anos; US$ 2 bilhões por mês para títulos de 30 anos; e US$ 1 bilhão por mês para títulos de 30 anos.

O Tesouro também planeja aumentar o tamanho do leilão de reabertura de agosto e setembro das notas de juro flutuante (FRN, na sigla em inglês) de 2 anos em US$ 2 bilhões e o tamanho do leilão de novas emissões de outubro em US$ 2 bilhões.

Os ajustes nos tamanhos dos leilões contrariaram a expectativa da Oxford Economics, que projetava aumentos de US$ 2 bilhões para todos os títulos e FRNs para os próximos três meses. Em relatório divulgado na terça-feira, a consultoria projetou que o Tesouro estima precisar emitir US$ 1,86 trilhão em dívida líquida no segundo semestre deste ano para arrecadar recursos, acima das previsões de analistas da Oxford de US$ 1,67 trilhão.

Contudo, incertezas ainda pairam sobre estas estimativas, avalia a Oxford. “Há mais incerteza do que o normal em relação aos empréstimos do quarto trimestre, devido aos prazos estendidos de declaração de impostos para contribuintes em estados afetados pelo clima severo de inverno no início deste ano, principalmente na Califórnia”, conclui a consultoria.

O corte da nota de crédito dos Estados Unidos pela Fitch foi recebido com estranheza por alguns economistas. É o caso de Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia em 2008, e Larry Summers, ex-secretário do Tesouro norte-americano, que classificaram o rebaixamento de “bizarro”.

Summers reconheceu os desafios no horizonte da política fiscal americana. “Mas a decisão de uma agência de classificação de crédito, quando a economia parece mais forte do que o esperado, de rebaixar os Estados Unidos é bizarra e inepta”, escreveu em publicação no Twitter.

Krugman, por sua vez, também não minimiza as questões fiscais, diante de grupos políticos que impedem medidas de corte de gastos e aumento de impostos. No entanto, o economista questiona se esses problemas, de fato, pioraram no último ano. “Seria um tanto interessante saber como Fitch chegou a essa estranha decisão”, ressalta.

Para Krugman, as perspectivas econômicas dos EUA melhoraram tanto no curto quanto no longo prazo, com menor risco de recessão à frente.

Ele também põe em xeque a capacidade de agências de classificação de risco de estabelecer a verdadeira capacidade de crédito soberano de um país. “Vocês se lembram de quando a S&P rebaixou os EUA em 2011? Nem eu”, pontua.