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Controles ineficientes

Tempestade provocada pela queda das ações do Credit Suisse se espalha pela Europa

As ações do Credit Suisse caíram 24,24%, refletindo preocupações com as consequências dos problemas nos bancos regionais dos EUA.

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16 de março de 2023
Vinicius Palermo
Tempestade provocada pela queda das ações do Credit Suisse se espalha pela Europa
Resultado do Credit Suisse liga alerta sobre os efeitos da globalização

As ações do Credit Suisse caíram 24,24% na quarta-feira, 15, e atingiram nova mínima histórica, refletindo preocupações crescentes de que os problemas que atingem os bancos regionais dos Estados Unidos tenham migrado para o outro lado do Atlântico. Outros grandes bancos europeus foram atingidos, com as ações dos dois maiores bancos internacionais da França, Société Générale e BNP Paribas, ambos caindo mais de 10%. As ações do alemão Deutsche Bank AG caíram 8%.

A queda nos preços de títulos e ações do Credit Suisse indica que “os investidores julgam que este banco precisa ser resgatado”, disse Joost Beaumont, chefe de pesquisa bancária do banco holandês ABN Amro.
“Se os reguladores não lidarem bem com a situação do Credit Suisse, isso causará ondas de choque em todo o setor”, disse. “Para piorar a situação, ambos os lados do Atlântico têm problemas bancários.”

Autoridades do Banco Central Europeu (BCE) entraram em contato com bancos que a instituição supervisiona para questioná-los sobre sua exposição financeira ao Credit Suisse, segundo fontes com conhecimento do assunto.

A consulta veio após a ação do Credit Suisse despencar na Bolsa de Zurique, arrastando os papéis de outros grandes bancos europeus em meio a temores de contágio financeiro.

Uma porta-voz do BCE se recusou a comentar o assunto. O Credit Suisse é classificado como instituição financeira “sistemicamente importante”, segundo regras bancárias internacionais criadas após a falência do Lehman Brothers.

Essa designação exige que o banco detenha quantidades maiores de capital e mantenha planos para uma liquidação ordenada de suas operações caso venha a ter problemas.

Os principais reguladores do Credit Suisse estão na Suíça, mas por contar com operações na Europa, no Reino Unido, na Ásia e nos EUA, o banco suíço também é monitorado de perto por autoridades locais.

As ações do banco Credit Suisse operaram em forte queda na manhã de quarta-feira, após o principal acionista da instituição suíça, o Saudi National Bank (SNB), da Arábia Saudita, descartar a hipótese de oferecer mais assistência financeira à instituição.

“A resposta é absolutamente não, por muitas razões além da razão mais simples, que é regulatória e estatutária”, disse o presidente do SNB, Ammar Al Khudairy, em entrevista à Bloomberg TV.
Logo no início da manhã (de Brasília), o papel do Credit Suisse chegou a ter queda de 10% na Bolsa de Zurique.
Na terça-feira, 14, o Credit Suisse havia dito ter identificado “fraquezas significativas” na divulgação de resultados financeiros dos últimos anos em função de controles internos ineficientes.

No relatório anual de 2022, o banco suíço disse que sua liderança, incluindo o CEO Ulrich Körner e o diretor financeiro Dixit Joshi, que começaram a trabalhar na instituição no ano passado, concluiu que seus controles não são eficientes.

Apesar das falhas, o Credit Suisse disse que suas demonstrações financeiras “representam razoavelmente, em todos os aspectos relevantes, a condição financeira consolidada do grupo”.

O Credit Suisse teve de adiar seu relatório anual na semana passada, por conta de questionamentos da Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM dos EUA) sobre fluxos de caixa de 2019 e 2020, que foram revisados no relatório anual de 2021.

No documento divulgado na terça, o Credit Suisse disse que as revisões são resultado das fraquezas apontadas e que pode haver outras distorções relevantes.

O banco suíço enfrenta uma grande crise de desconfiança, com resultados ruins, desde o ano passado.
No final de julho, anunciou que reformularia seu banco de investimento e sairia de alguns outros negócios para se tornar uma instituição mais enxuta e menos arriscada, após desastres financeiros que incluíram um golpe de US$ 5,1 bilhões em 2021 do cliente Archegos Capital Management. 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que está acompanhando com sua equipe a crise no banco suíço Credit Suisse. Questionado por jornalistas se ele havia entrado em contato com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para falar sobre o assunto, ele sinalizou positivamente.

O fato de que o principal acionista do Credit Suisse, o Saudi National Bank, descartou dar mais assistência financeira ao banco suíço detonou na quarta-feira nova onda global de aversão ao risco.

Na segunda-feira, 13, Haddad disse que acompanhava os desdobramentos do fechamento do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank, os maiores bancos americanos a quebrarem desde a crise de 2008.
O ministro relatou ter entrado em contato com Campos Neto no fim de semana para debater o tema.