A ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que ela não consultou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tomar a decisão de votar favoravelmente a um empréstimo de US$ 1 bilhão feito pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) à Argentina.
Ela foi questionada sobre o empréstimo ao País vizinho pelo deputado Vicentinho Junior, durante audiência pública na Comissão Mista de Orçamento para discussão do Plano Plurianual (PPA).
“Acordei surpresa. Não é que eu não fui consultada, eu que não consultei o presidente Lula. O presidente Lula não me ligou, não entrou em contato comigo, porque é natural: eu sou governadora desse banco”, respondeu a ministra.
Ela ressaltou que o Brasil tem participação no CAF e que a instituição se reúne como um banco para ajudar os países da América Latina, incluindo o Brasil, seus Estados e municípios.
Tebet relatou que houve uma demanda por um empréstimo de US$ 1 bilhão para a Argentina por um período de dez dias, pedido que foi votado por 21 países. “Minha secretária, por minha determinação, foi autorizada a votar favoravelmente, como 20 de 21 países votaram favoravelmente. Todos os países que fazem parte do CAF, esse banco que não é nosso, não tem dinheiro federal, e foi aprovado (o pedido de empréstimo)”, afirmou.
A ministra ressaltou que a Argentina já quitou o empréstimo e não deve nada ao CAF. Ela ainda justificou que pesou para a decisão do Brasil ao aprovar o empréstimo o fato de a Argentina ser o terceiro maior parceiro comercial do País e que, sim, há uma preocupação com a situação do país vizinho. “Esse processo é comum. Sou governadora de alguns bancos, temos processos e pedidos diários, como nós pedimos também. Não é nada incomum, é muito natural”, reiterou.
A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência divulgou nota na quarta-feira, 4, para dizer que o empréstimo de US$ 1 bilhão feito pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) à Argentina teve como único objetivo “ajudar o país com escassez de reservas”.
O empréstimo-ponte foi concedido à Argentina para que o Fundo Monetário Internacional (FMI) pudesse liberar um desembolso de US$ 7,5 bilhões ao país vizinho. O Brasil agiu porque, a rigor, o país vizinho não poderia mais ter acesso aos recursos, uma vez que já havia esgotado o limite de crédito.
A nota da Secom diz que “diferentemente do que vem sendo repercutido” (pela imprensa), o empréstimo não teve intervenção do presidente. O comunicado afirma, ainda, que Lula não conversou sobre o empréstimo com Tebet.
Depois da publicação da notícia, começaram a ser veiculadas no X (ex-Twitter), mensagens com a hashtag #impeachment, por causa da atuação do presidente brasileiro para ajudar a Argentina. As postagens acirraram a disputa política entre apoiadores de Lula e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O contato do Palácio do Planalto com Tebet ocorreu no fim de agosto, às vésperas da visita do ministro da Economia, Sergio Massa, nome apoiado pelo presidente Alberto Fernández para a sua sucessão. Partiu do gabinete do ex-chanceler Celso Amorim. Ele despacha no terceiro andar do Planalto, perto do gabinete do presidente, e atua hoje como assessor especial de Lula para a área internacional.