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Rotas comerciais

Setor agroalimentar sofre com desabastecimento após guerra da Ucrânia

Além disso, a destruição de área de cultivo da Ucrânia pode reduzir a disponibilidade de volume de grãos no mercado global.

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11 de maio de 2023
Vinicius Palermo
<strong>Setor agroalimentar sofre com desabastecimento após guerra da Ucrânia</strong>
O transporte de alimentos por água é um dos setores afetados pela guerra na Ucrânia.

O setor agroalimentar seguirá ao longo de 2023 impactado pelas tensões de abastecimento que surgiram com o início da guerra na Ucrânia. Essa é a avaliação de economistas da Coface, líder global em seguro de crédito comercial e em serviços especializados, que analisaram as perspectivas para o setor durante o webinar “Setor Alimentar Global: Oportunidades e Riscos”.

Simon Lacoume, Economista do Grupo Coface especializado em Agroalimentar, afirmou que as incertezas sobre as rotas comerciais na área do mar Negro restringem o comércio global de cereais, cuja produção global deve cair 1,0% em 2022/23. Além disso, a destruição de área de cultivo da Ucrânia pode reduzir a disponibilidade de volume de grãos no mercado global.

“A produção de agricultura está severamente impactada ainda pelos efeitos da guerra da Ucrânia. A tendência é que os preços ainda vão continuar em patamares elevados para 2023 e 2024”, afirmou o economista.

Outro risco apontado por Lacoume para setor é a renovação de medidas protecionistas por alguns países (como Egito, Índia) para lidar com pressões inflacionárias ou escassez de alimentos. Ele falou ainda sobre os impactos de eventos climáticos esperados a partir do segundo semestre.

“A maioria dos modelos indica que o La Niña está terminando e ocorrerá a transição para ENSO-neutro durante março/abril de 2023. Depois disso, há uma grande chance de o ENSO-neutro persistir até julho de 2023, seguido de uma transição para o El Niño. As probabilidades de El Niño são cada vez mais fortes, acima de 80%, a partir de setembro”, reforçou em sua apresentação.

O economista avalia que o alto nível de preços das rações (milho, soja) impactam significativamente os custos da pecuária e podem impulsionar preços crescentes de produtos de origem animal (laticínios, carne, ovos) e indústrias de alimentos processados.

Patricia Krause, Economista da América Latina na Coface, também destacou que as condições meteorológicas continuam a ser uma grande fonte de incerteza, com a transição de La Niña para um possível El Niño, ao traçar os cenários para o setor agroalimentar para a região.

A economista chamou atenção para os patamares ainda elevados da inflação de alimentos na região, embora os índices tenham apresentado uma moderação na margem. “Isso acaba afetando o poder de compra das famílias, especialmente de baixa renda. O setor de alimentos é o mais resiliente, a alimentação é a última coisa a ser cortada, mas ao mesmo tempo você acaba tendo substituições. Então há oportunidade para empresas para alguns segmentos, enquanto outros terão um cenário mais difícil”, afirmou.

Patricia avalia ainda que a forte alta dos juros promovia pelos bancos centrais deve afetar as empresas altamente alavancadas do setor na região. “É importante monitorar de perto o andamento das empresas e sua capacidade de renovação de crédito”, completou.

Na Argentina, forte seca afetará a safra 2022/2023, no terceiro ano de La Niña, resultando no pior desempenho para o setor em mais de 20 anos. São espetadas fortes quedas na produção de trigo estimada em 11,5 milhões de toneladas (-50% a/a), milho em 32 milhões (-37%) e soja em 23 milhões (-45%), o que também está se tornando um grande problema para o setor de carne.

“Ao contrário de 2022, desta vez os preços das commodities agrícolas não serão suficientes para compensar o menor volume de produção. Haverá efeitos sobre as exportações, com cenários previstos de queda de US$ 20 bilhões neste ano. E isso é muito importante para o governo, em um momento de escassez de reservas cambiais, uma vez que o setor agro é a principal fonte de dólares”, disse.

Já para o Brasil, a perspectiva bastante favorável para a safra neste ano, que deve ser recorde com uma alta de quase 15% em comparação com o último ano. “As principais culturas, soja e milho, devem apresentar crescimento bastante expressivo. O ponto de atenção neste momento é a questão dos preços internacionais, que apresentam alguma moderação. A questão é se essa redução irá se sustentar adiante”, afirmou Patricia, acrescentando que o um maior crescimento na China poderia favorecer as exportações agrícolas brasileiras.