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Secretário-geral da ONU diz estar ‘chocado’ com ‘deturpação’ de suas declarações

Guterres disse que, no começo de sua intervenção na terça-feira, ele afirmou claramente que condenava os atos “terríveis e sem precedentes” de terrorismo do Hamas contra Israel em 7 de outubro.

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25 de outubro de 2023
Vinicius Palermo
Secretário-geral da ONU diz estar ‘chocado’ com ‘deturpação’ de suas declarações
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, afirmou na quarta-feira, 25, estar “chocado com a deturpação por alguns das minhas declarações de ontem [terça-feira] no Conselho de Segurança”. Em breves declarações na quarta-feira na sede da entidade, ele ressaltou que jamais justificou atos de terrorismo do grupo palestino Hamas. “Isso é falso, pelo contrário”, enfatizou.

Guterres disse que, no começo de sua intervenção na terça-feira, ele afirmou claramente que condenava os atos “terríveis e sem precedentes” de terrorismo do Hamas contra Israel em 7 de outubro.

Ele ressaltou que nada justifica ataques contra civis e o sequestro deles. Ao mesmo tempo, recordou que também mencionou as dificuldades para o povo palestino, mas acrescentou que isso não poderia justificar os ataques do Hamas.

O secretário-geral da ONU se viu alvo de críticas, após dizer na terça que estava preocupado com “violações do direito internacional” na incursão militar de Israel na Faixa de Gaza.

Guterres qualificou como “alarmantes” os constantes bombardeios em Gaza e o nível de destruição e de vítimas civis, e pediu um cessar-fogo humanitário, acrescentando que o ataque do Hamas não poderia justificar “a punição coletiva ao povo palestino”.

Ainda criticou o fato de que Israel determinou que os palestinos fossem para o sul de Gaza, mas posteriormente “continuou bombardeando o próprio sul”. Na quarta, Guterres disse que foi necessário esclarecer sua fala, a fim de “deixar a situação clara, sobretudo em respeito às vítimas e suas famílias”.

O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, afirmou na quarta-feira, 25, que seu país negará vistos a representantes das Nações Unidas em reação às declarações do seu secretário-geral. Em reunião na terça-feira, 24, Guterres afirmou que o ataque do grupo terrorista Hamas de 7 de outubro “não surge do nada, mas de 56 anos de ocupação” – como reação, Israel pediu pela renúncia do dirigente.

Erdan destacou que Israel já começou a adotar esta política e que negou um visto ao subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths. “É hora de dar uma lição” aos funcionários da ONU, disse Erdan em entrevista à emissora de rádio do Exército israelense.

Perante o Conselho Geral da ONU, Guterres disse: “os ataques do Hamas não ocorrem no vácuo. O povo palestino foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante”. O secretário-geral das Nações Unidas ainda disse que a população palestina viu como “sua terra era devorada sem cessar pelos assentamentos e assolada pela violência”.

Para o governo de Israel, porém, Guterres demonstrou parcialidade. “Senhor secretário-geral, em que mundo você vive?”, questionou o chanceler israelense, Eli Cohen. “O secretário-geral perdeu toda a moralidade e imparcialidade. Quando ele diz que os ataques não ocorreram no vácuo, ele está tolerando o terrorismo”, afirmou o embaixador Gilad Erdan.

Os comentários do secretário-geral da ONU também foram criticados por Dani Dayan, presidente do Museu do Holocausto de Jerusalém, Yad Vashem, que argumentou que “o massacre de judeus pelo Hamas em 7 de outubro foi genocida nas suas intenções e imensamente brutal na sua forma.” “Parte da razão pela qual difere do Holocausto é porque os judeus hoje têm um Estado e um Exército. Não estamos indefesos ou à mercê de outros”, acrescentou o presidente do Yad Vashem.

Depois dos massacres perpetrados pelo grupo terrorista Hamas em Israel há mais de duas semanas – o ataque com maior número de mortes na história do Estado judeu -, o governo israelense comparou suas ações às do Estado Islâmico ou ao genocídio nazista de milhões de judeus. Israel também declarou que as atrocidades cometidas pelo grupo terrorista foram o pior massacre contra judeus desde o Holocausto.

A agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados palestinos advertiu nesta quarta-feira, 25, que, sem entregas imediatas de combustível, ela terá de reduzir fortemente as operações de ajuda na Faixa de Gaza. A zona tem sido bloqueada pelos devastadores ataques aéreos israelenses desde que militantes do Hamas lançaram um ataque a Israel, há mais de duas semanas.