Secretária estadual de Políticas para Mulheres, a vereadora licenciada Sonaira Fernandes (Republicanos) usou as redes sociais para combater o uso de máscaras contra covid-19. Quase três anos após o início da pandemia, a parlamentar, declaradamente bolsonarista, citou a “verdadeira ciência” para dizer que o incentivo à proteção não tem eficácia comprovada e, por isso, é um erro.
Entidades internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, já atestaram a importância das máscaras inúmeras vezes desde 2020 e refizeram a recomendação em janeiro deste ano, dada a rápida disseminação da mais recente subvariante ômicron, nos Estados Unidos, e da subvariante XBB.1 5, na Europa.
Na publicação, a secretária menciona o envio de um ofício à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pelo presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran da Silva Gallo, no qual são elencados dados que, segundo ele, contrariam a necessidade do uso da proteção em aviões e aeroportos, por exemplo. Essa seria, portanto, a “verdadeira ciência” mencionada por Sonaira, que já tentou, como vereadora, derrubar o passaporte da vacina na capital e dificultar a imunização em crianças e adolescentes.
Em consonância com a proposta da secretária, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) – que se recupera da covid-19 recluso no Palácio dos Bandeirantes – sancionou na quarta, 15, projeto que derruba a exigência de vacinação contra o vírus para ter acesso aos locais públicos e privados do Estado. A liberação inclui escolas até mesmo de ensino infantil. A partir de agora, apenas profissionais da saúde precisam manter a vacinação em dia de forma obrigatória.
Prometida durante a campanha, a medida vai na contramão dos planos do governo federal, que vem defendendo todo o esforço para ampliar a cobertura vacinal, inclusive com a obrigatoriedade para o acesso a locais públicos e para receber benefícios federais, como o Bolsa Família.
O direito ao programa social voltará a depender da imunização dos filhos dos beneficiários. Também vai contra a mobilização feita pela Prefeitura de São Paulo para atrair famílias aos postos de saúde para vacinar seus filhos. Nesta quarta, o Município realiza o “Dia D” da vacinação para menores de até cinco anos de idade em todas as unidades de saúde e até mesmo nas escolas.
O projeto sancionado por Tarcísio foi apresentado pelos deputados estaduais que compõem a bancada bolsonarista na Assembleia Legislativa. São eles: Janaína Paschoal (PSL), Altair Moraes (Republicanos), Carlos Cezar (PSB), Castello Branco (PSL), Coronel Nishikawa (PSL), Coronel Telhada (PP), Agente Federal Danilo Balas (PSL), Delegado Olim (PP), Douglas Garcia (PTB), Gil Diniz (sem partido), Leticia Aguiar (PSL), Major Mecca (PSL), Marta Costa (PSD), Valeria Bolsonaro (PRTB), Frederico d’Avila (PSL) e Tenente Nascimento (Republicanos).
Sonaira também foi às redes para comentar – e comemorar – a sanção da lei. A secretária afirmou que a medida era uma “demanda da sociedade”, que assegura o “direito de ir e vir” das pessoas no Estado. Ela também afirmou que a cobertura vacinal em São Paulo é uma das maiores do País, mas não citou que as taxas de imunização no Brasil só têm caído.
Segundo estudo divulgado ano passado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a taxa de vacinação infantil no Brasil, que já foi de quase 100%, caiu para 71,49%. De acordo com a pesquisa, realizada em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o porcentual coloca o Brasil entre os dez países com menor cobertura vacinal do mundo.
No Twitter, o governador afirmou ser favorável à imunização, disse que tomou a vacina contra covid-19, mas se declarou um defensor da liberdade. “Vamos reforçar as campanhas de conscientização e garantir que as doses sejam disponibilizadas a todos”, complementou.