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Cessar-fogo

Rússia e China vetam proposta americana para o fim da violência em Gaza

A Argélia também votou contra a resolução, enquanto Guiana se absteve e os demais 11 países votaram a favor do texto.

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22 de março de 2024
Vinicius Palermo
Rússia e China vetam proposta americana para o fim da violência em Gaza
A embaixadora americana, Linda Thomas-Greenfield, disse que os EUA desejam um cessar-fogo imediato e duradouro.

Uma proposta de resolução enviada pelos Estados Unidos ao Conselho de Segurança foi vetada pela Rússia e China na sexta-feira.  A Argélia também votou contra, enquanto Guiana se absteve e os demais 11 países votaram a favor do texto.

A proposta afirmava ser “imperativo” ter “um cessar-fogo imediato e sustentado para proteger os civis de todos os lados”, facilitar a entrega de ajuda “essencial” e apoiar as negociações em andamento entre Israel e os militantes do Hamas para um fim sustentado da violência, vinculado à libertação de todos os reféns. 

Após semanas de negociações entre os membros do Conselho de Segurança, a minuta dos EUA marca uma mudança de posição em relação à última vez que os membros se reuniram, em 20 de fevereiro, quando a diplomacia americana vetou uma resolução da Argélia que exigia um cessar-fogo imediato.

O documento também exige acesso humanitário a reféns, proteção aos civis e reconstrução liderada pela ONU. Condena atos de terrorismo, pede respeito aos acordos humanitários e reitera apoio à solução de dois Estados.

Ao abrir a reunião explicando a proposta, a embaixadora americana, Linda Thomas-Greenfield, disse que os EUA desejam um cessar-fogo imediato e duradouro. No entanto, ela pontuou que é necessário fazer “o trabalho árduo da diplomacia” para tornar esse objetivo uma realidade e isso tem que se tornar “real no terreno”.

Para ela, a resolução ajudaria a pressionar o Hamas a concordar com um acordo sobre o fim dos combates e a libertação dos reféns. Ela argumentou que a resolução finalmente condenaria o Hamas, mas também aliviaria o terrível sofrimento e a violência que assolam Gaza. A embaixadora americana também destacou que uma invasão de Rafah seria um erro.

Antes de votar contra a resolução, o embaixador da Rússia, Vassily Nebenzia, disse que os EUA haviam prometido um acordo para acabar com os combates repetidas vezes. 

O representante russo afirma que os EUA reconheceram a necessidade de um cessar-fogo em um momento em que “mais de 30 mil habitantes de Gaza morreram”. Para o diplomata, os Estados Unidos estavam tentando “vender um produto” para o Conselho ao usar a palavra imperativo em sua resolução. Segundo ele, “isso não é suficiente” e o Conselho deve “exigir um cessar-fogo”.

Vassily Nebenzia disse que não havia nenhum pedido de cessar-fogo no texto, acusando a liderança americana de “enganar deliberadamente a comunidade internacional”. Ele afirmou que a proposta está apenas “jogando com os eleitores dos EUA”. 

Segundo o embaixador russo, um projeto de resolução alternativo, que ele considera “equilibrado e apolítico”, está sendo distribuído por alguns outros membros do Conselho.

Em meio a relatos de bombardeios contínuos em Gaza na sexta-feira, os trabalhadores humanitários da ONU destacaram “níveis chocantes de doenças e fome” depois de visitar um hospital sobrecarregado no norte do enclave.

O principal funcionário da ONU responsável pela ajuda no Território Palestino Ocupado, Jamie McGoldrick, chegou ao hospital Kamal Adwan em Beit Lahia na quinta-feira, onde as crianças com fome grave e em risco de morte estão sendo tratadas em uma nova instalação de alimentação especializada apoiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo o Escritório de Assistência Humanitária da ONU, sem tratamento rápido, essas crianças correm risco iminente de morte. O Ocha ainda fez um apelo para que todas as partes do conflito respeitem as leis da guerra e o direito humanitário internacional. 

Combustível e suprimentos médicos foram entregues ao hospital Kamal Adwan, “mas a ajuda é apenas uma gota”, de acordo com Agência da ONU para Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa. 

Relatos da mídia indicaram que o ataque militar israelense ao Hospital Al Shifa na Cidade de Gaza continuava pelo quinto dia consecutivo. A instalação é o maior centro de saúde de Gaza e só recentemente restaurou serviços “mínimos”. Segundo o Ocha, a violência dentro e ao redor da instalação colocaram pacientes, equipes médicas e tratamento em risco.

A violência contínua, os “bombardeios incessantes” e o colapso da ordem civil, além das restrições de acesso, “continuam a impedir a resposta humanitária”, insistiu o escritório da ONU. “Com os combates agora em seu sexto mês, e Gaza cada vez mais perto da fome, precisamos inundar o enclave com ajuda”, destacou.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou os apelos americanos para interromper os planos de uma invasão terrestre da cidade de Rafah, no sul de Gaza. Netanyahu afirmou que disse ao secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que uma ofensiva terrestre é a única maneira de destruir o Hamas.

“Eu disse que não temos como derrotar o Hamas sem entrar em Rafah e destruir os batalhões restantes lá”, contou. “Eu disse a ele que espero que façamos isso com o apoio dos Estados Unidos, mas se necessário, faremos sozinhos”.

Antes da reunião, Blinken disse que os EUA apoiam o objetivo de Israel de derrotar o Hamas, mas acredita que existem alternativas a uma invasão terrestre. Mais de 1 milhão de palestinos deslocados procuraram abrigo em Rafah depois de fugirem dos combates em outras partes de Gaza. Os EUA e o resto da comunidade internacional temem que uma invasão israelita conduza a grandes vítimas civis.