Economia
Asfixia

Rui Costa diz que presidente do BC presta desserviço e promete reação sobre juro

O ministro Rui Costa questionou o motivo de Campos Neto manter “a mesma dose de remédio” para conter a inflação.

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22 de março de 2023
Vinicius Palermo
Rui Costa diz que presidente do BC presta desserviço e promete reação sobre juro
O ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Horas antes de o Comitê de Política Monetária (Copom) divulgar os rumos da taxa básica de juros, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse a jornalistas na quarta-feira, 22, que o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, presta um “desserviço” à população brasileira ao manter em 13,75% a Selic, que baliza todos os empréstimos. Ainda segundo o ministro, o governo já tem uma reação ensaiada caso o juro não caia: redobrar as críticas e ataques a Campos Neto.

“O Brasil é disparado a maior taxa real de juros do mundo. Então, a economia está sendo asfixiada. O comércio está sendo asfixiado em seu financiamento. Nós estamos com uma crise de crédito”, afirmou Rui Costa. “Acho que não é explicável essa posição do Banco Central de ficar irredutível a uma taxa tão exorbitante de juros. Ou o mundo inteiro está errado e só o Banco Central Brasileiro está certo”, prosseguiu. “O que o presidente do Banco Central está fazendo é um desserviço à nação brasileira”, disse o ministro da Casa Civil em café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto.

O Copom calibra a taxa de juros para o controle da alta de preços. Quanto maior a inflação, menor é o poder de compra das pessoas, principalmente das que recebem salários menores.

Para este ano, a meta central de inflação foi fixada em 3,25% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e será considerada formalmente cumprida se oscilar e ficar entre 1,75% e 4,75%.

Segundo o boletim Focus do Banco Central, a estimativa do mercado financeiro é que a inflação este ano termine em 5,95%. Se confirmada essa projeção, este será o terceiro ano seguido de estouro da meta de inflação.

Braço direito do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e coordenador do governo, Rui Costa, no entanto, questionou o motivo de Campos Neto manter “a mesma dose de remédio” para conter a inflação.

O ministro, contudo, não restringiu as críticas à condução da política monetária por Campos Netto. Costa relativizou a autonomia do BC ao insinuar que a autoridade estaria imune somente às ingerências do governo, mas não aos interesses do mercado financeiro.

“O economista Stiglitz, que está no Brasil, eu vi uma entrevista em que ele coloca algo muito relevante. Ele diz: toda vez que se fala em instituição pública independente, inclusive o Banco Central, a gente tem que se perguntar: independente de quem e do que?”, questionou, citando o prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz.

“Ele disse (Stiglitiz) que nos países que adotam isso – independência -, é levado à sério essa palavra. É independente do governo de plantão, mas é independente do mercado financeiro. Quem adota isso, nos lugares que adota, é proibido sair da direção de um grande banco e exercer a diretoria do Banco Central”, prosseguiu o ministro.

“Em geral, a gente vê com naturalidade que o diretor ou o presidente de um grande banco saia da diretoria e vá para o BC, que vai regular e fiscalizar o banco”, completou.

O chefe da Casa Civil ainda afirmou que “cabe” uma proposta legislativa para mudar o regime de indicações para a diretoria do BC. Segundo Costa, há uma incongruência na Legislação que permite a nomeação de ex-diretores de instituições privadas, mas veda a indicação de políticos. O ministro, no entanto, disse que a discussão deve ser primeiro feita pela sociedade e pelo Congresso.

“Alguém sai de uma função pública, oito anos como governador, vem ocupar a direção de uma estatal — ‘isso não pode’, ‘isso é influência negativa’. Agora, alguém sair da direção de um órgão privado, vai para o órgão que vai fiscalizar esse órgão privado, sem nenhum intervalo, nem de um dia às vezes, – não tem quarentena –, aí todo mundo acha normal”, disse ele.

“Isso não tem normalidade. Ele é independente do governo, mas é ligado a quem ele deveria fiscalizar. Isso não é natural. Isso não é correto”, argumentou.

Costa confirmou que o Lula ratificou os dois novos diretores do BC propostos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas se recusou a informar os nomes escolhidos para assumir as diretorias de Política Monetária e de Fiscalização.

O ministro alegou “fidelidade incondicional” ao presidente para não revelar a escolha. Segundo ele, Lula deve anunciar formalmente os escolhidos.