Estados
Tragédia ambiental

Rio Grande do Sul estima custo inicial da reconstrução em R$ 19 bilhões

O desastre ambiental e a crise humanitária seguem em curso, com quase 1,5 milhão de afetados e aumento do número de municípios atingidos no dia a dia

Compartilhe:
10 de maio de 2024
Vinicius Palermo
Rio Grande do Sul estima custo inicial da reconstrução em R$ 19 bilhões
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), divulgou a primeira estimativa preliminar do custo para a reconstrução inicial de grande parte do território após a maior tragédia ambiental do Estado: R$ 19 bilhões. O desastre ambiental e a crise humanitária seguem em curso, com quase 1,5 milhão de afetados e aumento do número de municípios atingidos no dia a dia, com 425 das 497 cidades gaúchas impactadas. Ao menos 164,5 mil gaúchos estão desalojados.

Os cálculos iniciais das nossas equipes técnicas indicam que serão necessários, pelo menos, R$ 19 bilhões para reconstruir o Rio Grande do Sul. São necessários recursos para diversas áreas”, anunciou em rede social. “Insisto: o efeito das enchentes e a extensão da tragédia são devastadores. Nas próximas horas, vamos detalhar as ações projetadas que contemplariam as nossas necessidades”, continuou.
O cálculo não inclui todos os danos materiais dos atingidos, dentre empresas, residências e outros espaços. Na prática, o impacto será ainda maior para uma recuperação.

A sucessão de chuvas extremas, deslizamentos, vendavais e enchentes bloquearam centenas de vias, rodovias, pontes e acessos diversos pelo Estado. A destruição deixou municípios praticamente inteiros debaixo d’água. Onde as cheias baixaram, a devastação começa a ficar ainda mais evidente, como no Vale do Taquari, porém há previsão de novos temporais e repique nas cheias a partir de sexta-feira, 10.
Grande parte dos municípios vivem crise no abastecimento de água, energia e mantimentos.

Para especialista ouvido pela reportagem, o custo da reconstrução ficará mais claro após o fim da tragédia ambiental, quando as águas baixarem e toda a destruição estiver mais evidente. Serão necessários estudos e levantamentos variados para identificar os impactos, assim como para avaliar mudanças e adaptações para evitar que situações tão graves se repitam.

Cálculos preliminares do economista Claudio Frischtak, da consultoria Inter B, indicam que a reconstrução exigirá ao menos R$ 92 bilhões ou 0,8% do PIB.

O especialista destaca que o Rio Grande do Sul tem cerca de 5% da população brasileira, e que o estoque de infraestrutura do País chega a 36% do PIB. “O Estado deve refletir a média do País ou pouco menos, algo em torno de 1,5% do estoque (da infraestrutura). Se metade foi destruída ou danificada ao ponto de ter de ser reconstruída, podemos então indicar que o custo seria cerca de 0,8% do PIB ou R$ 92 bilhões”, afirmou.

Como as novas obras terão que levar em consideração o risco climático, o gasto tende a ser maior. “O custo de reconstruir com maior resiliência (às chuvas) é possivelmente maior do que o foi no passado. Além disso, nem toda infraestrutura urbana que foi fortemente afetada está refletida naquele nível de estoque, a exemplo de vias urbanas e prédios públicos. Logo, o número pode ser maior do que R$ 92 bilhões”, afirmou.

Ele entende esse número como um ponto de partida, um dado que indique o tamanho do desafio que será a reconstrução após a tragédia. “É uma estimativa em termos de ordem de magnitude. Só saberemos de fato quando as águas baixarem e se puder fazer uma avaliação criteriosa”, afirmou.

Segundo ele, o governo federal precisará remodelar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para direcionar parte dos recursos para o estado. Além disso, as emendas parlamentares terão que se concentrar no essencial, com análises baseadas no custo-benefício de cada projeto. “Neste momento, precisamos nos afastar do populismo fiscal e do patrimonialismo com dinheiro público”, afirmou.

Após a tragédia climática que já deixou mais de cem mortos e atingiu mais de 420 municípios do Rio Grande do Sul, a previsão do tempo indica chuva forte no Estado nos próximos cinco dias. Pessoas ainda estão sendo resgatadas e muitas áreas permanecem inundadas.

De acordo com a Climatempo, em Caxias do Sul, por exemplo, do dia 1 a 8 de maio choveu aproximadamente 450 mm, que é o triplo da chuva normal para todo o mês. E ainda há previsão de chover cerca de 300 mm entre quinta-feira, 9, e a próxima segunda-feira, 13.

“Não cabe mais água no solo nem nos rios. Esse volume de chuva vai ter que ser escoado para outras áreas”, acrescenta Josélia Pegorim, da Climatempo.

Em praticamente todo o Rio Grande do Sul já choveu pelo menos o dobro do normal só com a chuva da primeira semana do mês. “A média normal de chuva em maio, em quase todo o Estado, varia de 140 mm a 180 mm. No litoral sul, a média fica entre 100 mm e 140 mm. Então, a perspectiva de chover 300 mm em cinco dias, significa dobrar a média em grande parte do Estado”, afirmou.

Segundo ela, o que se espera para os próximos dias, são novos eventos de chuva generalizada e forte sobre o Rio Grande do Sul. “Os maiores volumes vão cair na Serra Gaúcha, onde nascem os rios que depois vão para os Vales (Jacuí, Taquari) e parte desta água vai para o Guaíba”, alertou a meteorologista.