Economia
Bolsa Família

Renda da população mais pobre sobe 12,6% e bate recorde

O rendimento médio mensal real per capita dos 40% da população com menores rendimentos cresceu 12,6% de um ano para outro, atingindo o maior valor da série histórica.

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20 de abril de 2024
Vinicius Palermo
Renda da população mais pobre sobe 12,6% e bate recorde
Por dia, em média, o rendimento ficou em R$ 17,50 no ano passado, contra R$ 15,60 em 2022.

Os programas sociais do governo fizeram a diferença em 2023 para a camada mais pobre da população, mostrou a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (Pnad Continua) 2023: Rendimento de todas as fontes, divulgada na sexta-feira, 19, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O rendimento médio mensal real per capita dos 40% da população com menores rendimentos cresceu 12,6% de um ano para outro, atingindo o maior valor da série histórica.

Mesmo assim, o rendimento dessa camada de brasileiros ainda é baixo. Por dia, em média, o rendimento ficou em R$ 17,50 no ano passado, contra R$ 15,60 em 2022. A maior cifra foi registrada no Sul, de R$ 26 por dia, enquanto a menor foi no Nordeste, de R$ 11,4 por dia. Segundo o IBGE, contribuíram para o aumento de renda o valor maior do programa Bolsa Família ao longo do ano, a melhoria no mercado de trabalho e o aumento real do salário mínimo.

“Além do reajuste do Bolsa Família, houve maior expansão do número de domicílios que receberam o benefício, e também uma melhoria no mercado de trabalho, com 4 milhões de pessoas a mais. Por fim, o aumento real do salário mínimo, que tem um efeito menor, mas impacta também”, explicou o analista do IBGE Gustavo Fontes.

Levando em conta os valores pagos aos trabalhadores por todas as fontes – trabalho e outros rendimentos -, a renda média mensal no Brasil ficou em R$ 2.846, crescimento de 7,5% em relação a 2022, e de 0,4% contra 2019, se aproximando do valor máximo da série histórica, em 2014, de R$ 2.850,00.

Levando em conta apenas a remuneração por trabalho, sem outras fontes, o rendimento médio em 2023 chegou a R$ 2.979, 7,2% a mais do que em 2022 e 1,8% se comparado a 2019.

Já considerando apenas o pagamento de outras fontes, o valor médio do rendimento mensal do brasileiro subiu 6,1% em 2023 contra 2022, para R$ 1.837, mas caiu 2,9% em relação ao período pré-pandemia, quando registrou R$ 1.892.

Ao abrir os componentes das outras fontes de pagamento – aposentadoria e pensão; aluguel e arrendamento; pensão alimentícia, doação e mesada de não morador; e outros rendimentos mensais, onde se incluem os programas sociais do governo -, o crescimento desse último item em relação a 2022 foi de 11,4%, para R$ 947, e na comparação com 2019 a alta chegou a 26,8%. Em 2023, o componente outros rendimentos atingiu o maior valor da série histórica.

“Houve um aumento significativo tanto em relação a 2023, como em relação a 2019. Isso se deve, sobretudo, ao maior valor médio do Bolsa Família no ano passado. O valor médio do benefício aumentou em 2022 contra 2021 e voltou a crescer em 2023”, disse Fontes.

Se analisados os rendimentos por regiões, o Nordeste registrou em 2023 o menor valor médio mensal, de R$ 1.885, enquanto o Centro-Oeste liderou com R$ 3.335. Entre 2022 e 2023, todas as grandes regiões registraram aumento de rendimentos, segundo o IBGE, com a maior elevação ocorrendo na região Norte, de 9,9%.

“Na comparação com 2019, apenas as regiões Norte e Centro-Oeste apresentaram crescimento, ou seja, as outras regiões não tinham recuperado o rendimento médio das fontes na comparação com o ano que antecedeu a pandemia (2019)”, informou o analista.

A desigualdade no Brasil subiu em 2023 puxada pelo aumento da renda de trabalhadores com nível superior. O rendimento dos 10% mais ricos saltou 10,4%, enquanto a fatia dos 10% com menor rendimento na população teve avanço de 1,8% frente ao ano anterior.

“Em 2023, o décimo da população ocupada com melhores rendimentos teve maior expansão em relação à média, enquanto o décimo da população com menores rendimentos teve o menor crescimento em relação a 2022. Mesmo assim, o Gini continua abaixo do período pré-pandemia”, informou o analista do IBGE Gustavo Fontes.

O índice Gini do trabalho – indicador que mede a desigualdade de renda, numa escala de 0 a 1, em que, quanto mais perto de 1 o resultado, maior é a concentração de riqueza -, atingiu 0,494 em 2023, depois de ter caído para 0,486 em 2022, menor índice da série histórica. Em 2019, antes da pandemia, o indicador estava em 0,506.

A região Sul permaneceu com o menor índice, de 0,432, enquanto a região Nordeste apresentou o maior patamar, de 0,509, mantendo-se como a região com a distribuição de rendimentos de trabalho mais desigual no País.

“Principalmente na comparação com 2022, houve uma recuperação do rendimento da população com nível superior completo e dos empregadores. A gente observou que o mercado de trabalho, nesse último ano, de certa forma, favoreceu a população com nível superior completo”, explicou Fontes.

Segundo o pesquisador, a camada da população de nível superior teve queda de rendimento no período da pandemia, mas no ano passado se beneficiou com a recuperação geral do mercado de trabalho, sendo que o setor que mais cresceu foi o de serviços mais sofisticados, como financeiro, comunicação, informação e administrativo, cujo rendimento médio do trabalho é maior.

Entre os cinco estados com o maior índice de Gini estão Piauí (0,587), Paraíba (0,584) e Rio Grande do Norte (0,517), no Nordeste, mas a lista também inclui o Distrito Federal (0,540) e o Rio de Janeiro (0,519), destacou Fontes. “São UFs (Unidades Federativas) que têm rendimento médio elevado, mas que também tem o nível mais alto de desigualdade no mercado de trabalho”, ressaltou.

Já Santa Catarina apresentou o menor índice Gini de rendimento de trabalho (0,395), seguida de Rondônia (0,426), Mato Grosso (0,434), Paraná (0,438) e Acre (0,448). São Paulo registrou um índice perto da média, com 0,487, informou o IBGE.