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Falta de verba

Refugiados no Chade podem perder assistência

A falta de financiamento humanitário pode deixar milhares de refugiados e deslocados internos no Chade em situação de fome.

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15 de abril de 2023
Vinicius Palermo
Refugiados no Chade podem perder assistência
A realidade de fome de refugiados na África se repete no Chade.

A falta de financiamento humanitário pode deixar milhares de refugiados e deslocados internos no Chade em situação de fome, já nos próximos meses. O alerta é do Programa Mundial de Alimentos, PMA, e do Escritório da ONU para Refugiados, Acnur.

Falando da capital Djamena, Pierre Honnorat, diretor do PMA no país, disse que durante a estação de escassez entre as colheitas, a assistência alimentar pode parar completamente. O PMA teve que reduzir seu apoio e só poderá levar alimentos a cerca de 270 mil refugiados este mês.

Para evitar que a assistência alimentar seja totalmente interrompida e “colocar comida na mesa de todas as pessoas afetadas pela crise” no Chade, o PMA precisa de financiamento adicional de US$ 142,7 milhões para os próximos seis meses.

Ele explica que o Chade está rodeado de países em crise e acolhe cerca de 600 mil refugiados do Sudão, Níger, Camarões e República Centro-Africana, sendo um dos anfitriões na África.

Honnorat conta que o número continua aumentando com o recente conflito nas comunidades do Sudão e outras 300 mil pessoas que precisam de ajuda são chadianas que fugiram de suas casas.

O PMA afirma que depois de fugir do conflito e da violência, refugiados, deslocados internos e suas comunidades de acolhimento enfrentam crescente insegurança alimentar e desnutrição, altos preços dos alimentos e os efeitos destrutivos das mudanças climáticas.

No segundo semestre de 2022, o país ainda sofreu com as inundações mais arrasadoras em 30 anos.

Honnorat adicionou que no ano passado, cerca de 90% dos refugiados no Chade não receberam assistência alimentar adequada e as rações tiveram que ser cortadas pela metade.

Ele alertou que “2023 é outro ano muito difícil” e não há nenhum financiamento a partir de maio para os refugiados e deslocados.

O chefe do PMA no Chade apelou aos doadores para ajudar o governo do país “nos seus esforços para acolher tantos refugiados com tantas crises ao mesmo tempo”, enfatizando a previsão de mais escassez.

A agência da ONU projeta que quase 1,9 milhão de pessoas estarão em situação de insegurança alimentar grave de junho a agosto de 2023, enquanto mais de 1,3 milhão de crianças sofrerão de desnutrição aguda.

Segundo a agência da ONU, outros impactos desastrosos da crise podem incluir o aumento do trabalho infantil, casamento de menores e recrutamento para grupos armados.

Ecoando o apelo por ação urgente, o porta-voz do Acnur, Matthew Saltmarsh, da também apelou à comunidade internacional para ajudar a enfrentar a crise.

Ele afirmou que seriam necessários US$ 172,5 milhões para fornecer proteção e assistência humanitária a 1 milhão de pessoas deslocadas e aos seus anfitriões. Atualmente, apenas 15% foram financiados.

Falando sobre soluções de longo prazo para a crise, Honnorat destacou um projeto do PMA e Acnur, em parceria com o Ministério da Agricultura do Chade, para promover empoderamento e autossuficiência entre os deslocados, dando capacitação para que eles se tornem agricultores.

Segundo ele, foram reabilitados 1,6 mil hectares de áreas produtivas, que já produziram 2,9 mil toneladas de alimentos. Após a iniciativa, 16 aldeias já não precisam de assistência.