Economia
Aumento de 500%

Reforma tributária provocará impactos negativos para a floricultura nacional

O texto da Reforma Tributária, recentemente aprovado na Câmara dos Deputados e atualmente em tramitação no Senado, tem como objetivo simplificar a legislação tributária.

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23 de setembro de 2023
Vinicius Palermo
Reforma tributária provocará impactos negativos para a floricultura nacional
A redação não ofereceu tratamento igualitário a todos os produtos da Horticultura (FFLV)

O texto da Reforma Tributária, recentemente aprovado na Câmara dos Deputados e atualmente em tramitação no Senado, tem como objetivo simplificar a legislação tributária. No entanto, a redação não ofereceu tratamento igualitário a todos os produtos da Horticultura (FFLV) e, como consequência, estima-se que o aumento da carga tributária para o setor de flores e plantas ornamentais será de quase 500%.

O setor de Flores e Plantas Ornamentais gera mais de 272.000 empregos diretos, representando 1,17% dos empregos gerados pelo agronegócio brasileiro (CEPEA/ESALQ/USP), sendo o setor que mais emprega mulheres no segmento, com uma média de quase 50% de empregabilidade feminina, chegando a 63%, dependendo da região.

O Ibraflor – Instituto Brasileiro de Floricultura –defende a necessidade de uma reforma que simplifique o sistema tributário brasileiro, mas alerta que a redação atual representa um grande risco ao setor que tanto contribui na geração de renda, empregabilidade feminina e na fixação do homem no campo.

“O não tratamento igualitário do setor da Horticultura (FFLV) causará grande impacto ao setor de Flores e Plantas Ornamentais, o que afetará a geração de emprego, desestruturando o setor, que ainda não se recuperou da pandemia “covid-19”. Além disso, anulará os benefícios esperados pela recém-criada política nacional de incentivo ao setor, aprovada em julho deste ano”, explicou William José de Wit, presidente do Ibraflor. 

No dia 25 de julho de 2023, a Lei nº 14.637 instituiu a Política Nacional de Incentivo à Cultura de Flores e de Plantas Ornamentais de Qualidade”, sendo uma das suas diretrizes, justamente, garantir “a sustentabilidade econômica e socioambiental da floricultura nacional. “As flores e plantas ornamentais são extremamente delicadas e altamente perecíveis, exigindo cuidados especiais para prolongar a sua durabilidade nas etapas de pós-colheita, logística e comercialização. Essa característica torna nosso produto altamente sensível às flutuações do mercado, exigindo uma rápida comercialização sem espaço para especulações, ao contrário de outros produtos agrícolas”, esclarece o presidente.

A flor, além de sua beleza e significado, também se revela como um poderoso instrumento de desenvolvimento social. Isso se evidencia ao observarmos os polos de floricultura que desempenham um papel crucial no fomento do desenvolvimento em todas as regiões do Brasil, com destaque para São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Ceará, Bahia, Distrito Federal, Pernambuco, Espírito Santo, Pará e Paraíba. Os polos de floricultura são verdadeiros propulsores de crescimento econômico e social, fomentando a expansão do turismo, atraindo investimentos e fortalecendo a cadeia produtiva, desde os pequenos produtores até o comércio varejista.

Durante a pandemia da covid-19 ficou claro o quanto as flores e plantas ornamentais são propagadoras de bem-estar emocional e da qualidade do ambiente. Inclusive, diversos estudos comprovam o papel importante delas na melhora da qualidade do ar em ambientes fechados. 

Na defesa e preservação do setor, o Ibraflor tem atuado junto aos senadores, esclarecendo as singularidades do setor, seu protagonismo na empregabilidade feminina e desenvolvimento socioeconômico das regiões produtoras. “Reconhecemos a necessidade da reforma tributária, mas é essencial que alguns pontos sejam revistos para garantir um tratamento igualitário aos produtos da Horticultura (FFLV) face a sua especificidade. Os senadores estão sendo extremamente receptivos e sinalizando apoio ao pleito. Esperamos que esse apoio se concretize no texto a ser aprovado por eles”, acredita William José de Wit.

Um exemplo importante da empregabilidade feminina no Setor de Flores e Plantas Ornamentais vem da Paraíba, mais precisamente do sertão, do município de Pilões, a 140 km de João Pessoa, região na qual a temperatura média é de 18 graus centígrados. No final dos anos 1990, com o fechamento das usinas açucareiras, o desemprego assolou a região.

Os homens buscaram trabalho nos centros maiores, mas as mulheres precisavam contribuir para o sustento familiar. Assim, um grupo inicial de 21 mulheres, com parcos conhecimentos de agricultura na época, pediu ao Sebrae, em 1999, orientação sobre o que plantar. O Sebrae detectou que as flores consumidas na Paraíba eram provenientes de três estados brasileiros: Ceará, Pernambuco e São Paulo, tomando-se caras para o consumidor final daquele Estado. Como nem tudo no Nordeste representa seca e aridez, foram também realizados estudos climáticos, de solos e de temperatura para verificar a viabilidade da produção de flores naquela região para abastecimento do mercado local.

Mas, faltava o dinheiro e nenhum banco se aventura a investir em quem já não tem crédito. Por meio de projeto junto ao Governo do Estado, pediram R$ 150.000,00 ao Banco Mundial. Receberam a metade – R$ 75 mil -, quase quatro anos depois. Assim, a Cooperativa Flores de Pilões começou a funcionar oficialmente em 2003 com a produção de flores mais simples, como crisântemos.

Em 2007, com o sucesso do primeiro empreendimento, a Cooperativa adquiriu terras em Areias, município a apenas 4 km de Pilões, onde foi instalada uma segunda unidade, o que permitiu a expansão da produção e, agora, com flores mais sofisticadas, como gérberas, rosas e gipsofilas. Diante da expansão da produção em outro município, o nome mudou para Cooperativa Flores do Brejo. Em 2019, no ápice da Cooperativa, que agora se chama COFEP – Cooperativa dos Floricultores do Estado da Paraíba – para ser ainda mais abrangente -, eram 35 mulheres associadas, que, por empregarem seus filhos na produção e colheita, geravam mais de 70 empregos indiretos, aproximadamente.