Edgar Crespo
Edgar Crespo
Tecnologia

Quem são os trabalhadores sem mesa?

A importância desses profissionais na máquina produtiva é inegável, entretanto, é curioso notar como os setores “sem mesa” têm recebido pouca atenção dos produtores de tecnologia.

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12 de junho de 2023
Quem são os trabalhadores sem mesa?
Foto: Divulgação

Nos últimos anos, por conta da crise do Coronavírus, várias empresas passaram a trabalhar no modelo “Home Office”. Ainda que exista um certo entusiasmo com toda essa revolução digital forçada, uma parcela muito importante da força de trabalho no mundo parece ainda não estar participando dessa onda de digitalização. São os chamados “trabalhadores sem mesa” ou “deskless workforce”. 

Cerca de 2,7 bilhões de pessoas, aproximadamente 80% da população economicamente ativa do mundo, exercem funções que não utilizam uma mesa de trabalho em seu dia a dia. Profissionais da agricultura, manufatura, varejo, cuidados de saúde, restaurantes, hotelaria, educação, construção civil, imobiliário, tele entrega, segurança pública e privada e transporte e logística que, pelas características inerentes às suas funções, não têm como trabalhar sentados em um computador. E além disso, muitos desses trabalhadores são considerados serviços essenciais e, como consequência, não estão trabalhando de casa.

A importância e relevância desses profissionais na máquina produtiva é inegável, entretanto, apesar de seu evidente predomínio, é curioso notar como os setores “sem mesa” têm recebido pouca atenção dos produtores de tecnologia. Segundo um estudo publicado pelo fundo de capital de risco Emergence Capital,  apenas 1% dos recursos destinados ao desenvolvimento de novas tecnologias, em softwares corporativos, tem como objetivo atender aos trabalhadores sem mesa.

No Brasil, com base em dados do IBGE, podemos estimar que cerca de 74 milhões de trabalhadores são “deskless”. Se o Vale do Silício tem dado pouca, ou quase nenhuma, atenção ao desenvolvimento de novas tecnologias para os trabalhadores sem mesa, aqui no Brasil a falta de soluções para otimizar o trabalho desses profissionais é ainda maior. 

Para o mundo corporativo, é difícil imaginar trabalhar sem o apoio de softwares. A tecnologia é um dos principais fatores que justificam o recente aumento da nossa eficiência no trabalho. Mas para 80% da força de trabalho do mundo – as pessoas que trabalham sem mesa – a tecnologia ainda é muito limitada. Na maioria das vezes, esses trabalhadores estão na linha de frente da operação de muitas indústrias, e trazer produtividade e tecnologia para eles pode ser um diferencial competitivo, cada vez mais importante. 

Embora tradicionalmente essas indústrias tenham sido vistas como atrasadas na adoção de tecnologia, a pesquisa da Emergence Capital indica que estamos próximos de um ponto de inflexão. Como a geração milênio agora compõe a maioria da força de trabalho. A demanda dos funcionários por novas tecnologias, combinada com poderosas plataformas de computação móvel, torna esse momento dinâmico para a tecnologia da força de trabalho sem mesa. O uso de smartphones, tablets e drones, por exemplo, já são realidade. Ricos em possibilidades, de fácil acesso e portáteis, tais opções vêm criando a cada dia novas formas de executar tarefas, antes consideradas manuais, de maneiras mais precisas e com um ganho incrível de tempo.

Agora do ponto de vista da compra efetiva de novas tecnologias para os trabalhadores sem mesa, a pesquisa do fundo Emergence Capital que entrevistou 100 empresas, realizada em 2018, mostrou que os gastos com tecnologia para trabalhadores sem mesa estão crescendo. 

Apesar de todas as iniciativas de adoção de tecnologias que vão desde veículos autônomos até robôs muito sofisticados na linha de fabricação, pouca coisa tem sido feita, até hoje, para suportar a força de trabalho manual com tecnologia. Os resultados obtidos na pesquisa, mostraram que 82% dos entrevistados planejam aumentar os gastos com os trabalhadores sem mesa. 

Com estes dados já podemos perceber que existe uma tendência de aumento da oferta de tecnologia para os trabalhadores “deskless”, mas quais são os desafios dos trabalhadores sem mesa e como essas novas tecnologias podem ajudar pessoas e empresas a serem mais produtivas e mais seguras? 

Neste sentido, se você é gestor ou proprietário de uma empresa com funcionários que trabalham sem mesa, vários fatores podem tirar seu sono. Ainda que a produtividade seja algo de extrema importância para as empresas, o sentimento dos funcionários quanto às suas condições de trabalho também é fundamental.

E é aí que a tecnologia se faz tão importante, pois mesmo não podendo adicionar mais horas aos turnos de trabalho, com ela é possível ser muito mais produtivos com o tempo que se tem. A possibilidade de maior eficiência e produtividade onde e quando o trabalho está sendo executado são algumas das vantagens na utilização de novas tecnologias nestes setores. 

Tais fatores podem aumentar o sentimento de realização, ou felicidade, desses funcionários, produzindo um engajamento maior em suas atividades. E considerando o fato de que essas empresas, onde a maioria de seus funcionários trabalham sem mesa, têm altas taxas de rotatividade em seus quadros funcionais, é possível afirmar que as novas tecnologias tendem a desempenhar um papel importante na retenção e recrutamento de profissionais.

Mais do que nunca o mercado possui uma oportunidade gigantesca de crescimento e abrir os olhos para a necessidade, cada vez mais urgente, de investimentos em tecnologias aplicadas aos trabalhadores sem mesa é urgente e certamente será um diferencial competitivo para aqueles que agirem primeiro.