A produção de veículos caiu 16,4% em julho na comparação com o mesmo período do ano passado, chegando a 183 mil unidades na soma de carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus. Frente a junho de 2023, houve queda de 3,3% na produção das montadoras, conforme balanço divulgado na segunda-feira, 7, pela Anfavea, associação que representa o setor.
O desempenho reflete as novas paradas nas linhas de montagem, após o impulso dos descontos patrocinados pelo governo nas vendas de automóveis, que duraram apenas um mês.
Com o resultado de julho, o total de veículos produzidos desde o início do ano chegou a 1,31 milhão de unidades, volume parecido (alta de 0,3%) com a produção nos sete primeiros meses de 2022.
As vendas de veículos, de 225,6 mil unidades em julho, foram as maiores em um mês nos últimos dois anos e meio. Refletindo as entregas de carros vendidos com os descontos de R$ 2 mil a R$ 8 mil do programa lançado pelo governo para estimular a indústria automotiva, os licenciamentos de veículos tiveram alta de 24% frente a julho de 2022 e de 19% na comparação com junho de 2023.
A indústria, porém, já tinha reforçado os estoques em maio para atender a corrida às concessionárias.
De janeiro a julho, 1,22 milhão de veículos foram vendidos no País, 11,3% a mais do que no mesmo período do ano passado.
O balanço da Anfavea mostra ainda queda de 27,6% das exportações, no comparativo de julho com igual mês de 2022.
Os embarques, de 30,3 mil veículos no mês passado, caíram 17,1% contra junho, levando a uma queda de 10,6% no acumulado do ano, com 257,6 mil unidades vendidas ao exterior desde o primeiro dia de 2023.
Segundo o levantamento da entidade, 97 vagas de trabalho foram fechadas em julho nas montadoras, que agora empregam 99,6 mil pessoas.
As vendas de carros seguiram aquecidas após o fim dos descontos patrocinados pelo governo. Conforme números levados pela entidade à apresentação mensal de resultados, as vendas de veículos leves mostraram na primeira semana de agosto crescimento de 23% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Na avaliação de Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, o programa do governo, que liberou R$ 800 milhões em créditos tributários para que carros que custam até R$ 120 mil pudessem ser vendidos com descontos de R$ 2 mil a R$ 8 mil, despertou o interesse pela troca do automóvel.
Um gráfico levado pela associação à apresentação dos resultados de julho mostra que o mercado de carros não perdeu ritmo na última semana do mês, quando as entregas praticamente não tinham mais os bônus do governo.
Se daqui para frente, as vendas repetirem o volume de igual período de 2022, os emplacamentos de veículos leves vão terminar o ano com crescimento entre 5% e 7%.
A Anfavea, porém, prefere não mudar por ora a projeção de aumento de 4,1% das vendas no segmento em 2023. “É cedo para fazermos qualquer revisão, o mercado tem oscilado bastante”, explicou Leite.
O presidente da Anfavea abriu a coletiva de resultados destacando o ambiente de maior previsibilidade da indústria, dado o fim da crise aguda na oferta de componentes eletrônicos, combinado à melhora de indicadores macroeconômicos, como a redução do desemprego e o crescimento de atividade acima do previsto tanto no Brasil como no restante do mundo, assim como a elevação na nota de crédito do País pela Fitch.
Conforme Leite, o início, na semana passada, da redução dos juros de referência, a Selic, tem efeito imediato no mercado de automóveis. “O crédito é fundamental. Essa redução tem efeito imediato, e o efeito no médio prazo é mais benéfico ainda”, comentou o executivo.
Os estoques de veículos, que chegaram a 251,7 mil unidades em maio, quando a indústria se preparou para a corrida de consumidores às concessionárias, caíram para 223,6 mil no fim de junho e agora estão em 198,8 mil veículos. É o menor volume nos estoques de fábricas e revendas dos últimos cinco meses, sendo suficiente para 26 dias de venda.
O balanço dos resultados da indústria automotiva referentes a julho expôs as dificuldades das exportações do setor frente à retração de mercados vizinhos da América do Sul, onde a indústria também sofre com o avanço de concorrentes asiáticos, e à tributação de produtos brasileiros na Argentina.
Os embarques para o Chile e a Colômbia, que se tornaram destinos importantes para as montadoras nos últimos anos, recuaram 61% e 42%, respectivamente, desde janeiro. Já as exportações para a Argentina recuaram 2,6%, apesar do crescimento de 12% do mercado vizinho no período.
O México, na contramão dos demais mercados da região, aumentou em 89% as compras de veículos brasileiros, tornando-se assim o principal destino das montadoras brasileiras ao superar neste ano a Argentina, país que historicamente ocupa esta posição.
“Não fosse o México as exportações teriam caído consideravelmente”, disse Márcio de Lima Leite, ao comentar a redução de 10,6% das exportações totais, para 257,6 mil veículos entre janeiro e julho.
Segundo explicou a direção da entidade, enquanto as exportações ao México se beneficiaram da redução do imposto de importação no comércio de veículos entre os países, zerado no mês passado, a Argentina criou um imposto de 7,5% sobre os produtos brasileiros.
Leite disse que a tributação fez com que a indústria brasileira não conseguisse aproveitar o crescimento do mercado argentino e é “flagrantemente” contra o acordo automotivo bilateral, que prevê o comércio de veículos e peças livre de imposto de importação.
“É um custo a mais para o exportador brasileiro colocar seu produto na Argentina”, disse o presidente da Anfavea. O tema, informou, está sendo tratado com o ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
“O governo da Argentina, num primeiro momento, criou um imposto sobre carro de luxo, de até US$ 25 mil, e agora ampliou esse imposto para todas as importações … Temos que garantir que o acordo seja cumprido e que haja competitividade dos produtos”, acrescentou Leite.