Mesmo com uma certa trégua nos ataques diretos ao Banco Central e no debate sobre revisão de meta de inflação, as expectativas inflacionárias para este e os próximos anos continuaram a subir e a se desviar dos alvos definidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no Boletim Focus.
A projeção para o IPCA – índice oficial de inflação – deste ano subiu de 5,79% para 5,89%, contra 5,48% há um mês. Para 2024, horizonte cada vez mais relevante para a estratégia de convergência à inflação do BC, a projeção também avançou, de 4,00% para 4,02%, de 3,84% há quatro semanas.
Considerando somente as 84 estimativas atualizadas nos últimos 5 dias úteis, a mediana para 2023 passou de 5,77% para 5,97%. Para 2024, variou de 4,00% para 4,10%, considerando 80 atualizações no período.
Atualmente, o foco da política monetária está nos anos de 2023 e, com maior peso, de 2024. A mediana na Focus para a inflação oficial em 2023 está bem acima do teto da meta (4,75%), apontando para três anos de descumprimento do mandato principal do Banco Central, após 2021 e 2022.
Para 2024, a mediana está acima do centro da meta (3,00%), mas ainda dentro do intervalo que vai de 1,50% a 4,50%.
Na Focus, ainda houve o salto da mediana para o IPCA de 2025, de 3,60% para 3,78%, de 3,50% há um mês. Da mesma forma, a estimativa para o IPCA de 2026 pulou de 3,50% para 3,70%, contra 3,47% um mês antes. A meta para 2025 é de 3,00% (margem de 1,50% a 4,50%). Ainda não há objetivo definido para 2026.
No Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês, o BC atualizou suas projeções para a inflação no cenário de referência com estimativas de 5,6% em 2023 e 3,4% para 2024. O colegiado ainda inseriu um cenário alternativo, em que a Selic fica estável por todo o horizonte relevante. Nesse cenário, as projeções são de 5,5% para 2023 e 2,8% para 2024. O Copom manteve a Selic em 13,75% ao ano pela quarta vez seguida.
O Boletim Focus divulgado na quarta-feira mostrou também avanço no cenário de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023.
A mediana para a alta do PIB em 2023 passou de 0,76% para 0,80%, contra 0,79% há um mês. Considerando apenas as 58 respostas nos últimos cinco dias úteis, a estimativa para o PIB no fim de 2023 passou de 0,78% para 0,97%.
Apesar de não ter sido divulgado ainda, o PIB de 2022 não faz mais parte do Boletim. Para 2024, o Relatório Focus mostrou estabilidade na perspectiva de crescimento do PIB em 1,50%, mesma projeção de um mês atrás.
Para 2025, a mediana baixou de 1,85% para 1,80%, contra 1,90% de quatro semanas antes. O Boletim ainda trouxe a estimativa para 2026, que está em 2,00% há 49 semanas.
A projeção para o déficit primário em 2023 melhorou no Boletim Focus, de 1,10% para 1,05% do Produto Interno Bruto (PIB), de 1,11% quatro semanas antes.
Para o déficit nominal este ano, a variação foi de 8,00% para 7,85% na última semana, contra 8,35% do PIB há um mês.
O resultado primário reflete o saldo entre receitas e despesas do governo, antes do pagamento dos juros da dívida pública. Já o resultado nominal reflete o saldo já após as despesas com juros.
Em relação ao indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB para 2023, a estimativa se manteve em 61,50% do PIB, de 61,60% há um mês.
Para o ano que vem, a projeção para o rombo primário passou de 0,90% para 0,80% do PIB, enquanto o déficit nominal previsto variou de 7,11% para 7,17% do PIB. Há um mês, os porcentuais eram de 1,00% e 7,22% do PIB, nessa ordem. No caso da dívida, a estimativa foi mantida em 64,00% do PIB, de 64,20% quatro semanas antes.
O cenário da moeda norte-americana em 2023 ficou estável nesta semana. A estimativa para o câmbio neste ano continuou em R$ 5,25. Há um mês, a mediana era de R$ 5,28. Para 2024, a mediana passou de R$ 5,30 para R$ 5,29, contra R$ 5,30 há quatro semanas.
A projeção anual de câmbio publicada no Focus é calculada com base na média para a taxa no mês de dezembro, e não mais no valor projetado para o último dia útil de cada ano, como era até 2020. Com isso, o BC espera trazer maior precisão para as projeções cambiais do mercado financeiro.