Economia
Crédito mais difícil

Presidente da Fiesp diz que País tem maiores taxas de juros do planeta

O empresário observou que, além de manter a taxa, o Comitê de Política Monetária (Copom) sequer mudou muito o tom do comunicado

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22 de junho de 2023
Vinicius Palermo
Presidente da Fiesp diz que País tem maiores taxas de juros do planeta
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, aproveitou na quinta-feira, 22, a abertura de um fórum com representantes comerciais do Reino Unido na sede da entidade para expressar a sua decepção com a decisão da quarta-feira, 21, do Banco Central (BC) de manter os juros em 13,75% ao ano.

O empresário, herdeiro da Coteminas, observou que, além de manter a taxa, o Comitê de Política Monetária (Copom) sequer mudou muito o tom do comunicado para, ao menos, dar uma sinalização de corte em sua próxima reunião, que acontecerá em agosto.

“Continuamos tendo as maiores taxas de juros do planeta, o que nos envergonha”, declarou o presidente da Fiesp para, na sequência, lembrar, diante do enviado de Comércio do Reino Unido, Marco Longh, que o país europeu oferece taxas de juros vantajosas a todas empresas com quem tem relações comerciais.

“Já que estamos em momento de decepção com a decisão do Copom de ontem (quarta-feira), que manteve a taxa de juros e sequer mudou muito o tom do comunicado …, podemos lembrar que o Reino Unido tem linha de financiamento destinada a todas as empresas com relações comerciais com o Reino Unido a taxa de juros muito competitiva”, disse Josué, acrescentando que tal linha pode ajudar empresas brasileiras a melhorar sua competitividade nas exportações ao mercado britânico.

Ele pediu ainda durante o evento que o governo encaminhe ao Congresso o acordo assinado pelos dois governos em novembro de 2022 de fim da dupla tributação, ou seja, a tributação de uma mesma renda nos dois países. O acordo deve chegar ao parlamento britânico na terça-feira, e a expectativa, conforme Longh, é de aprovação até o mês que vem. “Cabe a nós acelerar os tramites no Brasil”, disse Josué.

Segundo o presidente da Fiesp, o acordo não andou no Brasil por resistência da Receita Federal. Porém, disse contar com um compromisso do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de colocar o acordo para votação assim que a matéria chegar à Casa. “Vamos fazer força para que ele seja enviado pelo governo brasileiro para o Congresso para ser ratificado o quanto antes”, defendeu Josué.

As maiores associações do setor de construção civil criticaram também o Banco Central por não cortar os juros e renovaram a pressão sobre a autoridade monetária para que agilize esse movimento. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) distribuíram notas à imprensa cobrando uma mudança de postura por parte do Banco Central.

“Lamentamos que a taxa seja mantida, mais uma vez, nesse patamar exorbitante”, afirmou a CBIC. “Isso está claramente afetando o desempenho da atividade produtiva no país, justamente ela que gera renda e emprego.”

A CBIC lembrou que a indústria da construção está sendo muito impactada pelo juro elevado, com queda de 30,2% dos lançamentos imobiliários nos primeiros meses do ano.

A entidade afirmou ainda que certamente fará uma revisão da sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) setorial neste ano. “O cenário com menor pressão inflacionária, a melhoria das expectativas e a redução de incertezas com a aprovação do arcabouço fiscal pela Câmara demonstram que ou reduzimos os juros ou continuaremos a atrasar o crescimento do país.”

A Abrainc também disse que lamenta a decisão do BC e que reforça a necessidade de queda dos juros. A associação classificou como “preocupante” constatar que o Brasil detém as maiores taxas de juros reais do mundo, com uma taxa de 9,4% ao ano (descontada a inflação), muito acima do segundo colocado, o México, que possui 6,6%.

“Esses números representam um obstáculo significativo para investimentos e têm um impacto prejudicial na geração de empregos, especialmente para a população de baixa renda”. A Abrainc citou que a Selic elevada é ruim para os financiamentos imobiliários do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).

Segundo a Abrainc, a taxa de 13,75% inviabiliza a aquisição de imóveis para milhares de famílias, uma vez que os altos juros resultam em um aumento exorbitante nas parcelas do financiamento.