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Crise bancária

Powell diz que aperto pode ser menos intenso

Na sua visão, novos desdobramentos têm contribuído para tornar as condições de crédito mais restritivas nos Estados Unidos.

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20 de maio de 2023
Vinicius Palermo
Powell diz que aperto pode ser menos intenso
O presidente do Federal Reserve (FED) Jerome Powell.

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, voltou a sinalizar que o processo de aperto monetário nos Estados Unidos pode ser menos intenso a depender do efeito da recente turbulência bancária no país. Na sua visão, embora as medidas de estabilidade financeira adotadas tenham ajudado a acalmar as condições no setor bancário dos EUA, novos desdobramentos têm contribuído para tornar as condições de crédito mais restritivas.

“Portanto, como resultado, nossa taxa básica de juros pode não precisar subir tanto quanto precisaria para atingir nossos objetivos”, disse Powell, durante a Thomas Laubach Research Conference, criada em homenagem ao legado de Thomas Laubach, ex-diretor da Divisão de Assuntos Monetários do Fed. “É claro, a extensão disso é altamente incerta”, ponderou.

Em sua última decisão, o Fed elevou os juros no País em 0,25 ponto porcentual, para o intervalo entre 5% e 5,25% ao ano, alcançando o patamar mais alto desde 2007.

Powell disse ainda que a recente turbulência bancária nos EUA também deve impactar o crescimento econômico, o emprego e a inflação do país.

O presidente do Federal Reserve afirmou também que houve “muito progresso” para conter a inflação em bens, mas acrescentou que em serviços ela continua a mostrar força. Em evento da instituição, o dirigente disse que inclusive a inflação neste momento está em grande medida concentrada em serviços.

Além disso, Powell destacou a correlação entre a inflação e o mercado de trabalho. Ele enfatizou que há um “nível extraordinário de demanda” por trabalho, no mercado atual, o que o Fed acredita que deve desacelerar adiante.

E também analisou o fato de que houve aparentes mudanças na correlação na curva de Phillips, a depender do contexto recente, mas acrescentou que isso não necessariamente representa um problema com a inflação. A curva de Phillips correlaciona justamente inflação e desemprego.

O presidente do Federal Reserve afirmou que a inflação nos Estados Unidos está “muito acima” da meta de 2% ao ano, ao traçar um cenário de comparação com a situação do custo de vida dos americanos no fim da década de 1970. Segundo ele, é obrigação das autoridades monetárias controlarem o custo de vida nas economias e restabelecerem a estabilidade de preços, que é a base de uma economia forte.

“A estabilidade de preços é realmente a base de uma economia forte e a economia não funciona para ninguém sem estabilidade de preços”, disse Powell, ao comentar lições sobre o fim da década de 1970.
O presidente da Fed que, naquela época, a inflação alta era “parte permanente da paisagem”, algo que todos tinham de aceitar e cujos custos eram muito elevados. No entanto, depois o Fed atuou para combatê-la e restaurou a estabilidade de preços nos Estados Unidos.

“Quando temos inflação alta é responsabilidade e obrigação do banco central restaurar e sustentar a estabilidade de preços”, afirmou.

Ele disse que apesar de o custo de vida dos americanos na atualidade não ser tão elevado como em 1970, a inflação ainda está muito acima da meta do Fed, de 2% ao ano. Powell disse que muitas pessoas estão experimentando a inflação alta pela primeira vez em suas vidas e que isso impõe muitas dificuldades, reduz o poder de compra, principalmente, para aqueles que estão à margem da economia.

“E é por isso que o comitê está tão fortemente comprometido em voltar a inflação à nossa meta de 2%. Acreditamos que o fracasso em reduzir a inflação não apenas prolongaria a dor, mas também aumentaria, em última análise, os custos sociais de voltar à estabilidade de preços, causando danos ainda maiores às famílias e empresas”, disse Powell. “Pretendemos evitar isso permanecendo firme na busca de nossos objetivos”, concluiu.

Powell afirmou ainda que, apesar da turbulência recente, os bancos nos Estados Unidos estão mais bem preparados para lidar com desafios do que em crises passadas.

“Os bancos e o sistema bancário são fortes e resilientes e estão bem posicionados para lidar com os desafios que podem enfrentar agora ou no futuro”, disse Powell.

Para Ben Bernanke, que comandou o Fed exatamente durante a grande crise financeira, os bancos nos EUA também estão bem melhores do que no passado. “E isso faz uma grande diferença tanto em termos de estabilidade dos bancos, quanto em termos de impacto no consumo e na economia em geral”, disse, ao dividir o mesmo palco com Powell.

Nobel de Economia em 2022, Bernanke evidenciou que a situação do setor bancário nos EUA após a quebra do Silicon Valley Bank afeta as condições de crédito no país e que o Fed tem monitorado tais efeitos. “O Federal Reserve está, é claro, observando os efeitos dos problemas bancários e, portanto, na economia real”, acrescentou.

Ao ser questionado sobre a divisão de chapéus frente a turbulência bancária e a elevada inflação nos EUA, Powell disse que os instrumentos de política monetária e estabilidade financeira têm objetivos diferentes, mas não são independentes. Na sua visão, são complementares.

“As ferramentas são complementares, quase o tempo todo, porque a estabilidade financeira e a macroeconômica estão profundamente interligadas”, explicou Powell, acrescentando que o objetivo de obter o emprego máximo e a sustentabilidade da estabilidade de preços de forma dependem de um sistema financeiro estável.