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Operação Ptolomeu

Polícia Federal revela operador financeiro do governador do Acre

Relatório da Polícia Federal encartado aos autos que formam a Ptolomeu sustenta que ‘Dudu’ possui ‘inequívoca proximidade’ com o governador.

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22 de março de 2023
Vinicius Palermo
Polícia Federal revela operador financeiro do governador do Acre
Ao governador Gladson Camelli, a polícia federal atribui o papel de suposto 'chefe do grupo' de corrupção.

Em meio à extensa lista de investigados da Operação Ptolomeu, a Polícia Federal aponta um nome central do esquema de desvios e fraudes envolvendo a cúpula do governo do Acre: Eduardo Braga da Rocha, o ‘Dudu’. Os federais o apontam como o ‘principal operador financeiro do governador Gladson Cameli’. Ao governador, eles atribuem o papel de suposto ‘chefe do grupo’.

Tão próximo do governador, ‘Dudu’ ocupava até o início do mês cargo comissionado de chefe de Departamento da Casa Civil do Acre. No dia 9, quando foi deflagrada a terceira etapa da Ptolomeu, a ministra Nancy Andrigui, do Superior Tribunal de Justiça, ordenou seu afastamento cautelar.

Relatório da PF encartado aos autos que formam a Ptolomeu sustenta que ‘Dudu’ possui ‘inequívoca proximidade’ com o governador. Ele já havia sido alvo de pedido de prisão preventiva formulado pelos investigadores da operação que põe sob suspeita a gestão Gladson Cameli e abala o Acre. A PF também pediu o afastamento do governador, o que foi negado.

A PF narra que ‘sobram indícios’ de que Eduardo Braga tem ‘posição de proeminência’ na organização criminosa investigada. Segundo os investigadores, ele atua em três frentes: gerir e organizar as finanças do governador; negociar e receber vantagens indevidas (propina) em virtude de contratos públicos celebrados e delegar serviços menos importantes àqueles que estão abaixo dele na cadeia de comando da organização criminosa.

Ao pedir ao Superior Tribunal de Justiça a abertura da nova fase ostensiva da Ptolomeu, a PF transcreveu diálogos entre outros investigados que indicam o ‘poder e a ascendência’ de Eduardo Braga no grupo investigado, ‘localizando-se muito próximo ao governador do Acre’.

Uma conversa foi recuperada no celular de um dos alvos da Operação Atlântida, aberta pela PF em Cruzeiro do Sul – interior do Estado -, em junho de 2022. O investigado que teve o aparelho apreendido possui, segundo a PF, empresa que detém ‘contratos públicos fraudados’.

Essa empresa, diz a investigação, teria pago propina de quase R$ 500 mil a Eduardo Braga no bojo de um contrato fechado com o governo acreano.

Na terceira etapa ostensiva da Ptolomeu, deflagrada na quinta-feira, 9, por ordem de Nancy Andrigui, do STJ, Eduardo Braga foi alvo de afastamento cautelar do cargo comissionado como chefe de Departamento da Casa Civil do Acre, com salário mensal de R$ 11.069,10.

No entanto, segundo a PF, ‘Dudu’ não parece prestar serviços no órgão público, sendo remunerado, na prática, ‘para prestar serviços privados ao governador, numa flagrante situação de desvio de finalidade’.
De acordo com os investigadores da Ptomoleu, Eduardo Braga ‘gerencia a obra de uma mansão do governador do Acre’.

Em julho de 2022, os investigadores deram início a um monitoramento de ‘Dudu’ e constataram sua proximidade com Gladson Cameli.

Segundo a PF, Eduardo Braga ‘gerencia a vida financeira’ do chefe do Executivo acreano. A PF indica que o comissionado da Casa Civil do Acre é responsável inclusive por realizar transporte e operações com dinheiro do governador.

Ao Superior Tribunal de Justiça, onde tramitam as investigações da Ptolomeu, a corporação entregou Relatório de Inteligência Financeira (RIF). O documento aponta que Eduardo Braga fez ‘depósitos de altos valores’ em espécie em favor de Cameli. Ele também paga suposto empréstimo em favor do governador ‘com impressionantes R$ 100 mil em espécie’.

A PF ainda estabelece ligações entre Eduardo Braga, seu irmão Daniel, e o pai do governador do Acre, Eladio Cameli. Segundo a corporação, os irmãos são oriundos de Manaus, onde mora o patriarca da família Cameli, e passaram a viver em Rio Branco durante o mandato de Gladson, ocupando cargos em comissão em diversas secretarias.

Os investigadores narram que Daniel ocupou, na gestão de Cameli, cargo de diretor de Infraestrutura e Logística na Secretaria de Educação e Esportes do Estado. Posteriormente, deixou a cadeira para ocupar o cargo de diretor administrativo na Secretaria de Saúde – pasta que abriga contratos sob investigação na Ptolomeu.

Um contrato citado na investigação da PF tem como objeto a manutenção predial de instalações da Saúde. Segundo a corporação, a análise do procedimento ‘constatou várias irregularidades’ que ‘geram o lastro financeiro que possibilita o desvio de recursos públicos’.