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PF e Ibama miram quadrilha suspeita de desviar mercúrio para garimpo ilegal de ouro

Os investigados já tiveram bloqueados R$ 2,9 bilhões em bens para garantir o pagamento pelos danos ambientais causados pela quadrilha.

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08 de novembro de 2023
Vinicius Palermo
PF e Ibama miram quadrilha suspeita de desviar mercúrio para garimpo ilegal de ouro
Foram cumpridos 34 mandados de busca e apreensão em quatro Estados.

Uma quadrilha suspeita de desviar 7 toneladas de mercúrio para extração ilegal de ouro em garimpos na Amazônia foi alvo de uma operação desencadeada na manhã de quarta-feira, 8, pela Polícia Federal e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Foram cumpridos 34 mandados de busca e apreensão em quatro Estados. Os investigados já tiveram bloqueados R$ 2,9 bilhões em bens para garantir o pagamento pelos danos ambientais causados pela quadrilha.

A Operação Hermes (Hg) II, autorizada pela Justiça Federal de Campinas (SP), apura crimes contra o meio ambiente, por meio do comércio e uso ilegal de mercúrio, organização e associação criminosa, receptação, contrabando, falsidade documental e lavagem de dinheiro nos Estados do Amazonas, Mato Grosso, São Paulo e Rio de Janeiro.

A investigação começou a partir de uma empresa com sede em Paulínia, no interior paulista, que supostamente produzia falsos créditos de mercúrio no sistema do Ibama e enviava a substância usada na extração do ouro para garimpos da Amazônia.

A PF e o Ibama não identificaram as empresas e as pessoas envolvidas no esquema, o que impossibilitou o contato da reportagem com suas defesas. A PF informou que a empresa de Paulínia foi fechada no final do ano passado devido às irregularidades. A companhia tinha autorização para processar mercúrio, mas não tinha equipamentos instalados para isso. Foi apurado que a empresa importava o material sem ter autorização.

A empresa foi alvo da primeira fase da Operação Hermes, segundo a PF. “A partir da análise dos documentos e dispositivos eletrônicos, a PF identificou uma extensa cadeia organizada de pessoas físicas e jurídicas envolvidas no esquema ilegal de comércio de mercúrio e ouro extraído de garimpos na Amazônia e retirou sete toneladas de crédito de mercúrio dos sistemas do Ibama”, disse, em nota, a corporação.

Na nova fase, a PF busca provas contra o esquema e os compradores finais do mercúrio, além de identificar o patrimônio obtido com a atividade ilícita.

A investigação apontou que o esquema utilizava empresas de fachada, em nome de “testas de ferro” e “laranjas”, para ocultar os bens. Também misturava capital lícito com ganhos ilícitos para dificultar a identificação, usando a compra de imóveis para dar aparência legal ao dinheiro.

Os suspeitos usaram o aeroporto de Viracopos, em Campinas, para o embarque do mercúrio destinado aos garimpos na Amazônia.

O Ibama colheu provas e materiais que serão analisados e podem gerar multas, suspensão de atividades e embargos de áreas de mineração, além de ações penais. Em Alta Floresta (MT), por exemplo, foram apreendidas duas barras de ouro pesando mais de 500g. O material apreendido será analisado pela PF de Campinas. A ação mobilizou 140 policiais federais e 30 servidores do Ibama.

Os garimpos utilizam o mercúrio metálico no processo de separação do ouro incrustado em rochas e outros minerais. Usada sem os devidos cuidados, a substância é despejada no ambiente e se acumula nos sedimentos dos rios, onde se converte em metilmercúrio, uma forma química altamente tóxica, que é absorvida pelos peixes e organismos aquáticos.

Ao consumir o peixe ou ter contato com o mercúrio, a pessoa pode ter perda de visão, dor de cabeça crônica, depressão e chance de desenvolver problemas motores.