Economia
Capacidade

Pérsio Arida diz que Plano Real é algo não repetível

Ele destacou que a implementação do Real só aconteceu pela capacidade do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso

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25 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Pérsio Arida diz que Plano Real é algo não repetível
O economista Pérsio Arida, um dos idealizadores do plano Real e ex-presidente do Banco Central.

O processo de implementação do Plano Real é algo “não repetível”, afirmou na segunda-feira, 24, o economista Pérsio Arida, um dos idealizadores do plano e ex-presidente do Banco Central. Ele destacou que a implementação do Real só aconteceu pela capacidade do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, de aliar, ao mesmo tempo, capacidade política e intelectual.

“São duas capacidades que não costumam coincidir”, frisou Arida em evento da Fundação FHC sobre os 30 anos do plano Real. “É difícil imaginar um ministro da Fazenda que consiga ao mesmo tempo convencer o presidente da República que tinha ideias muito diferentes e próprias, todas erradas, diga-se de passagem”, disse o economista em referência ao então presidente, Itamar Franco.

Arida destacou a habilidade política de FHC de negociar a aprovação do Real com o PFL, que segundo ele era “mal visto” por uma ala significativa do PSDB.

“Mas ele fez a aliança em prol da construção de uma base”, disse Arida, acrescentando ainda que, mesmo tendo sua formação política ligada à esquerda, FHC optou por montar sua equipe na Fazenda com economistas de carreira e “liberais da PUC-RJ”.

O economista ainda destacou, por fim, que o plano Real não foi uma ideia isolada e sim fruto de um trabalho coletivo, após muitos anos de debates e conversas entre economistas, principalmente na academia.

Também presente no evento, o ex-ministro da Fazenda e então presidente do Banco Central durante a implementação do Real, Pedro Malan, disse que, ao mesmo tempo em que se comemora os 30 anos do plano, o Brasil ainda tem “muito que caminhar” em outras frentes.

Ele citou a necessidade de responder o porquê de o Brasil crescer tão pouco, ter uma má distribuição de renda e o fato de “ser tão difícil” fazer reformas no País.

Persio Arida disse ainda que a democracia foi o “verdadeiro motor” da consolidação e estabilização do real até os dias de hoje. Ele argumentou que as eleições penalizam governantes que não tratam com responsabilidade a inflação, problema que, ressaltou, mais afeta a população.

Ao relembrar dos primeiros anos do real, o economista disse que a eleição de Fernando Henrique Cardoso, promovida pelo sucesso do Plano Real, trouxe uma “enorme confiança” de que, se necessário, o então presidente agiria para salvar a moeda que lançou como ministro da Fazenda.

No mesmo webinar, Arminio Fraga, que também foi presidente do BC, colocou a dimensão social, além da democracia, ao explicar a estabilização monetária promovida pelo real. “A âncora é o social, e é o que me permite ter alguma esperança de que possam ser evitadas mudanças que possam vir aí no Banco Central. Senão, todos serão penalizados”, disse Arminio.

No encontro dos formuladores do Plano Real, Gustavo Franco destacou os resultados da moeda que completa três décadas. Ele lembrou que quando o real foi concebido, o Brasil vinha de 15 anos seguidos de inflação média de 16% ao mês. “É o tipo de experiência que estávamos combatendo naquele momento, com tudo que ela fez para estragar a vida econômica”, assinalou Franco, que também foi presidente do BC e hoje é sócio da Rio Bravo Investimentos.

No último mês do modelo monetário anterior, a inflação estava em 9.785% ao ano, porém caiu para 33% já no primeiro ano do real, lembrou Gustavo Franco. Em 30 meses, já estava abaixo de 5% ao ano, indo para 1,6% em 1998. “Um número que confrontado com os de hoje soa muito bem. Quando tivemos 1,6% de inflação neste País? Talvez na República Velha, no Império”, afirmou Franco. “Os resultados são muito bons e estamos orgulhosos dos resultados.”