A produção global de cocaína aumentou drasticamente nos últimos dois anos, segundo um relatório publicado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, Unodc. Entre 2021 e 2022, a alta foi de 35%, a maior desde 2016.
A agência identificou uma tendência de diversificação do tráfico da droga através de novos grupos e núcleos. O relatório global sobre cocaína de 2023 menciona que entidades criminosas do Brasil estão inserindo países lusófonos como Angola, Moçambique e Cabo Verde em suas rotas de transporte da substância.
A chefe de pesquisa e análise do Unodc, Angela Me, disse que o Brasil é um dos principais países de trânsito da cocaína. De acordo com ela, a droga que sai dos países produtores vai à Europa através do Brasil, seja diretamente ou pela África.
O Unodc aponta que apesar do mercado da cocaína continuar concentrado nas Américas e em parte da Europa, há um grande potencial de expansão na África e Ásia.
O documento afirma ainda que o grupo criminoso brasileiro conhecido como Primeiro Comando da Capital, PCC, expandiu sua presença na África e na Europa e controla diversas etapas da distribuição de cocaína.
A análise revela que o tráfico da droga pelo PCC usa a mesma logística do contrabando de produtos lícitos, como cigarros. O documento indica que outros grupos menores estão começando a operar no mercado da substância.
Os níveis recordes apresentados no relatório do Unodc são atribuídos a um aumento do cultivo da folha de coca, mas também a um aumento da demanda em diversas regiões do mundo.
No Brasil, durante a pandemia de Covid-19, a exportação de cocaína caiu. Ao mesmo tempo, houve um aumento elevado de mortes associadas ao uso da substância no país. O relatório atribui esse dado ao aumento da oferta interna.
As intercepções de carregamentos da droga também aumentaram significativamente em nível global. Em 2021, a quantidade recorde de 2 mil toneladas foi apreendida por agentes da lei.
A diretora executiva do Unodc, Ghada Waly, afirmou que o aumento da distribuição de cocaína é uma ameaça transnacional que precisa de uma resposta da comunidade internacional baseada em conscientização, prevenção e cooperação.
Por sua vez, a chefe de pesquisa e análise da agência da ONU afirmou que o objetivo do relatório é servir de referência para estratégias baseadas em evidência.
Ela disse ainda que os dados reunidos no documento podem ajudar os países a antecipar futuros desdobramentos da produção, tráfico e uso da cocaína.