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OMC adverte para o custo da fragmentação no comércio global

Dirigentes da OMC e do FMI advertem para um refluxo na interdependência e no comércio internacionais e para os custos potenciais dessa fragmentação.

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02 de junho de 2023
Vinicius Palermo
OMC adverte para o custo da fragmentação no comércio global
diretora-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, e a diretora-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, advertem para um refluxo na interdependência e no comércio internacionais e para os custos potenciais dessa fragmentação.

Em artigo firmado pelas duas na Finance & Development Magazine, publicada na quinta-feira pelo Fundo, as autoridades afirmam que restrições ao comércio e subsídios têm crescido, na resposta à pandemia e diante da guerra da Rússia na Ucrânia.

Países buscam garantir cadeias de oferta estratégica e recorrem a políticas que distorcem o comércio, apontam. Caso mantidos e aprofundados, esses passos podem “abrir a porta para políticas orientadas para alianças, que reduzem a eficiência econômica e fragmentam o sistema de comércio global”, alertam. Pode ainda haver efeito contrário ao esperado, com cadeias de produção mais limitadas sendo mais vulneráveis a choques localizados.

Georgieva e Okonjo-Iweala afirmam que o investimento estrangeiro direto está cada vez mais concentrado em países com alinhamento geopolítico.

Elas destacam a importância do comércio global, ao resultar em avanços na produtividade, apoiar o crescimento a partir das exportações e reforçar a segurança econômica, ao dar a empresas e famílias opções em caso de algum choque interno. Essas cadeias globais foram cruciais na pandemia, ao circular insumos médicos, inclusive vacinas, recordam.

O FMI e a OMC dizem que a fragmentação “seria custosa para a economia global”. Um cenário com o comércio global dividido em dois blocos poderia levar a uma queda de 5% no PIB global, aponta estudo da OMC. O FMI ainda aponta que a fragmentação no comércio retira de 0,2 a 0,7% do PIB global, e diz que o custo pode ser ainda maior em caso de “desacoplamento tecnológico”.

O alerta é feito em meio a tensões e sanções de parte a parte, em tecnologia inclusive, entre EUA e China. A dupla de autoridades recomenda que causas subjacentes de descontentamento sejam resolvidas, o que seria mais eficaz que as intervenções no comércio hoje vistas. Mesmo com tensões geopolíticas, a cooperação no comércio segue possível, acreditam. Segundo elas, essa cooperação é crucial para avançar em temas cruciais atuais, entre eles as mudanças climáticas.

As dificuldades ainda vistas atualmente nas cadeias de produção global ilustram a importância de um sistema multilateral para a resolução de divergências no comércio. O economista-chefe da Organização Mundial de Comércio (OMC), Ralph Ossa, argumenta que um modelo como o da OMC é a melhor alternativa para garantir segurança econômica, com a flexibilidade e a segurança dada por ele como a melhor opção para mitigar problemas em cadeias de produção.

Segundo Ossa, o ajuste feito pela Etiópia diante da guerra na Ucrânia é um exemplo claro disso. A Etiópia importava 45% de seu trigo de Ucrânia e Rússia, e viu uma forte queda nessas entregas com o conflito, mas conseguiu elevar fortemente importações de EUA e Argentina, exemplifica. “Claramente, uma substituição rápida do tipo entre fornecedores alternativos seria muito mais difícil em uma economia mundial fragmentada”, diz.

Egito e Turquia também conseguiram evitar problemas de desabastecimento no contexto do conflito, recorda. Ossa afirma que as evidências apontam para alta concentração nas cadeias de produção globais.

Ele menciona estimativas segundo as quais a fragmentação da economia global em dois blocos rivais reduziria a renda real em 5,4% em média. A estimativa da própria OMC ainda diz que uma retomada do multilateralismo poderia elevar a renda real em 3,2%.

Para o economista-chefe da OMC, o ideal é que exista um trabalho por uma globalização mais inclusiva, na qual um grupo maior de países possa participar nas cadeias de valor globais.