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Netanyahu diz que não aceita cessar-fogo

Netanyahu afirmou ainda que ninguém teria apelado aos EUA para concordarem com um cessar-fogo após o ataque a Pearl Harbor durante a Segunda Guerra Mundial, ou após o 11 de setembro.

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30 de outubro de 2023
Vinicius Palermo
Netanyahu diz que não aceita cessar-fogo
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou na segunda-feira, 30, que os apelos a um cessar-fogo na Faixa de Gaza são apelos à rendição de Israel ao Hamas.

“Israel não concordará com a cessação das hostilidades após os horríveis ataques de 7 de outubro”, afirmou o líder, em comentários em inglês a meios de comunicação estrangeiros. “Os apelos a um cessar-fogo são um apelo a Israel para que se renda ao Hamas, que se renda ao terror, que se renda à barbárie. Isso não vai acontecer”, disse.

“Este é um momento de guerra. Hoje, traçamos uma linha entre a civilização e a barbárie”, afirmou o líder. “Esta é uma batalha da civilização. A batalha de Israel contra o Hamas e o Irã é a sua batalha”, afirmou.

Netanyahu afirmou ainda que ninguém teria apelado aos EUA para concordarem com um cessar-fogo após o ataque a Pearl Harbor durante a Segunda Guerra Mundial, ou após o 11 de setembro.

O primeiro-ministro afirma que deve haver uma “distinção moral entre o assassinato deliberado de inocentes e o tipo de vítimas não intencionais que acompanham todas as guerras legítimas”, em comentários sobre o número de mortos em Gaza.

O exército de Israel disse ter atingido mais de 600 alvos terroristas do Hamas durante ataques nas últimas 24 horas no norte da Faixa de Gaza. Os militares informaram ter matado dezenas de terroristas e destruído um edifício que o Hamas usava como ponto de partida. “As tropas das FDI (Forças de Defesa de Israel) mataram dezenas de terroristas que se barricaram em edifícios e túneis e tentaram atacar as tropas”, diz o comunicado.

O exército acrescentou que um caça a jato atacou um prédio “com mais de 20 terroristas do Hamas dentro”. Disseram ainda que uma aeronave também foi direcionada para bombardear um ponto de lançamento de mísseis antitanque no setor da Universidade Al Azhar. A instituição está localizada no centro da cidade de Gaza e tem sido alvo de ataques israelenses desde o dia 7 de outubro.

O braço militar do Hamas disse que seus integrantes entraram em confronto com tropas israelenses no noroeste de Gaza com armas pequenas e mísseis antitanque. Os terroristas continuaram a disparar foguetes contra Israel, inclusive contra o centro comercial, em Tel Aviv.

A ONU e equipes médicas alertam que os ataques aéreos estão cada vez mais perto de hospitais, onde dezenas de milhares de palestinos têm procuraram abrigo ao lado de inúmeros feridos.Com a crise Israel-Palestina entrando na quarta semana, as equipes de ajuda da ONU destacaram na segunda-feira a pressão crescente sobre os hospitais do norte de Gaza, onde estão pacientes e profissionais de saúde. 

Segundo o Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, as vizinhanças dos hospitais Shifa e Al Quds, na cidade de Gaza, e do hospital Indonésia, no norte do enclave, foram bombardeadas no fim de semana, em meio a relatos de amplas operações terrestres israelenses.

De acordo com o Ocha, cerca de 117 mil pessoas deslocadas estão abrigadas nos 10 hospitais ainda operacionais em Gaza e em outras partes do norte da cidade, que receberam “repetidas ordens de evacuação” nos últimos dias.

A Organização Mundial da Saúde, OMS, reiterou que “a evacuação dos hospitais é impossível sem pôr em perigo a vida dos pacientes”.

Cesarianas de emergência estão sendo realizadas sem anestesia em meio à escassez de suprimentos médicos e energia e muitos partos estão tendo que ser realizados de forma prematura, disse o Fundo de Populações da ONU, Unfpa, citando testemunhos angustiante da equipe do Hospital Shifa.

A Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, disse na segunda-feira que seus trabalhadores humanitários em Gaza “continuam prestando assistência” a mais de 600 mil pessoas que buscaram segurança nos abrigos da organização. 

“Eles são o rosto da humanidade durante uma das suas horas mais sombrias”, disse a Unrwa em um comunicado.

A agência realizou um serviço memorial no domingo para 59 dos seus funcionários mortos no conflito até agora e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sublinhou a sua “gratidão, solidariedade e total apoio” aos colegas que trabalham para salvar vidas em Gaza enquanto arriscam as suas próprias.

Na noite de domingo, o número de mortos em Gaza desde 7 de outubro ultrapassou a marca de 8 mil, de acordo com o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas em Gaza. O Ocha também disse que os disparos indiscriminados de foguetes de grupos armados palestinos contra cidades e vilas israelenses continuaram nas últimas 24 horas, sem relatos de mortes.

De acordo com as autoridades de Israel, 239 israelenses e cidadãos estrangeiros, incluindo cerca de 30 crianças, permanecem reféns em Gaza e 40 pessoas ainda são dadas como desaparecidas na sequência dos ataques terroristas do Hamas contra Israel, em 7 de outubro, que mataram 1,4 mil pessoas.

A ONU apelou repetidamente pela libertação imediata e incondicional dos reféns. Guterres repetiu no domingo que “nunca há justificativa para matar, ferir e raptar civis”.

No domingo, “pelo menos 33 caminhões” transportando água, alimentos e suprimentos médicos entraram em Gaza através da passagem de Rafah com o Egito, a maior entrega deste tipo desde que os comboios foram retomados em 21 de outubro.

Segundo o Ocha, “embora este aumento seja bem-vindo, é necessário um volume muito maior de ajuda numa base regular para evitar uma maior deterioração da terrível situação humanitária, incluindo a agitação civil”.

Durante o fim de semana, milhares de pessoas invadiram vários armazéns e centros de distribuição da Unrwa, levando farinha de trigo, produtos de higiene e outros artigos.

Ao mesmo tempo, um apagão de telecomunicações que durou mais de 24 horas isolou os habitantes de Gaza do resto do mundo e uns dos outros. 

O diretor de Operações da Unrwa, Tom White, descreveu o desenvolvimento como “um sinal preocupante de que a ordem civil está a começar a ruir após três semanas de guerra e um cerco estrito a Gaza”. 

O Ocha ressaltou mais uma vez que a entrada de combustível, que não foi permitida nos caminhões de ajuda, é “urgentemente necessária” para operar equipamentos médicos e instalações de água e saneamento.