Mundo
Inflação

Nagel diz que é cedo para falar em corte de juros

Nagel ressaltou também que o BCE só terá um quadro mais claro sobre pressões inflacionárias na zona do euro no segundo trimestre.

Compartilhe:
23 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
Nagel diz que é cedo para falar em corte de juros
Joachim Nagel, presidente do Banco Central Alemanha

Dirigente do Banco Central Europeu (BCE), Joachim Nagel disse na sexta-feira (23) que é “cedo demais” para falar em corte de juros, ainda que a hipótese “possa ser muito tentadora”. Em discurso feito em Frankfurt, na Alemanha, Nagel, que também é presidente do BC alemão (Bundesbank), argumentou que a perspectiva da inflação na zona do euro ainda não está suficientemente clara.

“Nós precisamos estar convencidos, com base em dados, que a inflação irá atingir nossa meta de maneira factual e sustentável”, disse Nagel, acrescentando que isso dependerá em boa parte do comportamento dos salários e das margens de lucro.

Nagel ressaltou também que o BCE só terá um quadro mais claro sobre pressões inflacionárias na zona do euro no segundo trimestre. Só após esse período, segundo ele, a instituição poderá “contemplar um corte de juros”.

O dirigente disse ainda que o BCE correrá o risco de não cumprir sua meta de inflação, de taxa de 2% no médio prazo, se reduzir juros antes da hora ou de forma muito intensa. “Na pior das hipóteses, poderemos até ter de aumentar as taxas de juro outra vez”, alertou.

A dirigente do Banco Central Europeu (BCE) Isabel Schnabel ressaltou na sexta-feira, 22, que o processo de desinflação da zona do euro irá desacelerar nos próximos meses. De acordo com ela, o desaparecimento dos choques de oferta e arrefecimento nos processos de energia foram os responsáveis até o momento pelo declínio acentuado da inflação, e agora devem contribuir menos para o alívio das pressões.

“Essas projeções são consistentes coma perspectiva de que a última parte da luta contra a inflação será a mais difícil. Agora, nosso trabalho realmente começa e lidaremos com a segunda rodada dos efeitos inflacionários”, afirmou Schnabel, durante evento em Milão.

Entretanto, ela pondera que ainda há possibilidade deste processo ser mais fácil do que o esperado. A dirigente comentou também sobre o mercado de trabalho apertado da zona do euro, observando que o forte avanço salarial junto a queda da produtividade pressionam os custos de mão de obra.

Schnabel espera que as margens de lucro robustas de empresas em 2024 absorvam esses custos elevados de mão de obra, mas alerta que existem riscos. “A dúvida é se empresas vão se sentir motivadas a manter um alto repasse nos preços, caso a economia volte a acelerar”, apontou, acrescentando que este cenário pode resultar em novo repique da inflação.

Schnabel demonstrou preocupação com o relaxamento das condições financeiras graças a precificação do mercado de cortes de juros em 2024, mesmo antes de os dirigentes do BCE entrarem em consenso sobre o assunto.

Ela ainda comentou sobre o mercado imobiliário europeu e notou os reflexos heterogêneos do aperto monetário no arrefecimento do setor, com um declínio mais acentuado em preços do mercado comercial na Alemanha e na Itália, contra um aumento generalizado nos preços de moradias da zona do euro.

Consumidores da zona do euro aumentaram levemente suas expectativas para a inflação nos próximos 12 meses. Segundo pesquisa divulgada pelo BCE, a taxa mediana na edição da pesquisa de janeiro do BCE mostra que a expectativa é que os preços subam 3,3% nos próximos 12 meses, ante 3,2% em dezembro.

Já para os próximos três anos, a previsão dos consumidores permaneceu estável em 2,5% no período. A meta oficial de inflação do BCE é de taxa de 2%.

Sobre crescimento econômico, os consumidores têm agora um quadro melhor para os próximos 12 meses, prevendo contração de 1,1%, ante queda de 1,3% nas expectativas de dezembro.

Atualmente, a pesquisa abrange 11 países da zona do euro, responsáveis por 96% do Produto Interno Bruto (PIB) da região. São eles: Bélgica, Alemanha, Irlanda, Grécia, Espanha, França, Itália, Holanda, Áustria, Portugal e Finlândia.