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Moraes diz que houve ‘lavagem cerebral’ na população para desacreditar a democracia

Segundo o ministro, há o crescimento de um “populismo baseado na ideologia extrema-direita”, que começou a atacar a democracia a partir de grupos extremistas

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17 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Moraes diz que houve ‘lavagem cerebral’ na população para desacreditar a democracia
O presidente do TSE, Alexandre de Moraes (e), e o ministro do STF Gilmar Mendes (d), participam do seminário “Democracia defensiva: experiência da Alemanha e do Brasil”, que foi apresentado pelo ministro do Tribunal Constitucional Federal alemão Josef Christ (c). Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, disse, em evento com representantes da Justiça da Alemanha realizado na quarta-feira, 16, que houve uma “lavagem cerebral” em grande parte da população brasileira para desacreditar as instituições democráticas.

Segundo o ministro, há o crescimento de um “populismo baseado na ideologia extrema-direita”, que começou a atacar a democracia a partir de grupos extremistas que espalham desinformações nas redes sociais.

“A partir de toda uma construção feita com base em premissas falsas, a partir de toda uma forte construção nas redes sociais, houve uma verdadeira lavagem cerebral em grande parte da população para desacreditar instituições, para desacreditar a democracia. Mas não com um discurso de acabar com a democracia, mas sim com um discurso de que os instrumentos democráticos, principalmente as eleições, estariam sendo fraudados”, disse Moraes.

Sem citar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro afirmou que esses grupos desistiram de tentar promover um golpe de Estado através de “ataques externos”, decidindo atacar as instituições democráticas “por dentro”, a partir da organização de milícias pela internet, que acusam, sem provas, a existência de fraudes no sistema eleitoral.

“Se o mecanismo estaria sendo fraudado, o resultado, consequentemente, seria uma fraude, e a democracia estaria em risco. Consequentemente, só aqueles salvadores da pátria populistas poderiam salvar a democracia”, afirmou.

Moraes participou do seminário “Democracia defensiva: experiência da Alemanha e do Brasil”, apresentado por Josef Christ, ministro do Tribunal Constitucional Federal da Alemanha. No evento, o ministro destacou a atuação do TSE como um “defensor da Constituição” e o trabalho da Corte Eleitoral nas eleições de outubro.

Na terça-feira, 15, Moraes também falou sobre a atuação do TSE para combater a desinformação contra o sistema eleitoral. Segundo o ministro, o Poder Judiciário precisou “inovar” para preservar a democracia nas eleições de 2022 com os ataques e as notícias falsas disseminadas sobre o sistema eleitoral. Para o ministro, o número de fake news propagadas na internet estavam escalando desde 2018 e chegaram a um patamar “inédito” nas últimas eleições.

Na ocasião, o presidente do TSE também relacionou esse processo com um projeto global feito por membros da “extrema-direita”. “Essa agressão se iniciou há décadas atrás com um projeto de conquista de poder de extremistas no mundo todo”, afirmou.

O ministro disse que os mecanismos de defesa da democracia precisaram ser “reanalisados” a partir de ataques golpistas. “Não se faz mais discursos golpistas de acabar com democracia, mas discursos golpistas de remodelar a democracia”, disse Moraes. De acordo com o ministro, tais ataques era “inimagináveis” há anos atrás e as instituições precisaram se adaptar.

“Houve necessidade de nova leitura institucional no sentido finalístico. Não é possível que a Constituição permita a utilização sem limites de determinadas previsões, liberdades, para que possa a própria democracia, o Estado de direito, serem rompidos”, afirmou.

Ele disse que o novo método de ataque “é muito mais nocivo do que métodos anteriores” e se baseia no “populismo que, de forma inteligente, passou a atacar a democracia internamente”.