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Minoria das cidades latino-americanas tem estudo de reação a riscos climáticos

O Estudo de Vulnerabilidade Climática permite entender como o clima afeta setores e populações, antever e solucionar riscos e problemas.

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05 de abril de 2023
Vinicius Palermo
<strong>Minoria das cidades latino-americanas tem estudo de reação a riscos climáticos</strong>
Apenas 121 municípios da América Latina e Caribe finalizaram um Estudo de Vulnerabilidade Climática que mapeia riscos atuais e futuros causados pela mudança do clima

Apenas 121 municípios da América Latina e Caribe finalizaram um Estudo de Vulnerabilidade Climática que mapeia riscos atuais e futuros causados pela mudança do clima, dentre o total de 244 cidades que reportaram informações ao CDP – maior plataforma mundial para acompanhamento de dados ambientais. Dentre as respondentes, somente 73 cidades dispõem de um plano de ação integrado, visando mitigação e adaptação, e 11 concluíram um plano de adaptação, enquanto 149 realizam 1.335 ações destinadas a enfrentar a atual realidade climática da região.

Desenvolvido pelas cidades, o Estudo de Vulnerabilidade Climática permite entender como o clima afeta diferentes setores e populações, antever e solucionar problemas, criando para isso ações de mitigação e adaptação. Segundo o levantamento do CDP junto a 244 cidades – que correspondem a 147 milhões de cidadãos, de um total de 654 milhões de moradores da região avaliada – os principais riscos e impactos identificados foram alagamentos urbanos (13%), calor extremo (11%), fortes precipitações (11%), secas (10%) e tempestades (9%). No entanto, os problemas não se limitam a esses, pois 218 cidades apontaram ainda outros 1.236 efeitos relacionados a mudanças climáticas.

Como uma das consequências mais sérias, os efeitos da emergência climática atingem diretamente a saúde da população. Das 244 cidades avaliadas, 15% identificaram como alguns dos problemas mais frequentes as infecções biológicas; 11%, infecções e doenças relacionadas à água; 11%, doenças respiratórias; 11%, problemas relacionados ao calor extremo e 8%, colapso do sistema de saúde por altas temperaturas. Até aqui, os grupos mais impactados foram famílias em situação de pobreza (20%); idosos (20%); comunidades marginalizadas e minorias (16%); crianças e adolescentes (15%); mulheres e garotas (11%).

A mudança do clima e o despreparo para lidar com suas consequências ainda podem levar a perdas econômicas de 17 trilhões de dólares na América do Sul, entre 2021 e 2070. Isso significaria, por exemplo, 18 milhões de empregos a menos em setores como agricultura, produção industrial, varejo e turismo — alguns dos que estão mais expostos e vulneráveis aos impactos.

No Brasil, o aumento de chuvas registrado nos últimos 20 anos resultou em 18 mil ocorrências de inundações, enchentes e deslizamentos, deixando mais de 6 milhões de desabrigados e desalojados, e danos de cerca de 60 milhões de reais. A mais de 9 mil km de distância do Brasil, no México, 99,7% do estado de Baja California permaneceu sob condições de seca extrema em 2022 – mesmo problema que, na Cidade da Guatemala, trouxe prejuízos no abastecimento de água potável e perda de biodiversidade das áreas úmidas, provocando a migração de moradores.

Algumas cidades reagem com ações mitigatórias. O Rio de Janeiro (BR) criou uma rede de 33 estações telemétricas que enviam dados em tempo real sobre enchentes e deslizamentos a uma central, possibilitando antever problemas.

Em Bogotá (CO), há um plano de fortalecimento da segurança alimentar, conservação dos serviços ecossistêmicos e boas práticas agrícolas e de manejo dos solos para garantir que o abastecimento alimentar da cidade seja feito sob critérios de adaptação às mudanças climáticas. Na cidade mexicana de Hermosillo, um depósito de lixo foi transformado no Parque da Esperança, com 8 mil m2 de arborização urbana, e agora conta com playgrounds, praças, quadras poliesportivas e uma área para capturar águas pluviais.

“Além de programas para acelerar a passagem para uma economia de emissões zero de gases de efeito estufa, os países precisam se adaptar a um mundo onde as alterações climáticas trarão impactos violentos na vida das pessoas e na economia”, alerta Rebeca Lima, diretora executiva do CDP. “Por conta do aquecimento global, se torna mais difícil prever os riscos de tempestades violentas ou secas extremas. Por isso, é urgente ter estratégias e planos de ação para serem colocados em prática agora ou sofreremos riscos muito mais sérios no futuro.”