O destino do Ministério do Turismo e de sua titular, Daniela Carneiro, flutuou na quinta-feira, 6, enquanto os partidos negociavam apoios ao projeto de reforma tributária. Ao fim, confirmou-se o que era dado como certo há quase um mês: Daniela deixa o posto e retorna à Câmara dos Deputados, e o partido União Brasil indica o deputado Celso Sabino (União Brasil-PA) para o seu lugar.
Daniela e o marido, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Wagner “Waguinho” Carneiro, encontraram-se à tarde com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao fim da reunião, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, trouxe a primeira versão da conversa. “Daniela permanece à disposição do governo, desempenhando sua função”, disse. Pimenta afirmou ainda que ela não entregou carta de demissão ao presidente, como era esperado.
Mais tarde, o mesmo Pimenta mudou o tom. “Não tem carta (de demissão), mas a ministra já colocou o cargo à disposição”, disse ele a jornalistas, no Palácio do Planalto. À noite, o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, divulgou nota segundo a qual, na reunião da tarde, ele e o presidente esclareceram Daniela sobre “as questões partidárias que motivam a troca no Ministério do Turismo”.
“O presidente Lula e eu nos reuniremos com o presidente e os líderes do União Brasil, em data a ser definida amanhã (sexta, 7), para receber a indicação do deputado Celso Sabino, que vai liderar a pasta do Turismo”, afirma o comunicado.
A articulação política do Planalto queria fazer a troca para melhorar a votação de projetos na Câmara, mas o desfecho não foi consolidado em razão de lenta negociação Waguinho. Nesta quarta, 5, Padilha atendeu a pedidos de verbas e obras feitos pelo prefeito de Belford Roxo. O acordo incluiria a construção de um hospital oncológico e a instalação de um instituto federal de educação no município. Naquela ocasião, teria ficado definido que Daniela se encontraria ontem com Lula para levar, pessoalmente, uma carta de demissão.
A troca no Turismo virou uma meta da articulação do governo depois de derrotas do Planalto em votações na Câmara. Com uma bancada de 59 deputados, o União Brasil foi cobrado a entregar mais votos para pautas de interesse do Executivo porque já tinha sido contemplado com três ministérios na formação do governo: Turismo, Comunicações e Desenvolvimento Regional. Mas a bancada da legenda na Câmara respondeu aos articuladores do presidente que não tinha sido responsável pela indicação de nenhum desses ministros.
Daniela é tratada como escolha pessoal de Lula, enquanto o Desenvolvimento Regional, ocupado por Waldez Góes, é considerado uma indicação do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Os dois são do mesmo Estado, e Waldez tem um histórico de militância no PDT, do qual fazia parte até o início deste ano.
Só a pasta de Comunicações – comandada por Juscelino Filho – é vista como uma premiação aos deputados do União Brasil. Para o governo, entretanto, ele se tornou uma fonte de problemas, por ter sido acusado de usar avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para compromissos pessoais em São Paulo e por manter o sogro, sem relação formal com a administração pública, despachando no ministério.
Como Daniela recorreu à Justiça Eleitoral para deixar o União Brasil e mudar para o Republicanos, o partido pressiona desde o começo de junho o Planalto para trocá-la pelo deputado Sabino. Padilha chegou a prometer que Lula faria essa mudança até o dia 21 de julho, mas a ministra conseguiu adiar o desembarque e negociar uma “saída honrosa”.
No mês passado, o marido da ministra criticou a escolha de Celso Sabino para suceder a Daniela no Turismo. “Tirar uma mulher lulista evangélica para colocar um bolsonarista? Não tem sentido algum”, disse.