A primeira ministra de Javier Milei fez uma visita oficial ao Brasil, a chanceler argentina afirmou na segunda-feira, dia 15, que seu governo não pretende intervir em questões internas do País. Na semana passada, Milei ofereceu “a ajuda que ele precisasse” ao magnata Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), no embate que ele trava com o Supremo Tribunal Federal (STF) e autoridades dos demais poderes no Brasil. Apesar da promessa, segundo ela, o governo argentino não vai interferir.
“Os temas internos e judiciários de cada país são próprios de cada país. O governo argentino não vai interferir nos processos democráticos ou nos processos judiciários de cada país. Confiamos na Justiça de cada país. Nós defendemos a liberdade de expressão em todos os sentidos”, disse a ministra de Milei, em resposta a questionamento de jornalistas no Itamaraty.
A declaração do presidente argentino, durante reunião com Musk nos Estados Unidos, soou como um endosso de Milei às acusações que o empresário tem feito ao Supremo, especialmente o ministro Alexandre de Moraes, de promover censura em redes sociais do Brasil e beneficiar Lula. Musk ameaça descumprir ordens do STF e virou alvo de inquérito sobre fake news, desinformação e discurso de ódio. O ministro e o presidente já reagiram insatisfeitos com a campanha aberta nas redes iniciada por Musk, com apoio da direita.
Milei é rival político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, um dos que levanta a bandeira de Musk. O argentino não falou diretamente sobre o caso. Mas seu porta-voz e o embaixador da Argentina nos Estados Unidos confirmaram a oferta e disseram que Musk e Milei conversaram sobre ideias de “liberdade” e que o encontro foi “amor à primeira vista”.
A ministra Mondino tampouco explicou que tipo de colaboração o presidente argentino, um ícone da direita regional, poderia oferecer em assuntos internos do Brasil, que passam por questões políticas e jurídicas.
A visita oficial da ministra foi a primeira do alto escalão do governo Milei ao Brasil e tem objetivo de estreitar as relações, discutir uma pauta ampla, e mostrar que os governos tentam trabalhar em parceria, apesar das divergências ideológicas entre os presidentes e do histórico de ofensas e provocações entre eles.
Na primeira visita oficial de Diana Mondino ao Brasil, foram discutidos temas como a infraestrutura física fronteiriça, a cooperação em energia e defesa, a melhoria da Hidrovia Paraguai-Paraná, e o fortalecimento do Mercosul e dos processos de integração regional, segundo informou o MRE.
“O Brasil e a Argentina têm uma aliança estratégica forjada ao longo das últimas décadas. Nossos governos estão comprometidos em seguir trabalhando para ampliar e aprofundar essa relação”, informou à imprensa o chefe do Itamaraty, Mauro Vieira, após o encontro.
O chanceler brasileiro afirmou que foram discutidos os projetos para modernização das pontes entre os dois países, como a Ponte São Borja-São Tome, e para construção do gasoduto desde Vaca Muerta, na Argentina, até o Brasil, para o transporte de gás natural.
“Além de intercambiar percepções sobre perspectivas gerais das relações bilaterais, examinamos, numa conversa privada, os processos de integração regional em curso e a situação da região”, completou Vieira.
A chanceler argentina Diana Mondino destacou que, mesmo com a mudança do governo em Buenos Aires, os projetos entre Brasil e Argentina devem prosseguir.
“Todos os projetos entre Brasil e Argentina são independentes e superiores quem quer que esteja dirigindo os destinos de ambos os países”, destacou Mondino, ressaltando que o Brasil é central para a Argentina.
“Nossa relação bilateral se há constituído em uma verdadeira política de Estado, para ambos os países, para Argentina com toda certeza”, completou a chanceler do país vizinho.