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Racismo

Ministra Anielle Franco cobra posicionamento da liga espanhola sobre Vini Jr

Anielle Franco informou que entrará em contato com as autoridades espanholas para saber qual será o próximo passo das investigações.

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22 de maio de 2023
Vinicius Palermo
Ministra Anielle Franco cobra posicionamento da liga espanhola sobre Vini Jr
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, durante lançamento de grupo de trabalho para elaborar a Política Nacional de Cuidados Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, disse na segunda-feira (22), em Brasília, que entrará em contato com autoridades espanholas para cobrar, do governo da Espanha e da liga espanhola de futebol, ações efetivas contra o racismo praticado contra o jogador de futebol brasileiro Vini Jr, que atua no Real Madrid.      

No domingo (21), o atleta escutou insultos racistas e gritos de “macaco” vindos das arquibancadas – no caso, da torcida do Valência. O Valência venceu o Real Madri por 1 a 0, no Estádio Mestalla.

Ainda durante o jogo, o brasileiro – revelado pelo Flamengo – foi o único expulso pelo árbitro De Burgos Bengoetxea, após uma confusão com jogadores do Valência.

‘Quero prestar minha solidariedade ao Vini Jr e dizer que a gente está junto”, disse a ministra, após participar, no Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), da cerimônia de lançamento do Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), que irá elaborar a proposta da Política Nacional de Cuidados.

Anielle Franco informou que entrará em contato com as autoridades espanholas para saber qual será o próximo passo das investigações sobre o caso, e que cobrará ações efetivas para os casos similares que há tempos ocorrem no campeonato espanhol – conhecido como La Liga.

“A gente já soltou uma nota com vários ministérios do governo federal, mas agora a gente vai para cima das autoridades espanholas, de forma oficial. O histórico não é bom. É bem racista. Quiseram inclusive colocar o Vini como sendo culpado. Estamos aqui para enfrentar isso em conjunto”, argumentou a ministra.

Ela lembrou que o histórico da La Liga mostra que casos como esse já tinham ocorrido, e que a entidade não tem se posicionado.

“É inadmissível que culpem o Vinícius. Por isso, a gente vai, por meio do Ministério Público espanhol, notificar as autoridades para que investiguem a La Liga e todos os outros casos. Não dá para a gente ficar só na coisa do ‘repudiamos’, em uma nota, sem ação concreta. Então, a gente agora vai para cima com o Ministério Público de lá, para que eles sejam notificados, investigados e para que respondam pelos seus atos”, complementou, ao informar que aguarda também posicionamento direto do governo daquele país.

A ministra das Relações Exteriores substituta, a embaixadora Maria Laura da Rocha, considerou abjetos os atos de racismo contra o jogador.

A embaixadora destacou a recorrência dos atos de racismo. “Espanta a persistência dos crimes que são cometidos contra o atleta brasileiro, contra todos os afrodescendentes, e sim, contra toda a humanidade a cada cântico e a cada gesto racista lançado contra o jogador”.

A declaração foi dada pela embaixadora Maria Laura na segunda-feira (22), durante a abertura do seminário Brasil-África: relançando parcerias, no Palácio Itamaraty, em Brasília. O evento faz parte das comemorações do Dia da África, na próxima quinta-feira (25).

Sobre a expulsão do jogador brasileiro ao se envolver em uma confusão generalizada em campo, durante o jogo entre os times espanhóis Real Madrid e Valência, no Estádio Mestalla, a ministra do MRE substituta lamentou o ocorrido a uma plateia formada, sobretudo, por representantes de países africanos. “Ontem (domingo), na partida, Vinícius Junior levou um cartão vermelho por não ter aguentado tudo aquilo. Lamento muitíssimo”.

“O cartão vermelho deve ser dado ao racismo”, acrescentou.

Desde o ocorrido, o atleta tem recebido apoio de autoridades do Brasil, personalidades do esporte e colegas do clube espanhol.

O governo brasileiro divulgou, no início da tarde de segunda-feira (22), nota conjunta à imprensa de repúdio aos ataques racistas. Assinam a nota os Ministérios das Relações Exteriores, da Igualdade racial, da Justiça e Segurança Pública, do Esporte e dos Direitos Humanos e da Cidadania. 

O governo federal lamentou profundamente ao governo da Espanha que “até o momento, não tenham sido tomadas providências efetivas para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo”. 

E cobrou urgência na adoção de medidas sobre a recorrência dos casos de racismo cometidos contra atleta, naquele país. “Insta as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos.” 

As instituições citadas no texto são a Federação Internacional de Futebol (Fifa), a Federação Espanhola e LaLiga.

No documento, o governo brasileiro esclareceu que atua em cooperação com o governo da Espanha para coibir, reprimir e promover políticas de igualdade racial e compartilhar conhecimento e boas práticas para ampliar o acesso de pessoas afrodescendentes e imigrantes ao esporte, mas sem tolerância a toda e qualquer ato de discriminação. 

Os ministérios terminam a nota dando apoio ao aperfeiçoamento das melhores práticas internacionais para promover a prevenção e o combate ao racismo e a qualquer tipo de discriminação nas diferentes modalidades de esportes. 

Em publicação em rede social, neste domingo, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, cobrou uma postura mais firme de entidades esportivas, governos, da imprensa e de patrocinadores. Silvio Almeida criticou a posição do presidente de La Liga, Javier Tebas. “Em vez de se solidarizar com Vini Júnior, o presidente de La Liga resolve atacar o atleta pelas redes sociais. Para além do destempero do cartola, seria o caso de se perguntar como as empresas que patrocinam a La Liga se posicionam”, afirmou o ministro. 

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, prestou solidariedade ao jogador atacado e exigiu ações concretas dos empresários que financiam eventos futebolísticos. “Isso é deplorável, inaceitável e deve ter consequências. Espero que essas empresas façam alguma coisa de sério e efetivo sobre o inaceitável e reiterado racismo contra Vinicius Júnior”. 

O Ministério da Igualdade Racial afirmou em seu perfil no Twitter que o Brasil vai notificar oficialmente as autoridades espanholas e a La Liga, responsável pelo torneio de futebol profissional espanhol. “O Governo brasileiro não tolerará racismo, nem aqui, nem fora do Brasil! Trabalharemos para que todo atleta brasileiro negro possa exercer o seu esporte sem passar por violências”. A ministra Anielle Franco indignou-se: “Inaceitável! O peito chega aperta de tanta indignação! Até quando teremos que lidar com isso!? Chega de racismo!”  

O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, no Twitter, considerou inaceitáveis os ataques racistas sofridos por Vini Junior. “O racismo deve ser combatido ativamente e rechaçado em todos os cantos do mundo”. 

Em nota, a La Liga, liga de futebol profissional de clubes da Espanha, informou que solicitou todas as imagens disponíveis para investigar o ocorrido. “Concluída a investigação, caso seja detectado um crime de ódio, a La Liga passará a tomar as medidas legais cabíveis”.