Economia
Arcabouço fiscal

Mercado não prevê mudanças nos juros

Para Daniel Biolo, especialista em investimentos e mercado, o avanço do arcabouço fiscal não deve representar uma mudança para o Copom.

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21 de março de 2023
Vinicius Palermo
Mercado não prevê mudanças nos juros
Daniel Biolo, especialista em investimentos e mercado e sócio da GT Capital

Na quarta (22), acontece a Super Quarta com decisões importantes a serem definidas sobre juros pelo FED (Federal Reserve), nos EUA, e Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), no Brasil. Enquanto isso, Fernando Haddad, ministro da Fazenda, afirmou na segunda-feira (20) que irá se reunir nos próximos dias com a cúpula do Legislativo e com economistas não ligados ao mercado para apresentar a proposta do novo arcabouço fiscal.

Para Daniel Biolo, especialista em investimentos e sócio da GT Capital, mesmo o avanço do arcabouço fiscal não deve representar uma mudança para as próximas decisões do Copom. “A maioria das medidas sugere pouca efetividade no controle dos gastos públicos. É possível que este pacote ajude a conter parte do déficit público, sendo assim combatendo pouco a questão fiscal e sem redução da inflação (hoje bem acima da meta), o que abre pouco espaço para o BC baixar os juros apenas em função do arcabouço fiscal”, afirma Biolo.

O especialista também acredita que o Banco Central deve se manter cauteloso em manifestar qualquer previsão na redução da taxa de juros, muito em função do cenário inflacionário doméstico, juros globais e também pela incerteza no mercado de crédito brasileiro: “Levando em consideração os fundamentos, não vemos espaço para taxa cair ainda este ano”.

Já Lucas Caumont, estrategista de investimentos da Matriz Capital, acredita que é possível que o Banco Central deixe claro no comunicado alguma sinalização sobre a queda na taxa de juros caso o arcabouço fiscal se mostre fiscalmente responsável: “Caso contrário, não tem como esperarmos que a taxa SELIC cairá no curto prazo”.

Para Caumont, dependendo das medidas do arcabouço fiscal, o mercado pode se estressar, e por consequência, a curva de juros voltar a abrir. “Lula não poupa esforços para atacar o teto de gastos, e culpa o teto pela falta de investimento público no país. Então, se forem apresentadas medidas possibilitando gastos excessivos, e de certa forma uma irresponsabilidade fiscal, ainda poderemos ver a taxa de juros se mantendo por mais tempo no mesmo patamar. Agora, se forem apresentadas medidas de controles de gastos e preocupação com a política fiscal, o risco de descontrole da inflação diminui muito possibilitando uma queda na taxa Selic de forma saudável”, comenta.

A pressão do governo para uma diminuição de juros é grande, segundo Apolo Duarte, planejador financeiro e sócio da AVG Capital. Mas, de acordo com ele, não haverá uma queda de juros nessa próxima reunião.

“Por outro lado, podemos ter uma sinalização de início de queda para as próximas reuniões. O mercado não espera por queda de juros agora em março, mas existe expectativa em relação ao comunicado sobre uma possível queda de juros mais para frente. É possível que possamos ver essa queda no terceiro trimestre, por volta de setembro. O comunicado pode deixar alguma pista para o investidor sobre se vai ter algum sinal de queda de juros para frente. Essa chacoalhada que tivemos nesses últimos dias com quebra de bancos pode também influenciar no tom do comunicado”, diz Duarte.

Carlos Hotz, sócio-fundador da A7 Capital, não acredita em uma queda de juros pelo Copom nesta próxima reunião, mas diz que, em comunicado, o comitê poderá já indicar alguma diminuição mais à frente na taxa:

“As decisões tomadas pelo FED impactam nos bancos centrais de todo o mundo. Então, se a gente tem o FED sinalizando um aumento de juros menor do que o mercado esperava, temos outros bancos centrais trabalhando com um spread, um diferencial de taxa de forma mais atrativa. Isso também pode significar uma proximidade de boa intenção entre economia e Campos Neto. Com isso, a gente pode ter Copom não reduzindo juros, mas já trazendo a pauta de eventual redução para próximas reuniões. Com isso, a taxa de juros negociada no mercado vai trabalhar sempre com um nível menor”.

Diante disso, os ativos prefixados são uma opção de investimento vantajosa nesse contexto, segundo Hotz. “Travar a taxa em um momento em que a Selic está muito elevada e vendo já um movimento de inversão de ciclo pode ajudar o investidor a ter a rentabilidade de taxas altas por um período maior, mesmo que aconteça uma redução de juros nos próximos meses”, comenta.

Bruno Piacentini, economista e professor da Eu me banco, acredita que os títulos pós-fixados são boas opções para o investidor, que muitas vezes, só olha para esse título como reserva de emergência por conta de sua liquidez e baixo risco de mercado: “Os títulos atrelados a taxa CDI não possuem o mesmo risco de marcação a mercado que os títulos prefixados e, com os juros altos, são uma ótima opção de rentabilidade”.

Por outro lado, Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos e pós-graduado em análise financeira, é um bom momento para começar a comprar ativos prefixados aos poucos. “Minha sugestão é ir devagar e comprar aos poucos. Se esperar Selic cair, pode perder taxas altas, pois o mercado já terá precificado a queda de juros. Outra saída é comprar LCIs e LCAs que pagam de 95 a 100% por um ano. São ótimos porque não têm desconto de imposto de renda. Agora, abaixo de 95%, é furada”, comenta.