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Mercadante diz que País deve se reindustrializar

Para Mercadante, o Brasil pode se beneficiar da reorganização das cadeias de valor industriais neste momento de reglobalização.

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20 de março de 2023
Vinicius Palermo
Mercadante diz que País deve se reindustrializar
Mercadante discursou na abertura do seminário "Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI", promovido pelo BNDES em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Crédito: Antônio Cruz -Agência Brasil

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, afirmou na segunda-feira, 20, que não se deve aceitar a tese de que o Brasil não pode retomar o crescimento industrial. Mercadante discursou na abertura do seminário “Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI”, promovido pelo BNDES em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Ele defendeu de forma enfática o envolvimento do BNDES nas discussões sobre a retomada do crescimento industrial e na reavaliação da relação entre mercado e Estado. “Não podemos aceitar a tese de que o Brasil não tem como se reindustrializar. Era assim durante quatro séculos, quando éramos exportadores de commodities. Mas já tivemos uma base industrial diversificada”, disse Mercadante, ao lamentar o encolhimento da participação da indústria nacional no PIB nas últimas décadas.

“O BNDES voltou com tudo. Não vamos só pensar, mas executar. É ingenuidade achar que vamos nos reindustrializar (o País) sem a participação do Estado e sem banco público, como o BNDES. Vamos fazer isso junto com o setor privado, que tem papel de financiar o desenvolvimento. Podemos complementar e estar à frente nessa perspectiva de desenvolvimento industrial”, completou.

Segundo Mercadante, o mundo desenvolvido, no que citou Estados Unidos e Europa, está fazendo política industrial e repensando a relação Estado-mercado, o que deve acontecer também no Brasil. “Não temos a mesma margem de manobra dos EUA, mas esses países estão fazendo política industrial. O Brasil precisa olhar para essas experiências”, disse.

Para Mercadante, o Brasil pode se beneficiar da reorganização das cadeias de valor industriais neste momento de reglobalização, após a pandemia e, agora, guerra na Ucrânia. “Temos um novo desafio geopolítico. O Ocidente quer rever sua relação com a Ásia e o Brasil pode aproveitar para atrair novos investimentos”, disse. Em sua leitura, esse reposicionamento seria um primeiro desafio para o País.

Depois, afirmou, é preciso estar atento à corrida tecnológica associada às mudanças climáticas, quando os países ricos financiam energia renovável e setores auxiliares, como o de baterias e microprocessadores a juro baixo.

Ele lembrou que o Brasil ainda tem potencial a explorar em energia solar e eólica no Nordeste, que definiu como “pré-sal” dessas modalidades. Ele citou especificamente as possibilidades em energia solar fotovoltaica e citou a Alemanha que já financia plantas de hidrogênio verde a juro zero. “Nossos juros são altos”, reclamou.

Em consonância com o novo governo, Mercadante ainda prometeu combater desmatamento dentro do banco, com bloqueio de financiamentos a iniciativas que carreguem essa mancha.

Segundo Mercadante, o Banco vai trabalhar ao lado da Confederação Nacional da Indústria e da Fiesp a fim de pensar como esse caminho da reindustrialização pode ser facilitado. “Essa é uma relação que veio para ficar”, disse.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, disse que qualquer estratégia sustentável para o desenvolvimento nacional passa por uma nova industrialização do Brasil. Ele reconheceu que a indústria de transformação está menos produtiva, mas justificou que o setor foi penalizado pela elevada carga tributária e taxas de juros altas, problemas que precisam ser equacionados para que o segmento recupere “o protagonismo que se perdeu ao longo das ultimas três, quatro décadas”.

Segundo ele, a indústria gostaria ter o mesmo tratamento de políticas de estímulo que a agricultura, por exemplo, e defendeu que haja, pelo menos, uma “tributação isonômica a todos os outros setores”.

“É inconcebível a atual taxa de juros no Brasil”, disse Josué, refutando que seja consequência de um problema fiscal, durante o seminário “Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI”, promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e com a Fiesp.

Segundo ele, a taxa de juros no Brasil atualmente é “pornográfica”. “Não temos mais restrição externa, mas criamos nova restrição interna”, queixou-se Josué. “Se não baixarmos os juros não vai adiantar fazer política industrial.”