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Membro do Fed evita descartar nova alta de juros

O presidente da distrital do Federal Reserve em Minneapolis, Neel Kashkari, evitou descartar a possibilidade de a autoridade monetária voltar a subir juros.

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07 de maio de 2024
Vinicius Palermo
Membro do Fed evita descartar nova alta de juros
O presidente da distrital do Federal Reserve em Minneapolis, Neel Kashkari

O presidente da distrital do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em Minneapolis, Neel Kashkari, evitou descartar a possibilidade de a autoridade monetária voltar a subir juros. “Não é o cenário mais provável, mas não posso descartá-lo”, afirmou, em painel durante fórum do Milken Institute.

O dirigente, que não vota nas reuniões deste ano do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), disse esperar que o banco central americano mantenha a taxa básica inalterada por mais tempo.

Para ele, a instituição deve ser “paciente” para avaliar a totalidade dos indicadores econômicos. Kashkari lembrou que, em março, projetava dois cortes de juros para 2024.

O dirigente explicou que ainda não sabe se manterá essa previsão e que pode reduzi-la para apenas um ou nenhum, a depender da evolução dos dados.

Kashkari reconheceu que o relatório de emprego dos Estados Unidos (payroll) em abril veio “mais fraco que o esperado”, mas ressaltou que o mercado de trabalho norte-americano ainda exibe resiliência.

O dirigente disse que, após dois meses de indicadores “ruins” de inflação, o Fed não pode se deixar enganar por um único mês que mostre os preços caminhando “na direção correta”. “Temos que ver múltiplas leituras boas de inflação”, destacou.

Kashkari reforçou compromisso com a meta de 2% de inflação. Para ele, os índices de preços na casa dos 3% representam um foco de preocupação.

O dirigente assegurou que o Fed não será influenciado pelas eleições ou pela política, com contínuo foco na evolução dos indicadores econômicos. Na visão dele, a política monetária tem tido efeito na economia, embora não tão forte quanto esperado. Ele reforçou ainda que a barra para subir juros agora está bem elevada, “mas não infinita”.

O presidente do Federal Reserve disse que elevou “modestamente” sua perspectiva sobre a taxa neutra de juros nos EUA, de 2,0% a 2,5%, no gráfico de pontos que os dirigentes divulgam a cada duas reuniões de política monetária. Kashkari argumentou que a possibilidade de o mercado estar precificando incorretamente o nível dos juros neutros explicaria o porquê de a atividade econômica americana continuar resiliente diante do ciclo de aperto monetário.

“É claro que os meus colegas e eu estamos muito satisfeitos com o fato de o mercado de trabalho ter se mostrado resiliente, mas, com a inflação no trimestre mais recente andando de lado, levantam-se questões sobre o quão restritiva realmente está a política”, escreveu Kashkari.

O dirigente apontou que o progresso na desinflação visto no segundo semestre de 2023 parece ter estancado no primeiro trimestre de 2024.

“A questão que enfrentamos agora é se o processo desinflacionário ainda está em curso, e apenas levando mais tempo que o esperado, ou se a inflação está estacionando em cerca de 3%, sugerindo que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) tem mais trabalho a fazer”, disse ele, acrescentando que o mercado de trabalho também permanece forte, com a taxa de desemprego em 3,9%.

Kashkari observou que a posição da curva de juros atual, que está invertida, sugere que os mercados percebem o nível da política monetária como restritiva em relação ao patamar neutro. Porém, a resiliência do mercado imobiliário – um dos setores mais sensíveis às mudanças de juros – frente à curva invertida chama a sua atenção. “Talvez a taxa neutra para o mercado de trabalho esteja mais alta do que antes da pandemia”, levantou.

Os dados da economia real dão sinais mistos, disse Kashkari: alta na inadimplência sugere que consumidores estão estressados com os juros altos, ao passo que a atividade econômica, os gastos com consumo e o mercado de trabalho se provaram resilientes.