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Marçal rebate Bolsonaro nas redes: ‘se não existe nós, devolva os R$ 100 mil’

A troca de farpas entre o candidato à prefeitura e o ex-presidente ocorreu no perfil do Instagram de Bolsonaro no início da tarde de quinta-feira, 22.

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22 de agosto de 2024
Vinicius Palermo
Marçal rebate Bolsonaro nas redes: ‘se não existe nós, devolva os R$ 100 mil’
Ex-aliado de Bolsonaro, Marçal provocou o ex-presidente.

O candidato à Prefeitura de São Paulo, empresário e ex-coach, Pablo Marçal (PRTB), protagonizou um bate-boca com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu até então aliado político e a quem Marçal buscou apoio diversas vezes para sua campanha. A troca de farpas ocorreu no perfil do Instagram de Bolsonaro no início da tarde de quinta-feira, 22.

O empresário comentou em uma postagem de Bolsonaro com a frase: “Pra cima capitão. Como você disse: eles vão sentir saudades de nós”. Em poucos minutos, Bolsonaro respondeu: “Nós? Um abraço”.

Marçal rebateu a invertida do ex-presidente e, numa tréplica, publicou um “textão”: lembrou Bolsonaro que doou R$ 100 mil para a sua campanha de reeleição à Presidência em 2022, além de tê-lo ajudado nas estratégias digitais, fazendo Bolsonaro gravar “mais de 800 vídeos” no Palácio do Planalto.

Apesar do constrangimento público, o ex-coach resolveu aproveitar o embate como material de campanha. A assessoria de imprensa dele compartilhou prints das mensagens, capturados segundos depois da resposta ser enviada, na lista de transmissão com jornalistas, dando destaque à polêmica: “Pablo Marçal e Jair Bolsonaro discutem em postagem do Instagram”.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), um dos filhos do ex-presidente, também entrou no entrevero. Na postagem, o filho “03” saiu em defesa do pai, questionando Marçal sobre a campanha presidencial de 2022, quando o empresário disse, segundo ele, que a diferença entre Lula e Bolsonaro “é que um dele tem um dedo a menos”.

“Só acordou agora? Tá parecendo até o Mourão”, cutucou o deputado. Nesta manhã, Marçal publicou uma foto com o filho do presidente em seu perfil no X (antigo Twitter), afirmando que o deputado federal será “o nosso senador em 2026”.

Em outra rede social, o advogado da família entrou na discussão, saindo em defesa de Bolsonaro sobre as alegações de Marçal referente a supostos valores doados na campanha presidencial. Fabio Wajngarten escreveu em seu perfil do X que o ex-presidente “não pediu doação para ninguém durante o período eleitoral”, disparando que assessores que “ora acompanham candidatos que buscam se valer de atributos do presidente” deveriam “proteger a marca ‘Bolsonaro'”.

O desempenho de Marçal nas pesquisas e nas redes sociais provocou um temor entre bolsonaristas de que ele pode atrapalhar os planos do grupo para a eleição ao Senado. A avaliação é que o ex-coach busca utilizar o pleito municipal para se cacifar como postulante a uma das duas vagas que estarão em disputa em 2026. A aliados, Marçal tem dito que seu foco é o Executivo e que não deseja ser senador.

Na publicação de quinta, o candidato do PRTB criticou Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, dizendo que o dirigente “não representa o anseio dos conservadores de São Paulo”. “Já que o PL tirou o (Ricardo) Salles, assistam o que nós iremos fazer aqui na capital do futuro. Deixa que eu resolvo aqui”, afirmou Marçal, referindo-se à pré-candidatura a prefeito do ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro, que acabou “rifada” pelo PL em prol de um acordo para indicar o vice na chapa à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

A publicação de Pablo Marçal visa abafar as críticas dirigidas contra ele pelo clã Bolsonaro. O ex-presidente iniciou uma ofensiva contra o candidato do PRTB nesta manhã, ao acionar grupos de apoio no Telegram com uma coletânea de trechos com críticas do influenciador a Jair Bolsonaro.

Eduardo atacou Marçal nesta semana depois que ele desmarcou uma entrevista com o comunicador Paulo Figueiredo, chamando-o de “arregão”. O filho do ex-presidente também gravou uma série de vídeos ao lado de Nunes, com o objetivo de reforçar que o emedebista é o candidato da família Bolsonaro e compartilha os valores do bolsonarismo.

A eleição para o Senado em 2026 é uma das prioridades do PL e da base de apoio a Jair Bolsonaro. No pleito de 2022, a sigla do ex-presidente elegeu a maior bancada de senadores do País. Naquela eleição, a renovação era de um terço do Senado; na próxima votação, cada Estado elegerá dois novos senadores.

Eduardo Bolsonaro foi lançado como pré-candidato ao Senado por Valdemar Costa Neto em um evento em Campos do Jordão (SP) na semana passada. O outro candidato bolsonarista seria o atual secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), que conta com o apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Como candidatos bolsonaristas já obtiveram bons resultados na eleição passada, o PL estima repetir o desempenho no pleito seguinte e aumentar ainda mais seus representantes na Casa, pois é no Senado que uma das pautas mais caras ao bolsonarismo pode avançar: o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo a Constituição, ministros do supremo só podem ser afastados do cargo antes da aposentadoria compulsória mediante aval dos senadores. Diferentemente do impeachment contra presidentes da República, o processo que pode destituir um ministro do STF é iniciado pelo Senado – e não pela Câmara, como ocorre com os chefes do Executivo federal.

O quórum para a aprovação da medida, contudo, é alto, de dois terços da Casa, o que equivale a 54 dos 81 senadores. O ex-ministro-chefe da Casa Civil de Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), já afirmou que, daqui a dois anos, o quórum de bolsonaristas no Senado pode atingir esse índice.

“Dá até para discutir se Lula, Bolsonaro ou Tarcísio vão ganhar (a eleição à Presidência), mas que a direita vai ter ampla maioria no Senado a partir de 2026, isso ninguém tem dúvida. Bolsonaro vai eleger em torno de 38 a 41 senadores, somado aos 15 que já são aliados a ele, imagina a força política de ter 54 senadores a partir de 2026?”, afirmou o parlamentar em entrevista ao portal UOL.

Segundo Ciro Nogueira, uma das pautas que pode avançar a partir da nova composição do Senado é uma anistia a Jair Bolsonaro, que, além de inelegível por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), já foi indiciado no inquérito da fraude do cartão de vacina e no caso das joias.