País
Biodiversidade

Macron diz que seria ‘louco’ fechar acordo Mercosul-UE sem ajustes no texto

O presidente da França, Emmanuel Macron, voltou a criticar a atual redação do acordo Mercosul-União Europeia

Compartilhe:
28 de março de 2024
Vinicius Palermo
Macron diz que seria ‘louco’ fechar acordo Mercosul-UE sem ajustes no texto
O presidente da França, Emmanuel Macron, é recebido pelo presidente Luiz Inácio lula da Silva, em cerimônia oficial no Palácio do Planalto. Foto: Fabio Rodrigues- Pozzebom/Agência Brasil

O presidente da França, Emmanuel Macron, voltou a criticar a atual redação do acordo Mercosul-União Europeia e a desatualização do tratado em relação às diretrizes de sustentabilidade. Na avaliação do líder francês, o país não é “louco” de fechar um tratado que contempla pontos divergentes em relação à atual política da nação europeia.

“Esses acordos são um freio em relação ao que estamos fazendo para retirar o carbono das economias e para lutar em prol da biodiversidade. Nós, europeus, temos o texto mais exigente do mundo em relação a desmatamento e descarbonização”, disse em declaração à imprensa após reunião bilateral com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira, 28.

“Pedimos aos nossos agricultores, industriais que façam transformações históricas. Mas se os nossos textos dizem: ‘Vamos abrir para produtos que não respeitam estes acordos’? Somos loucos? Não vai funcionar”, acrescentou o líder francês.

Macron reiterou a crítica e disse que “somos todos loucos” pelo fato de ambos os blocos insistirem em acordos como eram feitos há anos. “Quero recordar aqui que esse texto entre União Europeia e Mercosul é de um acordo negociado e preparado há 20 anos. Estamos só fazendo pequenas alterações. Estamos loucos continuando nessa lógica e paralelamente dizendo no G20 e na COP, biodiversidade, vamos fazer isso, fazer aquilo”, afirmou.

O presidente da França defendeu o posicionamento do Brasil em relação à crise na Venezuela. Em sua avaliação, desde o início, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma “ótima posição” em relação à situação do país vizinho.

“Sobre crise na Venezuela, faço questão de citar, desde o início, o presidente Lula teve uma ótima posição”, disse. De acordo com Macron, foi discutida uma iniciativa com a qual ambos concordam para que se encontre uma saída para a crise. A mesma concordância de ideias, segundo ele, ocorreu também em relação à crise no Haiti.

O presidente da França elogiou o trabalho do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, na reconstrução da democracia brasileira e citou os ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes em Brasília. Na avaliação do líder francês, o governo brasileiro conseguiu “resistir” às forças extremas.

“A maneira como o Brasil conseguiu reconstituir os equilíbrios da democracia e levar a cabo esse combate internacional significa muitíssimo para nós”, disse. De acordo com Macron, há admiração e amizade por parte da França em relação ao Brasil.

“Ninguém está a salvo de forças muito extremas que vêm estremecer a democracia, e a força da democracia do Brasil foi de resistir a isso”, complementou. “Me sinto imensamente honrado de estar aqui ao seu lado”.

Macron disse que a França irá se reunir às iniciativas contra garimpo ilegal e contrabando de ouro. Na esteira de um trabalho em conjunto entre os dois países, o líder francês convidou Lula para uma visita de Estado à nação europeia em 2025.

O presidente Lula voltou a criticar a postura do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) diante das guerras na Ucrânia e em Gaza, o que chamou de “paralisia alarmante e inexplicável”. Ao defender o cessar-fogo nos conflitos, Lula rechaçou manifestações antissemitistas e islamofóbicas e afirmou que seguirá trabalhando para que a América Latina seja uma região sem conflitos.

“A paralisia do Conselho de Segurança frente às guerras na Ucrânia e em Gaza é alarmante e inexplicável. As teses que questionam a obrigatoriedade do cumprimento da recente determinação de cessar-fogo em Gaza durante o Ramadã corroem mais uma vez a autoridade do Conselho”, disse, em declaração à imprensa após reunião bilateral com o presidente da França, Emmanuel Macron, na quinta-feira, 28.

“Falar em um mundo baseado em regras que não são multilateralmente acordadas significa retroceder séculos.”

De acordo com Lula, no encontro, o Brasil reiterou a “crença inabalável” do País no diálogo e defesa da paz. “Meu governo seguirá trabalhando com afinco para que a América Latina e Caribe continuem sendo uma zona sem conflitos, onde prevaleça o diálogo e o direito internacional”, reiterou o líder brasileiro.

Lula voltou a defender a posição brasileira contra qualquer manifestação de antissemitismo e islamofobia. Na avaliação do petista, “não podemos permitir que a intolerância religiosa se instale entre nós”.